The xx foram fãs por uma noite, para prazer dos seus fãs

Os The xx convidaram grupos de que gostam e no final fizeram eles a festa com cerca de 10 mil fãs, junto à Torre de Belém em Lisboa. Foi bom. Mas o envolvimento diferente que o recinto iria conter não se vislumbrou. O que se viu foram filas intermináveis.

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O foco continua a ser os jogos vocais entre Romy Madley e Oliver Sim, a presença marcante da guitarra dela, e o ondulante baixo dele Miguel Manso
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A guitarrista Romy Madley Miguel Manso
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Em relação a anteriores concertos que lhes vimos não existem grandes alterações, apesar de se notar um maior dinamismo rítmico em algumas canções do segundo álbum, em parte pela acção, lá atrás, de Jamie xx Miguel Manso
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É a ponte de comunicação com o público que cria um clima especial nos concertos dos The xx Miguel Manso
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O envolvimento diferente que o recinto iria conter não se vislumbrou Miguel Manso
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A guitarrista Romy Madley Miguel Manso
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A guitarrista Romy Madley Miguel Manso

Bons concertos de The xx e Chromatics, um ambiente descontraído e uma excelente afluência de público – mais de 10 mil pessoas. Faltou apenas que o conceito de festival diferente que havia sido comunicado pelos The xx – com um design do espaço a valorizar o vasto relvado e a localização junto ao rio e uma atenção especial com a restauração e restantes bancas – tivesse acontecido. Mas não foi isso que se viu. O que se viu foi um recinto banal, bancas vulgares, filas intermináveis e os habituais espaços dominados por marcas. Nada de novo, portanto.

Ao final da tarde, junto à Torre de Belém, já se percebia que a afluência de público iria ser boa, com muitas pessoas a deambularem entre o palco principal e o local onde se posicionaram os DJs e o mestre de cerimónias Kalaf (Buraka Som Sistema), que foi apresentando os diversos intervenientes ao longo da sessão (Xinobi, Kim Ann Foxman, Jamie xx, Pional e, no final da noite, no outro palco, James Murphy). Mas foi, naturalmente, no palco principal que se concentraram as atenções, com a habitual competência, flexibilidade e entrega dos portugueses PAUS a abrir. Seguiram-se três projectos dos quais os ingleses são assumidamente admiradores: os ingleses Mount Kimbie, cúmplices desde a primeira hora, o espanhol John Talabot e os americanos Chromatics.

Os ingleses, que se aprestam para lançar o segundo álbum, passaram um pouco despercebidos, não conseguindo impor totalmente a sua electrónica rendilhada, marcada por ritmos descontínuos e melodias acetinadas. Diferente foi o espanhol John Talabot, acompanhado por Pional. Os dois, lado a lado, nos teclados e percussão electrónica, acabaram por criar um bom envolvimento com o público, fazendo desfilar temas do magnífico álbum Fin, variando entre climas mais etéreos e divagações dançantes. Depois dos inevitáveis agradecimentos por estarem ali a convite dos The xx, acabaram as duas vozes dos ingleses por subir ao palco para, em conjunto, interpretarem Chained, naquele que acabou por ser o primeiro momento efusivo da noite.

De seguida vieram os americanos Chromatics, autores de um dos álbuns mais aclamados do ano transacto, Kill For Love. No ar pairava alguma expectativa para perceber como iriam passar, para um contexto de concerto ao ar livre, a voluptuosidade e a transparência erótica que a sua música em disco acarreta. Não se saíram nada mal da tarefa, embora se sinta que no processo de transposição se perde a sofisticação singular que a música, e o imaginário que veicula, transmitem. 

Em palco, a cantora Ruth Radelet, e o teclista e líder Johnny Jewel, acabam por dominar as atenções, impondo sem grandes dificuldades algumas das melhores canções do álbum do ano transacto como Cherry ou Kill for love. O envolvimento electrónico, a tensão sensual, a voz voluptuosa e os sintetizadores robóticos fizeram-se ouvir no espaço e o público rendeu-se-lhes. Para o final ficaram duas excelentes versões: a mais antiga Running up that Hill, de Kate Bush, e a mais recente, Hey hey, my my (into the black), de Neil Young, quase em registo baladeiro, como se a pop electrónica mais escarlate encontrasse um ombro amigo na folk mais descarnada.

Enquanto os Chromatics actuavam, era possível vislumbrar numa das laterais os membros dos The xx a vibrarem com o concerto, assumindo a sua condição de fãs dos americanos. O conceito do festival era esse: carta branca para os The xx convidarem quem quisessem. Meia hora depois, foram os fãs dos The xx que se fizeram ouvir quando os três ingleses, invariavelmente de negro, entraram em palco. Como sempre, a cenografia, a luz e o envolvimento espacial é simples e minimalista, mas ao mesmo tempo de grande eficácia. Como as canções.

Em relação a anteriores concertos que lhes vimos não existem grandes alterações, apesar de se notar um maior dinamismo rítmico em algumas canções do segundo álbum, em parte pela acção, lá atrás, de Jamie xx. Mas o foco continua a ser os jogos vocais entre Romy Madley e Oliver Sim, a presença marcante da guitarra dela, e o ondulante baixo dele. E o espaço, o silêncio, a suspensão, aquilo que se passa entre duas notas, ou entre a voz aveludada dela e a maior gravidade dele.

Temas do primeiro álbum como VCR, Island ou Crystalised, ou de Coexist, como Reunion, Sunset ou, no final, Angels, serviram para confirmar que, ao vivo, o trio consegue conquistar com simplicidade, com uma presença contida mas autêntica. Lá para o final disseram que Lisboa era uma das suas cidades favoritas e esse era o motivo para estarem ali, no primeiro de três festivais Night + Day (seguem-se Londres e Berlim). A assistência gostou, claro. Das palavras e do resto: a cada acorde gera-se um efeito de reconhecimento. E é essa ponte de comunicação com o público que, ou respeita o espaço entre silêncios, ou reage efusivamente, que cria um clima especial nos concertos dos The xx. No domingo não foi diferente. 
 

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