IndieLisboa festeja experiências radicais no palmarés

Leviathan e Lacrau, os filmes mais ousados presentes a concurso, são os vencedores 2013 do festival, que premiou ainda as curtas Da Vinci, Gingers e Má Raça.

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"Lacrau", de João Vladimiro, foi considerada a melhor longa-metragem portuguesa da competição do IndieLisboa. Trata-se de um filme-ensaio que contrasta o Portugal rural, através de imagens rodadas em Covas do Monte, com o Portugal urbano e suburbano dos nossos dias
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"Lacrau" é a primeira longa-metragem de João Vladimiro, cuja curta-metragem Pé na Terra lhe valeu em 2006 o prémio de Melhor Realizador no IndieLisboa
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"Leviathan", dos investigadores Lucien Castaing-Taylor e Véréna Paravel, é o filme vencedor da 10ª edição do IndieLisboa. O júri formado por Leonor Silveira, Dennis Lim e Gerwig Tamsma considerou-o o melhor de entre os 11 filmes no concurso internacional
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"Leviathan" é um documentário rodado a bordo de um barco de pesca industrial americano no Atlântico Norte.É uma experiência sensorial sem narração nem voz off, com as câmaras fixas aos corpos dos pescadores, ao convés ou ao aparelho do navio
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"Eles Voltam", do brasileiro Marcelo Lordello, recebeu o Prémio de Distribuição. Conta a história uma adolescente do Recife (Maria Luiza Tavares) que, deixada à beira da estrada como castigo pelos pais, toma consciência do país real que até aí ignorava
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"Gingers", do português radicado em Londres António da Silva, foi considerada a melhor curta portuguesa pelo júri formado por Inês Nadais (do PÚBLICO), Tess Renaudo e Graeme Cole. O realizador filma os corpos de uma mão-cheia de homens ruivos, que discutem em off o modo como a cor do seu cabelo afecta o olhar dos outros
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A melhor curta-metragem do concurso internacional pertence ao artista multimedia italiano Yuri Ancarani. "Da Vinci" foi rodado durante uma operação cirúrgica e contrasta as máquinas necessárias para a sua realização com o interior do corpo humano
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"Má Raça", da dupla portuguesa André Santos e Marco Leão, recebeu o Prémio Novo Talento que se destina a encorajar os jovens realizadores. Neste filme, um cão simboliza a dificuldade de relacionamento entre uma mãe e uma filha
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Outro dos prémios atribuídos neste IndieLisboa aos jovens realizadores portugueses é o Prémio Novíssimos, atribuído ao melhor filme de estreia apresentado nesta secção paralela. O vencedor foi a animação de Luís Soares "Outro Homem Qualquer"
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A secção Pulsar do Mundo apresenta documentários que "tomam o pulso" às questões centrais do nosso tempo. O júri da secção premiou o filme do argentino José Luis García "La Chica del Sur", onde procura reencontrar uma activista sul-coreana 20 anos após uma visita à Coreia do Norte
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O prémio do júri da Amnistia Internacional pertence igualmente à secção Pulsar do Mundo. "The Act of Killing", do americano Joshua Oppenheimer, é um olhar poderoso sobre os assassínios perpetrados em 1965 e 1966 pelo regime de Suharto sobre os opositores de esquerda e os indonésios de etnia chinesa
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É também da secção Pulsar do Mundo que vem o vencedor do Prémio do Público na categoria de Longas-Metragens. "Amsterdam Stories USA" é um documentário de seis horas onde o holandês Rob Rombout e o francês Rogier van Eck viajam pelos EUA visitando todas as cidades que têm Amsterdam no seu nome

Dois filmes com muito em comum arrecadaram sábado à noite os prémios máximos da 10ª edição do IndieLisboa.

A competição internacional foi ganha por Leviathan, o documentário-fenómeno de Lucien Castaing-Taylor e Véréna Paravel sobre a pesca industrial no Atlântico Norte, enquanto o concurso nacional elegeu Lacrau, filme-ensaio de João Vladimiro sobre o Portugal rural e urbano.

Na categoria de curtas-metragens, o festival premiou Da Vinci, do italiano Yuri Ancarani, Gingers, do português radicado em Londres António da Silva, e Má Raça, dos portugueses André Santos e Marco Leão.

O júri de longas-metragens, formado pela actriz Leonor Silveira e pelos programadores Dennis Lim e Gerwin Tamsma, galardoou este ano os objectos mais radicais presentes no concurso internacional. Tanto Leviathan como Lacrau são experiências audiovisuais que parecem existir fora das convenções tradicionais do cinema narrativo, nas fronteiras entre o documentário e a ficção, recusando qualquer tipo de voz-off ou “fio condutor” e optando por uma organização puramente sensorial de imagens e sons. Leviathan foi rodado a bordo de um navio de pesca industrial ao largo de New Bedford, enquanto Lacrau parte do quotidiano rural de Covas do Monte para estabelecer um contraste com a vida impessoal na grande cidade. Lacrau recebeu ainda o Prémio Árvore da Vida para o filme português que afirme “valores humanos e espirituais”, atribuído por um júri separado.

Lacrau é a terceira realização do portuense João Vladimiro, 32 anos, formado em design. Antes, houvera a curta-metragem Pé na Terra (melhor realização no IndieLisboa 2006) e a longa-metragem Jardim (2007), encomenda da Fundação Gulbenkian sobre o trabalho do arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles na concepção dos Jardins Gulbenkian. Vladimiro não quis prestar declarações publicamente sobre Lacrau, preferindo deixar o filme falar por si. Na "declaração de intenções" reproduzida no catálogo do festival, Vladimiro explica que se propôs "equacionar a evolução tecnológica e a nossa posição num mundo que a coloca em primeiro lugar". "O horror ao vazio, à solidão, não permite ver a beleza de uma forma original de existência", diz para explicar o contraste entre a pureza de uma vivência rural e o ruído da vida nas cidades que o seu ensaio audiovisual, sem narração, desenha.

O prémio de distribuição, escolhido pelo júri de longas-metragens de entre as obras a concurso, coube à excelente ficção brasileira de Marcelo Lordello Eles Voltam, sobre uma adolescente do Recife que, largada pelos pais no meio da estrada como castigo, encontra o Brasil real no seu percurso de regresso a casa. O galardão destina-se à aquisição dos direitos de distribuição do filme para Portugal.

O vencedor do Prémio do Público, escolhido através da votação das audiências que estiveram no festival e transversal a todas as secções, foi o documentário de seis horas do holandês Rob Rombout e do francês Rogier van Eck Amsterdam Stories USA, que visita todas as cidades americanas com o mesmo nome daquela cidade holandesa.

O júri das curtas-metragens, composto pela jornalista do PÚBLICO Inês Nadais, pela programadora Tess Renaudo e pelo realizador Graeme Cole, atribuiu o Grande Prémio a Da Vinci, do artista multimedia italiano Yuri Ancarani, um trabalho quase experimental sobre uma operação cirúrgica. A melhor curta portuguesa para o mesmo júri foi Gingers, ensaio do português radicado em Londres António da Silva sobre a aparente diferença que o cabelo ruivo atribui a quem o tem.

Ainda nas curtas nacionais, a dupla André Santos e Marco Leão venceu o Prémio Novo Talento pela curta Má Raça, e Luís Soares o Prémio Novíssimos, atribuído ao melhor filme de escola a concurso, por Outro Homem Qualquer.

Noutros prémios, o documentário do argentino José Luís García sobre a Coreia do Norte, La Chica del Sur, recebeu o prémio Pulsar do Mundo; The Act of Killing, o filme do americano Joshua Oppenheimer sobre os crimes indonésios de 1965/66, foi galardoado com o prémio Amnistia Internacional; e É o Amor, de João Canijo, venceu o prémio TAP de longa-metragem portuguesa

Leviathan pode ainda ser visto hoje às 18h15 na Culturgest, com as curtas premiadas a serem exibidas às 19h15 também na Culturgest.

 

 

Palmarés do IndieLisboa 2013:

Longas-metragens

- Grande Prémio Cidade de Lisboa: Leviathan, de Lucien Castaing-Taylor e Véréna Paravel

- Melhor Longa Portuguesa: Lacrau, de João Vladimiro

- Prémio de Distribuição: Eles Voltam, de Marcelo Lordello

- Prémio do Público: Amsterdam Stories USA, de Rob Rombout e Rogier van Eck

- Prémio Pulsar do Mundo: La Chica del Sur, de José Luis García

- Prémio Amnistia Internacional: The Act of Killing, de Joshua Oppenheimer

 

Curtas-metragens

- Grande Prémio: Da Vinci, de Yuri Ancarani

- Melhor Curta Portuguesa: Gingers, de António da Silva

- Prémio Novo Talento: André Santos e Marco Leão, por Má Raça

- Prémio do Público: Le Libraire de Belfast, de Alessandra Celesia

- Prémio do Público IndieJunior: O Clube das Crianças Feias, de Jonathan Elbers

 

 

 
 

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