CDU alerta para risco de contaminação da água em Sines, autarquia nega

Vereadora do Ambiente diz que já existe um projecto alternativo para a captação de água, a aguardar aprovação. No entanto, garante que não há qualquer risco para a saúde pública.

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Câmara garante que água não tem qualquer vestígio de contaminação Paulo Ricca/Arquivo

O deputado comunista na Câmara de Sines, Helder Guerreiro, lançou um alerta para o risco de contaminação industrial dos aquíferos de Sines, onde é captada água para consumo no concelho. A autarquia garante que não há qualquer risco para a saúde pública, mas, “por precaução”, já tem uma alternativa, a aguardar financiamento comunitário.

Em declarações à Lusa, Helder Guerreiro recordou o incidente ocorrido no final de 2008, que obrigou à suspensão do abastecimento durante alguns dias, após ter sido detectado um aterro de resíduos de hidrocarbonetos. Esse aterro contaminou os solos junto à Repsol Polímeros, na Zona Industrial e Logística de Sines (ZILS), e admitiu-se a possibilidade de que viesse a contaminar o aquífero mais próximo, do qual é feita a captação de água para consumo no concelho.

Na sequência deste episódio, “houve um estudo encomendado pela câmara cuja conclusão foi a de que aquelas captações são passíveis de ser contaminadas e têm de ser mudadas de sítio”, afirmou Helder Guerreiro à Lusa.

A vereadora com o pelouro do Ambiente na Câmara de Sines, Cármen Francisco, confirmou ao PÚBLICO que foi pedido um estudo para encontrar alternativas ao aquífero próximo da Repsol. “Sabemos que as captações de água são feitas num local onde, a posteriori, se instalaram as indústrias de Sines. Mais cedo ou mais tarde teríamos que estudar alternativas”, afirmou.

O estudo indicou como solução a captação de água na zona da lagoa da Sancha, que é “protegida e absolutamente segura”, por integrar uma reserva natural das Lagoas de Santo André e da Sancha. Para isso, a Câmara de Sines elaborou já um projecto de execução, no valor de 2,1 milhões de euros, e apresentou uma candidatura a fundos comunitários, actualmente em apreciação. “Esta obra torna-se necessária, porque foram colocadas pelo Governo indústrias onde estavam já as captações, pelo que entendemos que não deve ser paga pelos munícipes mas sim por fundos comunitários”, sublinha a vereadora.

Cármen Francisco garante ainda que “não existe nem nunca existiu” risco para a saúde pública, sublinhando que a suspensão do abastecimento em 2008 foi feita “por precaução”.

Segundo Helder Guerreiro, que será candidato pela CDU à presidência da Câmara de Sines, o estudo encomendado pela autarquia indicou que as análises aos aquíferos não eram feitas com a regularidade necessária, podendo haver contaminação no período compreendido entre duas pesquisas

O PÚBLICO pediu para consultar o documento, estando a aguardar resposta. No entanto, a vereadora Cármen Francisco garante que, após o incidente de 2008, a água foi monitorizada “de 15 em 15 dias” nos primeiros tempos e que nas análises feitas nos últimos dois anos “não foram detectados quaisquer vestígios de hidrocarbonetos”, afirma. O risco de contaminação “é inerente à proximidade” do aterro e do aquífero, admite, mas “não há qualquer urgência” em deslocalizar os furos utilizados para o abastecimento.

Helder Guerreiro lamentou que o executivo municipal, liderado por Manuel Coelho e eleito por um movimento independente, tenha optado por fazer a obra de requalificação da Avenida Vasco da Gama, em vez de avançar com a obra na lagoa da Sancha. A requalificação custou mais de cinco milhões de euros e foi integrada no Programa de Regeneração Urbana de Sines, intervenção com um valor total que ultrapassa os dez milhões de euros, comparticipado em cerca de 85% por fundos comunitários.

“Isto mostra, para nós, uma clara opção pelas obras de fachada em detrimento das obras estruturantes”, afirmou o autarca comunista, defendendo que, “com o mesmo dinheiro”, a autarquia poderia resolver “a questão” das captações de água municipais.
 

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