Os leitores de Dan Brown estão quase a chegar ao Inferno

Edição em língua inglesa é lançada esta terça-feira. A Portugal, o livro inspirado na primeira parte de A Divina Comédia, de Dante, chega a 10 de Julho. É o sexto romance do autor de bestsellers norte-americano.

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Este é o sexto romance de Dan Brown Dylan Martinez/Reuters

Quando se trata de Dan Brown há fãs absolutos, detractores convictos e leitores que oscilam entre assumir que o lêem com curiosidade e só para confirmar que o norte-americano é, de facto, um autor desinteressante, consoante o contexto em que se encontram. O que ninguém pode negar é que qualquer uma das suas obras é um potencial bestseller, cujo lançamento é sempre envolvido em grande secretismo e… numa eficaz campanha de marketing (uma e outra coisa estão ligadas, é claro).

Inferno, o sexto romance deste escritor de 48 anos, é lançado esta terça-feira em língua inglesa. Faltam por isso menos de 24 horas para que milhares de leitores fiquem a conhecer o novo Dan Brown, que exigiu um ano e meio de pesquisa e cuja acção é inspirada no universo de Dante Alighieri (1265-1321), o autor de A Divina Comédia, poema épico que tem vindo a influenciar artistas e escritores ao longo dos séculos, como Sandro Botticelli, Gustave Doré, John Milton, T.S. Eliot e Ezra Pound.

O Inferno de Brown – o de Dante é uma das três partes de A Divina Comédia, que se completa com Purgatório e Paraíso – devolve aos leitores Robert Langdon, o professor de Simbologia de Harvard que foi já o protagonista do mais famoso livro do norte-americano, O Código Da Vinci, e de Anjos e Demónios. Diz Janet Maslin, jornalista e crítica literária do diário norte-americano The New York Times, que o romance está cheio de truques e que o facto de começar com Langdon deitado numa cama de hospital com amnésia é apenas o primeiro. “Para grande alívio de qualquer pessoa que goste dele, Brown acaba por deixar um rasto de pistas sobre Dante (afinal, isto é o Inferno) e por brincar com o tempo, questões de género e identidade, célebres atracções turísticas e medicina futurista”, escreve.

Maslin não é, claramente, uma entusiasta dos romances do autor de O Símbolo Perdido, carregados de mistérios, passagens secretas e teorias mirabolantes, mas acaba por admitir, sem divulgar os seus nomes, que Brown escolhe por cenário três das cidades mais ricas em história do mundo, e que “Langdon se transforma num guia turístico esplêndido e num crítico de arte”. As cidades são, em princípio, Florença, Siena e Istambul, e pelo meio, a "fórmula de sucesso" garante ainda cultos sinistros, manipulação genética e a iminência de uma pandemia capaz a alterar para sempre o mundo tal como o conhecemos (uma evocação da peste negra da Idade Média de Dante?).

“Há um sentido de jogo que salva os livros de Dan Brown da irrelevância, mesmo quando se exibe ao escrever sobre um mistério antigo ou uma maravilha arquitectónica”, conclui a crítica do New York Times.

O britânico The Independent acrescenta que a Florença deste Inferno, tal como a do tempo de Dante, é uma cidade muito violenta, dominada por confrontos nas ruas, gangues, assassinatos e raptos. Mas terá o autor medieval e a sua obra a mesma capacidade de atrair atenções do que Mona LisaA Última Ceia de Leonardo da Vinci ou os bastidores do Vaticano? Conseguirá o poeta medieval, cujo amor por Beatriz é lendário, ser tão popular como o mestre da renascença ou a cúria corrupta da cidade dos papas?

Defendem alguns que, independentemente do gosto, o livro de Dan Brown terá valido a pena se levar os leitores a procurar A Divina Comédia (também conhecido como Commedia). Mas, nas páginas do jornal britânico, Peter S. Hawkins, autor de Dante: A Brief History, adverte: “Ninguém sai igual de um encontro com a Commedia. Entranha-se na pele, no sangue, como poucos outros textos. Pegar nele traz consequências. Que o leitor esteja preparado.”

A Portugal, Inferno chega a 10 de Julho, numa edição da Bertrand. Traduzido para português, o slogan de lançamento do livro seria mais ou menos assim: “Uma leitura dos diabos.” Mas em inglês resulta melhor: “Inferno, one hell of a read.”

 

 
 
 
 
 
 

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