O Rijksmuseum e o eterno problema das bicicletas

Para garantir a segurança de ciclistas e peões, a Câmara de Amesterdão decidiu fechar o arco do Rijksmuseum durante o dia, o que não vai agradar ao lobby das bicicletas. No passado, foi por pressão da união de ciclistas que dois arquitectos espanhóis tiveram de reformular o projecto de renovação do museu

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O Rijksmuseum está instalado num gigantesco edifício do século XIX e é uma das principais atracções turísticas da cidade Michael Kooren/Reuters

Quando se trabalha em arquitectura e urbanismo na Holanda, não é possível ignorar as bicicletas, nem tão-pouco dar-lhes pouca importância. Os espanhóis Antonio Cruz e Antonio Ortiz sabem-no bem. Autores do projecto de renovação do Rijksmuseum de Amesterdão, que reabriu a 13 de Abril depois de dez anos em obras, viram a sua proposta inicial alterada por causa da pressão exercida sobre o museu pela federação de ciclistas da cidade.

Inicialmente, os arquitectos de Sevilha tinham previsto uma entrada que ocuparia a parte central do túnel entre duas das alas do grande edifício desenhado por Pierre Cuypers no século XIX e que une o Centro e o Sul da cidade. Os ciclistas e os peões passariam, assim, pelas laterais, explica o diário espanhol El País na sua edição electrónica. Mas o que acabou por acontecer, devido à acção do lobby de duas rodas de Amesterdão, foi precisamente o contrário – as bicicletas passam pelo meio, o que quer dizer que, todos os dias, os visitantes do museu e outros transeuntes se cruzam ali com uma média de 11 mil ciclistas.

Esta inversão custou milhões de euros – implicou a revisão de uma parte fundamental do projecto arquitectónico – e atrasou muitíssimo a conclusão da obra, que chegou a estar prevista para 2006 e que implicou um investimento de 375 milhões de euros.

Agora, e em nome da segurança de ciclistas e peões, as autoridades camarárias decidiram contrariar o lobby e determinaram que, a partir da próxima segunda-feira, o túnel vai estar fechado entre as 8h e as 18h (o museu funciona entre as 9h e as 17h). A proximidade de uma das entradas do arco faz com que transeuntes e bicicletas se cruzem com frequência.

“A segurança do público que acorre ao Rijksmuseum é fundamental e, por isso, vamos falar com os seus responsáveis para decidir como lidar com o fluxo de pessoas”, garante a câmara, num comunicado citado pelo diário espanhol. Boris de Munnick, porta-voz do museu, reconheceu que a segurança é, de facto, uma das maiores preocupações e que a equipa tudo fará para resolver o problema, com a ajuda da autarquia.

Ao receber a notícia de que a circulação de bicicletas seria proibida durante a maior parte do dia até que se chegue a uma alternativa eficaz, a dupla de arquitectos de Sevilha não escondeu a sua desilusão, ainda que ela se manifeste com grande ambivalência: “Teria sido melhor que tivessem chegado a esta conclusão durante as obras, para evitar atrasos. Por outro lado, já que tivemos de modificar o projecto original para que as bicicletas pudessem passar, seria bom vê-las circular por ali”, disseram à jornalista do El País.

O museu nacional da Holanda – um dos mais importantes do mundo e uma das maiores atracções turísticas do país – guarda uma importante colecção de artes decorativas e pintura, entre a qual se destacam obras de mestres como Rembrandt van Rijn, Frans Hals e Johannes Vermeer. Pós-reinauguração, a direcção do Rijksmuseum esperava receber 4500 visitantes por dia, mas a média ultrapassa hoje o dobro do previsto, situando-se nos dez mil.

O grande fluxo de visitantes deve-se, em boa parte, à renovação da grande praça que o Rijksmuseum divide com os museus Van Gogh e Stedelijk (arte moderna e contemporânea), que também estiveram fechados para obras, mas estão já a funcionar em pleno. “As pessoas vão a pé de um museu ao outro e, por isso, a praça e os seus arredores transformaram-se numa espécie de ilha de peões. Não sabemos quanto tempo durará, mas o melhor é reforçar a segurança viária”, disse ainda o porta-voz Boris de Munnick.

Se os números de visitantes se mantiverem – ou mesmo que tenha uma ligeira descida, pós-euforia da reinauguração – o Rijksmuseum ultrapassará em muito os 1,5 milhões/ano que tinha em 2003, quando fechou para obras (poderá mesmo chegar ao dobro).

Agora é só esperar pela reacção da união de ciclistas de Amesterdão, que já no passado provou que pode fazer-se ouvir e até obrigar dois arquitectos sevilhanos a regressar ao estirador, quando já tinham dado o projecto por terminado.

 
 

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