Bersani não consegue fazer eleger o seu candidato à presidência

Os grandes eleitores do PD estão convocados para uma reunião sexta-feira de manhã, antes da abertura dos trabalhos parlamentares.

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Bersani à conversa com o secretário-geral do PdL, Angelino Alfano, durante a votação Alberto Pizzoli/AFP

A Itália continua sem governo mas rapidamente está obrigada a ter um novo Presidente da República – o mandato de Giorgio Napolitano acaba em Maio e a escolha do seu sucessor começou esta quinta-feira no Parlamento. E correu muito mal a Pier Luigi Bersani, líder do Partido Democrático.

Bersani apresentou como candidato oficial o ex-líder sindicalista e membro da defunta Democracia Cristã, Franco Marini, mas na verdade quem o escolheu foi Silvio Berlusconi, a partir de uma série de nomes que o líder do centro-esquerda lhe apresentou. O resultado foi uma revolta no seu partido e 200 eleitores presidenciais da área de Bersani a recusarem votar em Marini.

O chefe de Estado é escolhido por 1007 eleitores, entre deputados (630), senadores (319) e representantes das regiões (58). O PD tem o maior grupo de eleitores presidenciais, com 430. Marini não era só o candidato do PD — Bersani negociou o apoio ao seu nome com o Povo da Liberdade, de Berlusconi, e com o grupo de pequenos partidos do centro que apoiam o ainda primeiro-ministro Mario Monti. Até a Liga Norte anunciou que votaria em Marini.

Mas à primeira votação, esta quinta-feira de manhã, o ex-líder histórico de uma das grandes centrais sindicais (CISL) não foi além dos 521 votos. Para ser eleito, um candidato precisa de uma maioria de dois terços (672) até à quarta votação, quando passa a ser suficiente uma maioria simples. A quarta votação acontecerá sexta-feira à tarde, depois da terceira, de manhã.

Ainda houve uma segunda votação, como previsto, durante a tarde, mas tanto o PD como o PdL e a Escolha Cívica, de Monti, decidiram que os seus eleitores votaram em branco.

“Fase nova, a nossa assembleia escolherá democraticamente um candidato”, afirmou Bersani. Os grandes eleitores do PD estão convocados para uma reunião em Roma, antes da abertura dos trabalhos parlamentares. Deste encontro sairá a definição do novo candidato. Tudo está em aberto, tudo é possível, até que a liderança do PD insista em continuar a apostar em Marini — Berlusconi já disse acreditar que, no fim, será ele o eleito.

Entre os pesos-pesados do PD que se opuseram a Marini conta-se Matteo Renzi (que Bersani derrotou nas primárias do partido, o ano passado), que descreveu a escolha de Bersano como um “candidato do século passado”, e Nichi Vendola (líder do SEL, o aliado mais à esquerda de Bersani), para quem a nomeação “foi um erro”. “O resultado foi preocupante. Marini foi o candidato que uniu o centro-direita”, disse Vendola.

Os 46 eleitos do SEL de Vendola escolheram votar no candidato apresentado pelo Movimento 5 Estrelas, o respeitado jurista Stefano Rodotà, ex-deputado do PCI e com muito trabalho académico nas áreas do direito civil, sistema político, e liberdades e direitos fundamentais.

Rodotà obteve 240 votos (230 na votação da tarde), quando o movimento fundado pelo comediante Beppe Grillo dispõe apenas de 162 votos. “Ninguém explicou a Bersani que a Itália mudou”, disse Grillo a propósito da nomeação de Marini. “A escolha é entre o presidente dos italianos, que é Rodotà, e o presidente de Berlusconi, que é Marini.”

Bersani chegou em primeiro nas eleições legislativas de Fevereiro – o PD obteve a maioria na Câmara dos Representantes, mas os resultados não permitem que nenhum partido controlo o Senado –, mas foi o grande derrotado. Até ao início da campanha, todas as sondagens antecipavam uma vitória folgada ao PD.

Entretanto, Napolitano encarregou-o de formar governo e ele falhou, não conseguindo convencer Grillo a apoiá-lo. A estratégia para a eleição do Presidente é mais um grande derrota de Bersani e é uma estratégia que só se compreende se integrada numa negociação mais ampla para conseguir o apoio parlamentar a um futuro governo. É o próximo Presidente que lhe poderá voltar a pedir que forme governo — ou decidir que não há condições para isso e convocar novas eleições.
 
 

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