Merkel avisa Nicósia para não pôr à prova a paciência da troika

Alemães pressionam para que Chipre negoceie rapidamente alternativas para garantir o plano de resgate.

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Nuno Ferreira Santos

A chanceler alemã, Angela Merkel, avisou o Governo de Nicósia de que não deve pôr à prova a paciência da troika nas negociações para o resgate de Chipre, disseram nesta sexta-feira deputados alemães citados pela agência Efe.

Segundo as mesmas fontes, o aviso de Angela Merkel a Chipre foi feito numa reunião extraordinária do grupo parlamentar do partido CDU/CSU (democratas-cristãos e sociais-cristãos bávaros).

Os deputados avançaram que a chanceler alemã criticou a ausência de comunicação e contactos durante vários dias entre Nicósia e a troika, composta pela Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Central Europeu (BCE), sobre as alternativas das autoridades cipriotas para evitar a bancarrota no país. Os deputados indicaram ainda que também o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, alertou Chipre, na mesma reunião, para não esperar que a troika permita que tudo se mantenha como está.

Por seu lado, o ministro dos Assuntos Exteriores, Guido Westerwelle, exigiu transparência ao Governo cipriota, sob pena de a União Europeia poder paralisar por causa da atitude de Nicósia. “Estou muito preocupado, já que está a acontecer, face à atitude cipriota, uma paralisação nas decisões da União Europeia, o que naturalmente não é bom para ninguém", afirmou Westerwelle no jornal da manhã da televisão pública alemã ARD.

Depois de exigir que Chipre respeite as regras do jogo, Westerwelle afirmou que os Estados “estão dispostos a ser solidários, mas que os países que pedem essa solidariedade devem estar dispostos a cumprir os seus deveres”.

Entretanto, o Parlamento de Chipre voltou a adiar uma sessão extraordinária, enquanto continua a análise das propostas para conseguir milhares de milhões de euros e garantir o plano de resgate e evitar a bancarrota, noticiaram os media. A sessão, que devia ter começado às 8h00, foi adiada para que a Comissão Parlamentar das Finanças continue a análise dos projectos de lei, acrescentaram.

Sob pressão do Eurogrupo, e depois de terem fracassado as negociações com os russos, o Governo cipriota está a tentar encontrar um "plano B" aceitável para os europeus, depois de o Parlamento ter rejeitado, na terça-feira, um projecto inicial de um imposto sobre as contas bancárias, que devia arrecadar 5,8 mil milhões de euros. O Banco Central Europeu (BCE) anunciou já que na segunda-feira vai cortar a liquidez aos bancos cipriotas, a menos que seja alcançado um acordo aceitável entre Nicosia e os financiadores.

Os bancos, fechados desde 16 de Março, só deverão reabrir na terça-feira, por recearem um levantamento em massa de fundos. A bolsa também está fechada.

Na quinta-feira, o Presidente cipriota, Nikos Anastasiades, reunido durante várias horas com os ministros e os líderes partidários, decidiu reestruturar o sistema bancário, em quebra por contágio da dívida grega e sob ameaça de bancarrota. O projeto de lei elaborado na reunião prevê a instauração de um fundo de solidariedade, de contornos ainda pouco definidos. Outra proposta limita os movimentos de capitais, essenciais no “plano B”, que deviam ser submetidos à votação no Parlamento.

O “patrão” do Popular Bank, a segunda instituição bancária de Chipre que poderá ser responsável pelos custos de uma reestruturação do sistema bancário, denunciou esta sexta-feira o “plano B” do Governo, preferindo a solução dos impostos sobre os depósitos bancários para conseguir fundos. “Apesar de a proposta inicial do Eurogrupo ser dolorosa, seria a garantia de futuro do sector bancário”, disse à rádio Takis Phidias o presidente do Popular Bank.

Com tudo isto, as principais bolsas europeias arrancaram nesta sexta-feira em baixa, com os investidores pendentes da evolução do resgate a Chipre.

 
 
 

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