Vírus H7N9 transmite-se entre furões por contacto e às vezes pelos espirros

Não é uma boa notícia: cientistas afirmam que o novo vírus da gripe das aves recentemente detectado na China poderá desencadear uma pandemia humana, se nada for feito para o impedir de evoluir nesse sentido.

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A gripe das aves provocada pelo vírus H7N9 tem condições para se tornar uma gripe humana REUTERS/Ina Fassbender

O “resumo numa frase” dos resultados publicados esta quinta-feira por cientistas chineses no site da revista Science não podia ser mais claro: “O vírus emergente da gripe humana H7N9 é infeccioso e transmissível entre mamíferos.”

Foi a 31 de Março deste ano que se registou o primeiro caso humano de gripe aviária H7N9 na China. Embora menos letal do que o temível H5N1 (gripe aviária mais rara que mata 60% das suas vítimas humanas), a expansão do novo vírus foi inicialmente explosiva: segundo a Organização Mundial da Saúde, o H7N9 infectou, em pouco mais de um mês, 131 pessoas, das quais 36 morreram. Actualmente, porém, graças em grande parte às restrições entretanto impostas aos mercados de aves vivas naquele país, não tem havido novas infecções humanas pelo H7N9 registadas desde 8 de Maio.

Tanto quanto se sabe, até agora não se verificou qualquer caso de transmissão directa entre seres humanos do H7N9: as vítimas humanas foram infectadas por terem estado em contacto com aves de capoeira. Ora, para este vírus ter potencial pandémico na espécie humana, teria de conseguir passar directamente de uma pessoa para outra, requisito que o H7N9 ainda não preencheu.

Todavia, certas características genéticas deste novo vírus da gripe das aves fazem os especialistas recear que isso possa acontecer no futuro. Em particular, o H7N9 apresenta mutações que sugerem que está mais bem adaptado aos mamíferos do que seria desejável (ver Ninguém sabe de onde veio o vírus H7N9 (nem para onde vai), PÚBLICO de 24/04/2013).
Foi por isso que Huachen Zhu, da Universidade de Shantou, e colegas decidiram testar a transmissibilidade de H7N9 entre furões, considerados como o melhor modelo animal para estudar as gripes humanas.

Os cientistas inocularam em seis furões, por via nasal, vírus colhidos numa das primeiras vítimas humanas mortais do H7N9 e começaram por constatar que esses animais tinham efectivamente sido infectados mesmo antes de manifestarem sintomas da doença. Já agora, isto sugere que poderá de facto haver muitos mais casos de infecção humana (a partir das aves) do que os oficialmente diagnosticados, hipótese que também tem preocupado as autoridades chinesas e internacionais de saúde.

As experiências com resultados mais preocupantes vieram a seguir, quando os cientistas expuseram furões não infectados aos furões doentes. Por um lado, para avaliar a transmissibilidade do vírus por contacto directo, introduziram um furão saudável em cada uma das três gaiolas onde pares dos seis furões infectados estavam alojados. Por outro lado, para monitorizar a transmissibilidade por via aérea do H7N9, colocaram mais três gaiolas, com um furão não infectado dentro de cada uma, a uns dez centímetros de distância das primeiras.

Resultado: passados três dias, os três furões a conviver em contacto directo com os casais de animais doentes começaram a espirrar, a tossir, a pingar do nariz e a ficar apáticos. Quanto aos outros três animais isolados nas suas gaiolas individuais, apenas um manifestou sintomas de doença, enquanto os outros dois permaneceram livres de vírus. “Portanto, os furões infectados pelo [vírus] conseguem transmiti-lo através de contactos directos e por via aérea, embora esta segunda forma de transmissão seja menos eficiente”, escrevem os cientistas na Science.

Numa segunda série de experiências, quiseram ver se o mesmo tipo de transmissibilidade se verificaria com porcos, na medida em que estes animais são o principal hospedeiro dos vírus da gripe humana com potencial pandémico. Mas quando expuseram porcos e furões não infectados a quatro porcos infectados por inoculação nasal, os porcos não conseguiram transmitir o H7N9 aos animais saudáveis.

Porém, esta situação poderia vir a alterar-se. “Se este vírus vier a adquirir a capacidade de se transmitir eficientemente de humano para humano”, alertam os autores, “a sua extensa disseminação poderá ser inevitável, dado que as medidas de quarentena ficarão sempre aquém da velocidade de difusão do vírus”. Para impedir que o vírus evolua nesse sentido, concluem, pode ser indispensável repensar cabalmente a gestão dos mercados de aves vivas, em especial nas áreas urbanas.
 
 

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