Sobre Óscar Lopes

Depoimento de Carlos Reis, ensaísta e professor universitário

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O Prof. Óscar Lopes não foi apenas um grande professor e um grande investigador, o que já não seria pouco. Foi também um grande intelectual, no sentido mais nobre, militante e empenhado do termo. Autor de uma obra vastíssima, como historiador da literatura, ensaísta, crítico literário e linguista (faceta talvez menos conhecida, mas não menos relevante do seu labor), Óscar Lopes foi uma personalidade muito marcada, até 1974, pelo de silenciamento e mesmo pela repressão que lhe foi movida pelas instâncias do poder vigente, o que limitou, até então, a projeção da sua atividade como crítico, investigador e professor.

De toda a vasta obra que Óscar Lopes nos lega, destaca-se, certamente como título mais notório, a História da Literatura Portuguesa, que escreveu em co-autoria com António José Saraiva, um manual que conta com um número invulgar de edições e de reimpressões; fica assim  bem evidente o amplo acolhimento que aquele manual conheceu, por parte de várias gerações de estudantes e de professores, em Portugal e também no Brasil. Entre muitas outras coisas, a História da Literatura Portuguesa de Óscar Lopes e António José Saraiva (publicada pela primeira vez em 1953 e objeto de sucessivas atualizações), ensinou-nos a olhar de forma diferente para a nossa história literária; muito marcada até então por uma perspetiva biografista e às vezes acentuadamente celebratória, a história literária portuguesa passou, a partir da   História da Literatura Portuguesa de que Óscar Lopes foi co-autor, a ser relacionada com os contextos sociais, políticos e económicos  em que se enquadrava. A formação marxista de ambos os autores era, em 1953, determinante, mas não contaminava, com uma leitura estreitamente ideológica, os  textos e os autores representados na  História da Literatura Portuguesa.

Este é um aspeto que quero realçar. Conheci sempre no Prof. Óscar Lopes uma personalidade tolerante e dialogante, aberta a outras ideias e formas de pensar diferentes das suas, interessado e profundo conhecedor da música (o que bem se vê em Uma arte de música e outros ensaios, de 1986), das artes plásticas,  da filosofia e do pensamento religioso. Posso dizer, sem exagero, que Óscar Lopes era detentor de uma cultura literária absolutamente impressionante, que sempre levava às intervenções que fazia, em conferências, em congressos e em colóquios, sem exibicionismo, mas com um vigor participativo e com uma abertura ao debate invulgares.

Registo ainda, em evocação necessariamente sumária, mas muito grata ao  que aprendi com  Óscar Lopes, a importância de títulos  como   Os Sinais e os Sentidos: Literatura Portuguesa do Século XX(1986),  Entre Fialho e Nemésio: Estudos de Literatura Portuguesa Contemporânea (1987)  e A Busca de Sentido. Questões de Literatura Portuguesa (1994). Em todos eles fica-nos uma herança de grande sensibilidade crítica, de grande argúcia interpretativa e de enorme dedicação à literatura e à cultura portuguesas.

O autor, ensaísta e professor universitário, especialista em Eça de Queirós, escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
 

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