Morar em Thompson: a aventura canadiana de Frank Costa, um “Nickel Farmer” de 27 anos

Frank desistiu do jornalismo em Portugal para regressar às suas origens na longínqua província de Manitoba. Não se arrepende da escolha mas, no entanto, deseja regressar ao país onde cresceu

Frank nasceu no Canadá mas aos três anos já andava por terras lusas
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Frank nasceu no Canadá mas aos três anos já andava por terras lusas
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Uma das vantagens de escrever esta rubrica é conhecer gente um pouco por todo o mundo. Sempre pessoas interessantes e com histórias diferentes. A do Frank marcou-me de forma particular. Não só por ser alguém que estudou e exerceu profissão semelhante mas, principalmente, por ter tido a coragem de ir para um lugar um tanto inóspito como Thompson.

Frank quem? Pois, o nome é estranho para um lusitano… Mas é português de gema. Pode ter nascido no Canadá (filho de emigrantes) mas aos três anos já andava por terras lusas. E foi assim durante toda a sua vida, pelo menos até há pouco mais de um ano. Resolveu mudar de vida e ir à procura de algo que o pudesse satisfazer monetariamente. O suficiente para um dia, e segundo ele, poder regressar de forma confortável e com capacidade para investir em algo que o faça sentir realizado enquanto português.

O Frank cresceu em Mozelos, uma vila do concelho de Santa Maria da Feira, e acabaria por tirar o curso de jornalismo na Universidade Fernando Pessoa. Foi jornalista na área do futsal e chegou a trabalhar num canal televisivo regional. Com o passar dos anos cansou-se dos ordenados baixos e acabou por abraçar uma aventura do outro lado do Atlântico, onde ainda tinha algumas raízes familiares.

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Jorge Baldaia escreve quinzenalmente a rubrica Notícias do Lado de Lá

Foi uma opção ponderada e da qual não se arrepende. “A decisão de emigrar não foi nada fácil. Não foi por conselho do primeiro-ministro que o fiz mas sim por adivinhar que a situação se iria tornar insustentável, como tem sido o caso. Lamento o estado em que o País se encontra nesta altura e acho que a minha decisão foi a melhor para mim e para a minha família. O conselho que posso dar a quem está a passar dificuldades é seguir o mesmo rumo”. Não poderia ser mais direto e claro nas suas palavras.

A cidade do Níquel

De forma assim mais simples poderíamos dizer que Thompson fica algures no “cú de Judas”. Não é nenhuma mentira. Basta olhar para o mapa. Mas também temos que admitir – isto é um facto real - que tem importância na economia canadiana. Além do frio, do isolamento e da monotonia, é um centro industrial de extração de níquel a nível mundial. E fica rodeada por mais de 100 mil lagos de uma beleza indiscritível, com destaque para o Paint Lake, e ainda perto de Pisew Falls e as suas cataratas admiráveis. Local ideal para “pescar e apreciar a paisagem de forma relaxante”, refere o Frank.

Mas o que é que o Frank faz em Thompson? Trabalha na VALE, uma empresa que se dedica à exploração e processamento de níquel. Sobre aquilo que faz na VALE, Frank admite que não é fácil de explicar: “Trabalho na refinaria e o nome exato do que faço é plating tank man ou, como eles chamam de forma carinhosa, nickel farmer. Digamos que trabalho nos tanques onde é processado o níquel desde o nascimento das folhas até ao momento em que ganham forma e peso. É um trabalho pesado e que requer muita atenção pois lidamos com material perigoso e estamos sujeitos a várias lesões”. Felizmente o Frank é uma pessoa cuidadosa e sempre com os olhos bem abertos.

Mudando a conversa para a parte social e descobre-se que as diferenças com Portugal parecem ser, pelas suas palavras, consideráveis. “Há abundância de emprego bem remunerado. Pelo que vejo até a oferta é maior que a procura”, salienta. Além disso existem várias culturas, como a dos índios nativos. E depois há o isolamento e o frio. “Estamos a cerca de 800 quilómetros de distância da maior cidade da província e, depois, o frio é horrível. Nos meses de janeiro e fevereiro ronda os 50 graus centígrados negativos”, refere. Outro aspeto que Frank realça passa pelo facto “de se casarem muito novos e saírem logo de casa dos pais”. Presumo que este tipo de emancipação seja difícil de compreender para muitos pais portugueses.

Quando questionado sobre um possível regresso Frank não poderia ser mais esclarecedor: “Adorava poder regressar por motivos familiares e por muitas outras coisas, mas com a conjuntura económica isso é algo que não passa pelo meu horizonte num futuro a breve prazo. Continuo a acompanhar as notícias de Portugal e assusto-me sempre com as notícias da crise”. Ele e creio que todos os portugueses com o mínimo de sensibilidade social.

Uma coisa é certa, no próximo verão o Frank visita Portugal pela primeira vez desde que fez as malas e entrou num avião rumo a terras canadianas. Na altura farão cerca de 20 meses de ausência. Espero que não se assuste ainda mais com a realidade que vai encontrar. Era mau sinal.

Esta crónica é escrita ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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