Pensam Disney, agem Vodka

Não somos uma faixa etária perdida e muito menos sem valores. A palavra-chave é “precoce”, numa altura em que a Disney e o Vodka estão mais perto do que nunca

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Ricardo Moraes / Reuters

Disney e Vodka estão cada vez mais próximos. Poderia ser um título de um romance estranho, mas trata-se de uma evolução de costumes que tem dado muito que falar e que pensar.

Foi há uns dia atrás que me deparei, enquanto fazia "zapping", com uma reportagem sobre os jovens e a vida nocturna num dos canais televisivos nacionais. Como se tratava de um tema que me interessava, decidi parar e ouvir. Porquê? Não sei responder. Não que tivesse dúvidas ou questões concretas, mas porque sou sempre movida pela curiosidade de temas considerados polémicos. Aliás, quem nunca ouviu a expressão: "esta juventude está perdida"?

Por uma razão ou por outra decidi ficar no sofá, poisar o comando e assistir àquela reportagem. Confesso que foram precisos apenas poucos minutos para que ficasse surpreendida. Eu, defensora da juventude actual na qual me insiro, estava a ver todos os meus argumentos a perderem total credibilidade naqueles instantes.

O que é que eu via? No televisor da minha sala tinham entrado cinco raparigas que, segundo constava, se preparavam para sair à noite. Parece-me normal. A questão estava no conteúdo das respostas dadas. Não que fossem despropositadas ou "chocantes" , mas apenas me pareciam não estar adequadas a quem as proferia. Era como se os meus olhos vissem desenhos animados e os meus ouvidos escutassem um discurso de alguém de outra faixa etária. Mas esta reportagem surgiu apenas de mote para que rapidamente se recuperasse este tema.

Surgiram inúmeros comentários negativos à reportagem, alegando muitos deles a insuficiência de elementos da amostra e que, acima de tudo, esta não era representativa de um panorama global. Concordo. Olho imediatamente à minha volta e não me identifico com nada do que ouvi. Não só não me identifico, como também não encaixo nestes padrões pessoas que me são próximas.

Nos dias seguintes a este episódio dei por mim a olhar para as ruas de Santos numa saída à noite de amigos. Entre bebidas e gargalhadas não conseguia desviar o olhar das pessoas que passavam perto de mim. A minha opinião mudava e a solidez da certeza do erro da generalização daquela reportagem começava a diminuir.

O que é que eu via? Via crianças. Não crianças no sentido mais estrito e básico da palavra. Via jovens de 15 anos. Pode dizer-se que já não são propriamente crianças. O conceito de criança surge pelo facto de não existir articulação exacta entre os actos e a idade que apresentam no BI. De copo na mão, aqueles que ainda conseguiam estar de pé, cambaleavam pelas ruas de Santos. E actualmente é um panorama normal. As pessoas saem, bebem, divertem-se. Os jovens fazem isso cada vez mais cedo.

Dei por mim sentada a olhar, num banco na calçada que estava vazio. A Disney e o Vodka fazem parte de mundos diferentes e estão idealmente separados por longos anos de vida. Mas os costumes mudaram e a tradição acompanhou essa mudança. Actualmente estão quase no mesmo horizonte temporal. Termino como comecei, Disney e Vodka cada vez mais próximos… quem sabe uma possível parceria esteja para breve.

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