A mesquita que recebeu a extrema-direita com chá e biscoitos

Era para ser mais um protesto à porta de uma mesquita por causa da morte do soldado Lee Rigby. Mas transformou-se num exemplo para o mundo.

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"Mantenha a calma e beba chá" DR

Dezenas de mesquitas no Reino Unido foram atacadas ou vandalizadas nos dias que se seguiram ao assassinato brutal de um soldado britânico numa rua de Londres, por dois homens que justificaram o seu acto como uma vingança pelos muçulmanos que foram mortos pelo exército britânico no Iraque e no Afeganistão

A tensão está longe de abrandar e já para este sábado estão previstas manifestações dos grupos de extrema-direita em todo o país. Mas foi neste cenário de crispação que aconteceu uma história singular de coragem e de conciliação. E ao melhor estilo inglês teve tudo a ver com chá.

Quando os apoiantes da English Defense League (EDL), movimento de extrema-direita, convocaram uma manifestação à porta da pequena mesquita de York (cerca de 300 quilómetros a norte de Londres) no passado domingo, os frequentadores da mesquita decidiram contra-atacar oferecendo aos manifestantes chá, biscoitos e, quem sabe, uma partidinha de futebol.

Não é que os manifestantes fossem em grande número. O Guardian diz que não chegavam a uma dezena, mais a sua bandeira nacionalista de São Jorge. À espera tinham uma centena de fiéis muçulmanos e apoiantes da mesquita, incluindo o padre anglicano da igreja local.

“Fomos lá fora e oferecemos-lhe chá e biscoitos, alguns de nós estivemos à conversa com os manifestantes durante uns 30 ou 40 minutos, um jogo de futebol acabou por acontecer e depois convidámo-los para entrarem na mesquita. Foi realmente uma coisa muito bonita”, contou à BBC o íman Abdil Salik.

Tom Jones, o padre anglicano que esteve no local, elogiou a coragem física e moral dos fíeis da mesquita de York. “Acho que o mundo podia aprender com o que aconteceu ali”:

Leanne Staven, uma das manifestantes, explicou ao Guardian que não tinha ido para a porta da mesquita para causar confusão mas sim para fazer ouvir a sua voz porque sente cada vez mais que não pode falar livremente. A quem a quis ouvir defendeu “restrições para que as pessoas não aprendam comportamentos extremistas”. E foram muitos os que concordaram com ela.

“O diálogo é possivel” concluiu Mohammed el-Gomati, professor da Universidade York. “Descobrimos que estamos preparados para concordar que o extremismo violento é errado”.

“É por aqui que temos de começar. Talvez a EDL nos convide para um evento e talvez a comunidade muçulmana seja generosa ao ponto de aceitar o convite”, arriscou o professor universitário.

 

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