Cérebro dos veteranos revela pistas sobre Síndrome da Guerra do Golfo

Equipa de investigadores analisou cérebro de soldados da guerra de 1990-1991 e encontrou uma região danificada que está associada à percepção e dor.

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Ainda não se sabe qual é a causa da síndrome dos soldados que combateram na Guerra do Golfo Andy Clark/Reuters (arquivo)

No final da Guerra do Golfo houve um mal que muitos soldados trouxeram para casa caracterizado por dores crónicas, fadiga, disfunções cognitivas a que se chamou de Síndrome da Guerra do Golfe. Passados mais de 20 anos, uma equipa de investigadores conseguiu associar mudanças físicas no cérebro de alguns veteranos que sofrem deste problema. O trabalho foi publicado na revista PLoS One na semana passada.

Entre 1990 e 1991 centenas de milhares de soldados foram colocados no Médio Oriente na guerra liderada pelos Estados Unidos contra o Iraque. Mais de um quarto dos 697.000 soldados mobilizados voltaram com uma panóplia de problemas de saúde que afectam desde o sistema digestivo até ao sistema cognitivo. Muitos deles sentem dores em actividades normais.

Embora estes soldados tenham estado expostos a vários químicos como agentes nervosos, pesticidas, herbicidas, nenhuma substância foi associada de uma forma definitiva a todos estes casos. Ainda assim, investigadores da Universidade de Georgetown, Washington, nos Estados Unidos, conseguiram pela primeira vez ter aquilo que parece ser uma base neuro-anatómico da doença.

A equipa liderada por James Baraniuk analisou os cérebros de 31 veteranos com esta síndrome e comparou-os com 20 pessoas que serviram como controlo. Os resultados dos exames de ressonância magnética mostraram que os veteranos tinham danos significativos nos axónios – os longos filamentos das células nervosas que transmitem impulsos eléctricos de modo a que a informação seja passada entre as várias regiões do cérebro.

A região onde estes axónios se encontravam afectados no caso dos veteranos de guerra estava numa parte do lobo frontal do cérebro associado à dor mais intensa e à fadiga. “Esta via de neurónios está envolvida na fadiga, na dor, no processamento emocional e de recompensa. Esta via também suporta a actividade na rede de atenção, que procura por sinais inesperados no ambiente envolvente que podem ser interpretados erradamente como fontes de perigo ou causadores de dor”, explica num comunicado Rakib Rayhan, um dos autores do estudo.

O trabalho foi financiado pelo Departamento de Defesa norte-americano. Os resultados parecem, para já, distintos do que se observa no caso de doenças como a esclerose múltipla, a depressão, a doença de Alzheimer ou outras doenças neurodegenerativas. Um dos objectivos agora é tentar encontrar uma terapia.

“A dor e a fadiga são percepções, tais como outras entradas sensoriais, e a Síndrome da Guerra do Golfo pode ser causada pelo dano extensivo das estruturas que facilitam este sistema”, diz Rayhan. “Alguns destes veteranos sentem dores quando fazem alguma coisa tão simples como pôr uma t-shirt. Agora temos alguma coisa que lhes pode explicar porque é que as suas vidas foram tão fortemente afectadas.”
 

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