Fábricas têxteis encerradas no Bangladesh após tragédia do Rana Plaza

Primeiro serão 18, mas o Governo quer que as fábricas que funcionam sem condições de segurança encerrem portas. Medida depois de confirmada, para já, a morte de 803 pessoas.

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Pouco resta do Rana Plaza duas semanas depois da derrocada Munir uz ZAMAN/AFP

Duas semanas exactas depois da derrocada do edifício Rana Plaza, perto de Dacca, Bangladesh, as autoridades do país anunciaram o encerramento, numa primeira fase, de 18 fábricas têxteis por razões de segurança. No dia 24 de Abril, o edifício de nove andares, onde funcionavam cinco fábricas, aluiu com um número ainda indeterminado de pessoas no interior. O balanço das vítimas continua a ser actualizado diariamente e nesta quarta-feira situava-se em 803 pessoas.

O anúncio foi feito pelo ministro do Têxtil, Abdul Latif Siddique. “Dezasseis fábricas vão ser encerradas em Dacca e duas em Chittagong”, a segunda cidade do país. Isto numa primeira fase. O governante acrescentou que outras unidades fabris vão fechar portas num quadro de reforço das medidas de segurança no trabalho e das regras de construção.

A indicação destes encerramentos surge um dia depois do Governo do Bangladesh ter indicado que vai ser criada uma nova comissão para coordenar inspecções a perto de 4500 fábricas têxteis com o objectivo de detectar eventuais falhas de construção nas estruturas. Será o ministro Abdul Latif Siddique a presidir a esta comissão.

Numa tentativa de melhorar a segurança dos edifícios ocupados por fábricas, o Executivo tentou aumentar o número de inspecções depois de em Novembro um incêndio ter destruído uma unidade têxtil perto de Dacca, no qual morreram 111 pessoas. Mas poucos meses depois, esse trabalho revelou ter dado poucos resultados quanto ao reforço das medidas de segurança.

No Rana Plaza, situado a cerca de 30 quilómetros da capital, os trabalhadores já tinham denunciado a existência de fendas no edifício. No dia 24 de Abril, a estrutura acabou por ceder. No interior estariam mais de cinco mil pessoas, mas esta é apenas uma estimativa. Entre nove andares, funcionavam cinco fábricas, duas delas a trabalhar para marcas de roupa como a britânica Primark e a espanhola Mango.

Não há ainda uma conclusão oficial sobre o que terá provocado a derrocada do Rana Plaza, mas um responsável pela comissão de inquérito ao incidente indicou que as vibrações provocadas pelos enormes geradores utilizados por cada uma das fábricas terá levado ao aluimento do edifício onde também há fortes suspeitas de má construção.

Doze pessoas foram já detidas no âmbito da investigação à derrocada do prédio, entre elas o proprietário do edifício Mohammed Sohel Rana, que tentou a fuga para a Índia dias depois da tragédia.

Cinco dias depois da derrocada, as autoridades deram por suspensas as operações de resgate de sobreviventes. A partir daí, a missão é encontrar os corpos das vítimas. Segundo o último balanço de mortos, feito pelo porta-voz da equipa do exército que lidera as operações, Mir Rabbi, citado pela AFP, 803 morreram vítimas da derrocada: 790 foram encontradas entre os escombros e 13 não sobreviveram aos ferimentos no hospital. Por outro lado, 2437 pessoas foram retiradas com vida do que resta do Rana Plaza.

As autoridades não querem arriscar sobre quantas pessoas ainda estarão entre os escombros. O estado de decomposição dos corpos ainda por retirar agrava-se a cada dia e o odor que passa pelos restos da estrutura é agora o indicador que revela a presença de restos mortais. “Acredito que vamos encontrar mais corpos porque ainda não chegámos aos escombros dos andares inferiores. Temos cumprido cerca de 70% do trabalho”, admitiu Mir Rabbi.
 

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