Quatro anos depois, os islandeses querem o centro-direita de volta ao poder

Sondagens das eleições deste sábado dão maioria aos dois partidos responsabilizados pela crise de 2008 e uma queda acentuada do actual Governo de centro-esquerda.

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As sondagens apontam para uma descida dos sociais-democratas de 30% para 12% Ints Kalnins/Reuters

Depois de terem sido apontados como os principais responsáveis pela crise em que a Islândia se afundou em 2008, os partidos do centro-direita preparam-se para regressar ao poder nas eleições legislativas deste sábado no país.

As secções de voto estão abertas entre as 9h e as 22h, mas as estimativas são tão esclarecedoras que já há poucas dúvidas de que a Islândia vai protagonizar uma das maiores reviravoltas da história da política europeia moderna.

Os conservadores do Partido da Independência e os seus tradicionais aliados do Partido Progressista vão retirar do poder o Governo dos sociais-democratas e da Esquerda-Verde, eleito em 2009 para tentar tirar a Islândia de uma situação de quase bancarrota.

Nos últimos quatros anos, o Governo liderado por Johanna Sigurdardottir (que não se recandidatou e que vai retirar-se da política) conseguiu reverter a situação em alguns aspectos, mas as enormes dívidas acumuladas pelas famílias islandesas através de empréstimos bancários contraídos antes da crise de 2008 –  e também a aversão à integração na União Europeia, defendida pelo actual executivo –, levaram a uma mudança das intenções de voto do eleitorado.

Apesar de uma taxa de crescimento prevista de 1,9% e de uma taxa de desemprego abaixo dos 5%, as medidas de austeridade aplicadas pelo Governo de centro-esquerda para equilibrar as contas e pagar a dívida ao Fundo Monetário Internacional tem deixado espaço de manobra aos dois partidos que foram responsabilizados pelo desastre económico e social do país há apenas quatro anos.

O actual líder do Partido Progressista, Sigmundur David Gunnlaugsson, promete aliviar as dívidas das famílias com uma parte do dinheiro de credores estrangeiros que foi congelado, o que agrada às famílias endividadas. "As pessoas tendem a esquecer-se de que foi o Partido Progressista quem defendeu, na campanha eleitoral de 2003, o aumento do nível das hipotecas até 90% do valor de mercado, e as famílias estão agora a sentir dificuldades por causa dessa política. E agora, eles dizem que vão aliviar esse fardo", disse ao Global Post a analista política Silla Sigurgeirsdottir.

Hordur Torfason, o popular cantor islandês que foi um dos mais destacados activistas durante os protestos que levaram à queda do Governo de centro-direita, usa uma linguagem menos técnica: "Não acredito que as pessoas sejam tão estúpidas ao ponto de votarem nestes partidos."

Mas a verdade é que as sondagens apontam para um resultado próximo dos 30% para cada um dos dois partidos do centro-direita, o que deverá levar a uma nova coligação entre progressistas e independentes. Os sociais-democratas, que lideram o Governo, deverão registar uma queda abrupta, dos 30% de 2009 para os 12%; e os seus parceiros de coligação, a Esquerda-Verde, poderá cair dos 22% para 8%.

De acordo com as sondagens, os dois partidos vistos de fora da Islândia como os salvadores do país vão medir forças no próximo Parlamento com o Partido Pirata e com o Futuro Brilhante (uma cisão pró-europeísta do Partido Progressista), ambos com previsões na ordem dos 6% a 10%.

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