Berlusconi propõe o seu delfim para vice-primeiro-ministro

Líder da direita ameaça bloquear eleição de chefe de Estado no Senado, no Parlamento e nas ruas, se for preciso: colocar todos os cargos nas mãos da esquerda, diz, "será um golpe em Itália".

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Alfano e Berlusconi no sábado, durante um protesto promovido pelo PdL contra o sistema judicial Tiziana Fabi/AFP

Pier Luigi Bersani começou oficialmente nesta segunda-feira as consultas para tentar formar um governo em Itália. “Precisamos de um governo, precisamos mesmo de um governo que faça milagres”, desabafou o líder do centro-esquerda numa pausa entre reuniões.

Desde que foram contados os votos das legislativas de 24 e 25 de Fevereiro que Bersani recusa uma coligação à direita, com o bloco chefiado por Silvio Berlusconi e pelo seu Povo da Liberdade. Mas há poucos impossíveis na política italiana.

Esta manhã, o empresário-político propôs a Bersani a solução que muitos eleitores da direita antecipavam antes de irem às urnas. “Bersani presidente do Conselho e Alfano vice-primeiro-ministro. Sentemo-nos à mesa, só se fala de governo se estivermos juntos”, afirmou. Alfano é Angelino Alfano, secretário-geral do PdL. Chegou a pensar-se que seria ele o candidato da direita às eleições, mas Berlusconi decidiu que queria ir a jogo mais uma vez.

O problema é que Bersani e o seu Partido Democrático não têm dito apenas que recusam coligar-se com Berlusconi. Têm recusado aliar-se à direita.

O próprio Presidente da República, Giorgio Napolitano, no discurso em que anunciou ter chamado Bersani para o encarregar de “verificar” se há uma maioria a apoiá-lo, avisou para os riscos de uma aliança PD-PDL. “As dificuldades em avançar para uma grande coligação são relevantes”, explicou Napolitano, recordando “a rotura do fim de 2012”, o momento em que a direita tirou o tapete a Mario Monti, a quem o Presidente dera o poder em Novembro de 2011, com garantias de que o PD e PdL o apoiariam.

“A esquerda ocupou todos os cargos e se fizer o mesmo para o Quirinale [palácio que é a sede da presidência] nós bloquearemos o Senado e talvez o Parlamento e levaremos o protesto para as praças, porque isso será um golpe em Itália”, avisou Berlusconi. Os resultados das eleições permitem-lhes fazer estas ameaças.

O PD tem maioria na Câmara dos Deputados (graças à lei eleitoral, que oferece um prémio ao bloco mais votado), mas o sufrágio não permitiu atribuir o prémio de maioria previsto no Senado a nenhum partido. Na câmara alta, com quase tanto poder como a baixa, o centro-direita elegeu 117 senadores,  pouco menos do que os 120 do PD. O 5 Estrelas de Beppe Grillo tem 54 senadores mas recusa apoiar Bersani.

E é verdade que o PD já fez eleger os seus candidatos para a presidência de ambas as câmaras do Parlamento – Laura Boldrini, na Câmara dos Deputados; Pietro Grasso, no Senado. E que em Maio Napolitano termina o seu mandato e os partidos têm de se pôr de acordo entretanto para escolher um novo chefe de Estado, votado pelos parlamentares.

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