Filme do realizador Marco Martins tem estreia mundial no Louvre

O filme, feito em co-autoria com o artista italiano Michelangelo Pistoletto, segue 12 personagens ao longo de 24 horas no dia 21 de Dezembro de 2012, o dia mais curto do ano, que segundo o calendário Maia assinalava o fim do mundo.

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Michelangelo Pistoletto Nelson Garrido
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O realizador Marco Martins Nuno Ferreira Santos
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Um frame do filme "Vinte e um. O dia em que o Mundo não acabou"

VInte e um. O dia em que o Mundo não acabou, do realizador Marco Martins, tem estreia mundial esta sexta-feira, no Museu do Louvre, em Paris. A longa-metragem surge integrada na exposição Année 1: Le paradis sur terre, do artista italiano Michelangelo Pistoletto, co-autor e personagem do filme.

 A ideia para fazer este filme surgiu em 2012 quando o artista italiano de 69 anos veio a Portugal – mais especificamente a Guimarães, Capital Europeia da Cultura – apresentar a instalação Terzo Paradizo e uma exposição que incluía a obra Love Difference, apresentada pela primeira vez ao público em 2003, quando recebeu o Leão de Ouro pela sua carreira na Bienal de Veneza.

Depois desse primeiro encontro, o realizador e encenador de 41 anos foi à Fondazione Pistoletto, em Biella (Itália), para definir com o artista italiano o guião do filme. Decidiram então que o ponto de partida do filme seria a teoria Terzo Paradiso (Terceiro Paraíso), desenvolvida por Pistoletto num livro com o mesmo nome, onde reformulou o símbolo do infinito. “Ele diz que o papel do artista é criar símbolos. E no fundo, o filme é também a consequência desse símbolo do infinito”, conclui o realizador. Na reformulação que faz do símbolo do infinito, Pistoletto acrescenta um círculo aos dois pré-existentes, representando, dessa forma, três paraísos: um paraíso natural, o paraíso artificial da tecnologia, e o terceiro onde propõe encontro entre os dois. “Partimos dessa ideia de equilíbrio entre o mundo da tecnologia e o mundo natural”, explicou ao PÚBLICO Marco Martins.

O artista italiano, uma das figuras centrais da arte povera, propôs ao realizador que a narrativa do filme se desenrolasse no dia 21 de Dezembro  de 2012, o dia mais curto do ano, que segundo o calendário Maia assinalava o fim do mundo. “Pistoletto sugeriu que essa data fosse celebrada como símbolo da renovação dos ciclos da natureza”, explicou o realizador. “Com o aproximar do dia 21 de Dezembro, a hipótese do fim de um ciclo e a necessidade de mudança aumenta. No final, com o nascer do sol uma nova esperança nasce a par da oportunidade para nos reinventarmos”, lê-se no comunicado de imprensa.

Marco Martins filmou o último dia na terra a partir das narrativas individuais de 12 personagens reais, para através da experiência destas pessoas fazer uma “reflexão sobre a crise e o mundo actual”. O escritor Gonçalo M. Tavares, o músico David Santos (Noiserv), o astrofísico Pedro Gil Ferreira, a aldeã Maria de Fátima Príncipe e o pastor Fernando Magalhães, ambos de Trás-os-Montes, são as personagens portuguesas.

A rodagem do filme, produzido por Renzo Barsotti, foi feita em Lisboa, Trás-os-Montes, Biella (onde Michelangelo Pistoletto foi filmado a explicar o conceito de Terceiro Paraíso), Londres e Oxford, mas também em Tóquio e Nagano (Japão), Bombaim e Varanasi (Índia). 

O realizador de Alice, que em 2006 recebeu o prémio Regards Jeunes da quinzena de realizadores do Festival de Cannes,  quis reunir “pensadores” e “pessoas comuns” no mesmo elenco. Uma dessas pessoas é um dabbawala, que designa os indivíduos que na Índia levam as refeições cozinhadas pelas mães ou mulheres dos trabalhadores desde as suas residências  até aos seus locais de trabalho.

O filme cruza a ficção com o documentário. “É um híbrido entre a ficção e o documental porque parte do pressuposto de que todos os dias são dia 21 de Dezembro de 2012”, quando na verdade o filme foi filmado entre meados de Dezembro e finais de Janeiro, disse Marco Martins. Para o realizador, o título do filme - Vinte e um. O dia em que o Mundo não acabou - acaba por ser "irónico" porque a longa-metragem tem subentendida “a ideia de que o mundo não acabou e de que ainda é possível recomeçar “.

Na sessão do Louvre de hoje à noite (20h30) será projectada uma versão do filme de 120 minutos, já que a estreia da obra integral, com mais 20 minutos, está prevista acontecer num festival de cinema. Após a exibição de hoje, os visitantes da exposição, que termina a 2 de Setembro, poderão ver apenas um excerto de 10 minutos do filme, também disponível no DVD que acompanha o catálogo de Année 1. Le Paradis sur Terre.

Ainda não está definida uma data para a estreia do filme em Portugal mas o realizou adiantou ao PÚBLICO que ainda este ano Vinte e um. O dia em que o Mundo não acabou será exibido pela Fundação Calouste Gulbenkian, que assegurou parte do financiamento do projecto.
 
 

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