A sociedade brasileira – um retrato em movimento

No Brasil identificam-se cinco classes sociais – de A a E – classificadas de acordo com o seu nível de riqueza. Nestas notas focar-me-ei nos extremos

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Paulo Whitaker / Reuters

São Paulo vive das assimetrias, dos paradoxos. Faz parte da sua natureza. Tão facilmente vêem-se tensões próximas da rutura como a proximidade e afetividade fazem crer numa sociedade pacífica e unificada. A classe A – os ricaços cá do sítio – mora em bairros que fazem lembrar os subúrbios norte-americanos: pedaços de cidade traçados a régua e esquadro, monofuncionais, monótonos, monocromáticos, …

Casas com materiais sumptuosos, piscinas, coqueiros, tudo cumpre uma cartilha lexical que dita até os preceitos quotidianos dos seus habitantes: o "jogging", o chá das cinco, o domingo entre família e amigos, esta é a classe A. Mas no meio de tanta coerência, de tanta perfeição, surge um daqueles paradoxos: o “guardinha”. Mas que merda é um guardinha? Ao certo, ninguém sabe! O guardinha é alguém, pago pela população, para ocupar as guaritas que existem nos cruzamentos e vigiar o bairro. Mas pergunta-se, ele tem arma? “Não pode, só ilegal”. Então o que faz em caso de assalto? Chama a polícia… Isto num contexto de casas com sistemas de alarme xpto e cercas eletrificadas.

Do outro lado da barricada temos a classe E, a favela, a pobreza extrema. Também seguindo padrões universais, a favela mostra o outro Brasil: de arma em punho, de pedinte do semáforo a limpar vidros, do alcoólico deitado no chão. O que aqui ganha relevância é a segregação a que se assiste: num qualquer dia é possível ver uma luta entre pedintes e não se preocupem, eles chegarão a acordo! Um helicóptero a sobrevoar os céus? Calma!!! É um qualquer CEO de uma qualquer multinacional que assim contorna o tráfego e a possibilidade de sequestro. O comércio reflete tudo isto. Tanto temos os botecos mais “humildes” que possamos imaginar, onde o que “mete respeito” é mesmo a clientela, até à balada onde a entrada custa uns módicos 100 reais! Tudo é possível, tudo é permitido.

E como é que um tuga entra neste esquema? Integra-se no ambiente que o rodeia. Na casa dos “tios” fala da economia, do ensino, de cultura, de vinhos. Nos botecos e nos ónibus usa roupa velha e arranha no brasileiro. E quando não sabe o que dizer? A resposta universal: futebol!!! O Neymar vai para Espanha? O Ronaldo é melhor que o Messi? E assim Vive São Paulo, entre diferenças e similitudes, um dia de cada vez.

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