Bebés “treinam” o choro dentro da barriga das mães

Equipa de cientistas analisou ecografias de fetos que mostraram expressões de desconforto que podem apenas servir para desenvolver o cérebro.

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Imagens captadas com ecografias a quatro dimensões de um feto de 32 semanas com uma expressão de desconforto Universidade de Durham

Decididamente, a equipa da Universidade de Durham (Inglaterra), liderada por Nadja Reissland, anda a “espiar” os bebés que estão ainda nas barrigas das mães. Em Novembro do ano passado, mostraram que os fetos eram capazes de bocejar várias vezes, não por sono ou aborrecimento, mas usando esta forma de expressão para desenvolver o cérebro. Agora, num trabalho com a Universidade de Lancaster publicado na revista PLOS One, viram também que os bebés treinam as expressões faciais da sua poderosa arma de chamamento – o choro – quando ainda estão no útero da mãe.

Nadja Reissland revela que os bebés são capazes de mostrar uma expressão semelhante a um sorriso, mas também um franzir de sobrancelhas e um enrugar do nariz próprio de um desconforto que vai desatar num choro. Não se sabe ainda se de facto os fetos estão a expressar algo que estão a sentir – um bem-estar ou um desconforto – ou se, de facto, se trata de um treino para comunicar cá fora, quando e se necessário. De acordo com Nadja Reissland, em declarações à BBC, a pesquisa parece indicar que estes movimentos faciais estarão associados ao desenvolvimento e maturação do cérebro (tal como acontecia com os bocejos) e não serão uma consequência de algo que estão a sentir. Ou seja, a observação desta manifestação pode vir a ser usada como mais um indicador da saúde do feto.

O estudo envolveu ecografias a 4D realizadas a oito fetos do sexo feminino e nove do sexo masculino. As expressões mais simples foram detectadas às 24 semanas de gravidez, com um movimento dos lábios que indica um esboçar de um sorriso. As mais complexas expressões de desconforto – uma testa e um nariz franzido  – foram vistas pelas 36 semanas de gravidez. Um treino, dizem uns cientistas, para o choro ou “choraminguice” que se vai ouvir cá fora quando nascem e querem pedir alguma coisa.

É mais um passo do projecto que tem mostrado como as expressões faciais dos bebés se desenvolvem e tornam mais complexas durante a gravidez. “É vital que os bebés consigam mostrar que sentem dor o mais cedo possível após o nascimento para conseguirem comunicar o desconforto os seus cuidadores e os nossos resultados mostram que os fetos saudáveis 'aprendem' a combinar os movimentos faciais necessários para isso antes de nascerem”, constata Nadja Reissland.

Segundo adianta no comunicado da instituição, o estudo mostra que através da análise destas expressões será possível detectar o normal desenvolvimento e potencialmente identificar algum problema, caso não sejam manifestadas. O estudo deverá prosseguir e procurar perceber se estas expressões e movimentos são de alguma  afectadas (atrasadas?) quando os bebés no útero são expostos, por exemplo, ao fumo e/ou ao álcool consumido pelas mães.  
 

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