Casa Branca admite morte de quatro americanos em ataques com drones

Procurador-geral dos EUA enviou carta ao Congresso a pormenorizar os casos. Barack Obama anuncia nesta quinta-feira nova política para o recurso a aviões não tripulados.

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Anwar al-Awlaki era um dos mais destacados membros da Al-Qaeda e foi morto no Iémen em 2011 Khaled Abdullah/Reuters

A Administração Obama admitiu pela primeira vez que quatro cidadãos norte-americanos foram mortos em ataques com drones fora de zonas de combate. Entre eles estão Anwar al-Awlaki, morto em Setembro de 2011 no Iémen, num assassínio selectivo, e o seu filho de 16 anos, morto num ataque realizado duas semanas depois.

Não era propriamente um segredo, já que a operação norte-americana contra Awlaki tinha sido confirmada em várias ocasiões por altos funcionários da Casa Branca, embora sempre sob a condição de anonimato. O anúncio oficial foi feito na quarta-feira à noite pelo procurador-geral dos Estados Unidos, Eric Holder, numa carta enviada ao Congresso, na véspera de um discurso do Presidente Barack Obama sobre o assassínio de cidadãos norte-americanos e a utilização de drones armados. No primeiro discurso do seu segundo mandato sobre o tema, Barack Obama vai anunciar uma redução do uso de drones e iniciar um processo de transferência de autoridade da CIA para as Forças Armadas.

"Desde 2009, no âmbito das operações antiterrorismo contra a Al-Qaeda em áreas onde não se verificam combates, os Estados Unidos visaram e mataram um cidadão norte-americano, Anwar al-Awlaki", lê-se na carta assinada pelo responsável pela Justiça na Administração Obama.

"Com base nos princípios legais estabelecidos há várias gerações e nas decisões tomadas pelo Supremo Tribunal durante a II Guerra Mundial, e também durante o actual conflito, fica claro que a cidadania norte-americana não torna estes indivíduos imunes", argumenta Eric Holder.

"Estas considerações permitem o uso de força letal num país estrangeiro contra um cidadão dos Estados Unidos que é um operacional destacado da Al-Qaeda ou das suas forças associadas, e que está envolvido activamente num plano para assassinar americanos", escreve o procurador-geral na carta enviada ao Congresso.

Para além da operação no Iémen, em 2011, a Casa Branca confirmou também a morte de três outros cidadãos norte-americanos – Abdulrahman al-Awlaki, Samir Khan e Jude Kenan Mohammed – nos últimos quatro anos, embora o procurador-geral ressalve que "estes indivíduos não foram especificamente visados pelos Estados Unidos".

A história destes três norte-americanos não é contada na carta enviada ao Congresso, mas já foi revelada por vários media. As ligações de Samir Khan e Jude Kenan Mohammed à Al-Qaeda eram conhecidas, mas a morte de Abdulrahman al-Awlaki, o filho adolescente de Anwar al-Awlaki, é mais controversa.

Samir Khan, 25 anos, era o director de uma revista online financiada pela Al-Qaeda na Península Arábica e foi morto no ataque que tinha como alvo seleccionado Anwar al-Awlaki. Nasceu na Arábia Saudita, filho de pais paquistaneses, mas foi criado em Nova Iorque e na Carolina do Norte. Não era considerado um alvo suficientemente importante para fazer parte da lista de assassínios selectivos da Casa Branca, mas morreu porque estava ao lado de Anwar al-Awlaki no dia do ataque, no Iémen.

Jude Kenan Mohammed cresceu em Ralleigh, na Carolina do Norte, mas foi para o Paquistão ainda jovem, para integrar um grupo de radicais islâmicos. Foi morto em Novembro de 2011, na região paquistanesa do Waziristão Sul, num ataque com um drone que matou outras 12 pessoas. Tal como Samir Khan, Jude Kenan Mohammed também não estava na lista de ataques selectivos (destinados a assassinar um único indivíduo, identificado pelos Estados Unidos como um perigoso militante terrorista), mas foi morto num "signature strike", a designação usada pelas autoridades norte-americanas para descrever um ataque contra um grupo de pessoas que se movimentam "de forma suspeita" numa área controlada por combatentes inimigos.

O caso de Abdulrahman al-Awlaki é diferente. Nascido em Denver, no estado do Colorado, em 1995, Abdulrahman foi morto num ataque com um drone em Outubro de 2011, no Iémen, duas semanas depois de o seu pai ter sido assassinado. Não tinha nenhuma relação conhecida com a rede terrorista Al-Qaeda e diz-se que estaria à procura do pai quando foi morto, num ataque que vitimou outras nove pessoas. Altos funcionários da Casa Branca terão admitido que a morte de Abdulrahman al-Awlaki foi um erro – o ataque teria como alvo o egípcio Ibrahim al-Banna. Antes da confirmação oficial do procurador-geral, Eric Holder, apenas um alto funcionário da Casa Branca tinha falado em público sobre a morte de Abdulrahman al-Awlaki. Em Outubro do ano passado, o antigo assessor de imprensa da Casa Branca Robert Gibbs, conselheiro de Barack Obama na campanha eleitoral de 2012, foi filmado a responder a uma questão sobre o facto de Abdulrahman ser norte-americano, menor de idade (tinha 16 anos de idade) e ter sido morto sem acusação ou julgamento: "Acho que o pai devia ser mais responsável, se estiver realmente interessado no bem-estar do filho."

O programa norte-americano de aviões não tripulados para atacar suspeitos de terrorismo nas zonas tribais paquistanesas na fronteira com o Afeganistão foi lançado em 2004 por George W. Bush. Mas a chegada de Barack Obama à Casa Branca levou a uma escalada que muitos analistas consideram imparável. Para além do uso em operações de luta contra o terrorismo, os drones estão também a ser alvo de controvérsia devido ao seu uso em território dos Estados Unidos por parte das forças de segurança e de particulares.

Notícia actualizada às 12h26 Altera o título, clarificando que a Casa Branca admite morte de quatro cidadãos americanos em ataques com drones e não que admitiu ter ordenado o assassínio selectivo de cada um dos quatro.
 
 

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