Ruínas do Mosteiro de S. João de Tarouca devem ficar visitáveis em Outubro

Antiga casa da Ordem de Cister no Vale do Varosa está a ser redescoberta, e parcialmente reconstituída por arqueólogos, desde 1998.

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Ruínas encontradas entre 1998 e 2007 Manuel Roberto/Arquivo
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Escavações permitiram encontrar paredes inteiras do século XII com cinco metros de altura Manuel Roberto/Arquivo

As ruínas do Mosteiro de S. João de Tarouca, expostas na sequência de escavações arqueológicas iniciadas em 1998, estão a ser musealizadas e deverão poder ser visitadas a partir de Outubro deste ano.

As escavações, realizadas entre 1998 e 2007, deixaram expostos os espaços que originalmente integravam o mosteiro. “Quando começámos não estávamos em condições de decidir nada, tínhamos de ver o que ia aparecer. O que resultou da escavação arqueológica foi muito mais do que estávamos à espera, daí ter-se prolongado até 2007”, disse à agência Lusa Luís Sebastian, coordenador do projeto Vale do Varosa, da responsabilidade da Direção Regional de Cultura do Norte e no qual se insere a obra em curso.

O também director do Museu de Lamego, que participou nas escavações arqueológicas, contou que foram encontradas “paredes inteiras do século XII com cinco metros de altura e o espólio arqueológico rebentou todas as expectativas”. “Só de cerâmica são cerca de 300 mil fragmentos. Tudo isso teve de ser lavado, marcado, inventariado, estudado. Já publicámos uns 40 artigos em revistas e actas científicas com resultados, mas é um trabalho monstruoso”, explicou, justificando que, por isso, entre 1998 e 2007, os trabalhos se centraram na escavação e investigação arqueológica e só depois se iniciou o projecto de musealização.

A fase da musealização das ruínas do mosteiro deve ficar concluída até Outubro, altura em que o responsável espera que possam ser abertas ao público para visitas. Luís Sebastian sublinhou que se trata de “3.500 metros quadrados de área escavados a pincel”, onde em 1154 começou a ser construído o mosteiro. Com a extinção das ordens religiosas em Portugal, em 1834, aquela área foi vendida em hasta pública.

“A igreja passou a paroquial e foi isso que a salvou, porque manteve-se em uso. O resto foi vendido e a pessoa que comprou começou a desmanchar as paredes para vender as pedras. E assim foi desde 1834 até por volta de 1870”, referiu. Segundo o responsável, “um edifício daquela dimensão acabou por contribuir para a construção de milhentas casas nas aldeias à volta”.

“Para a reconstituição do edifício tive que andar pendurado nas paredes das casas das aldeias para conseguir desenhar certas pedras que pertenceram à zona, como as dos claustros e dos dormitórios”, contou Luís Sebastian, afirmando que tudo aponta que, por volta de 1870, o dono tenha morrido e deixado os bens aos filhos, tendo parado o processo de desmantelamento das paredes.

No entanto, “como se já não chegasse toda a barbárie” que tinha sido cometida até então, “tudo o que ainda estava de pé foi empurrado para a ribeira para ganhar meia dúzia de metros quadrados de horta” e, por cima, foi metida terra. “Agora estamos a retirar tudo e a quantidade de pedra é inimaginável. Estamos a subir as paredes com pedra aparelhada, mas depois tenho bases, colunas e capiteis, pedras trabalhadas, que não tenho maneira de saber de onde é que eram”, lamentou.

As obras em S. João de Tarouca não acabam porém, em Outubro, quando se der a aberura ao público.“Vamos ter que fazer uma loja, um auditório, uma exposição. O projecto está todo feito, assim que tivermos luz verde do Ministério das Finanças avançamos para a fase seguinte”, explicou. Luís Sebastian nota que este tem sido “um processo muito longo, feito ao ritmo das oportunidades de financiamento”, porque se trata de um projecto muito avultado, “só possível com o apoio de fundos comunitários”.

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