Jardim transforma moção de confiança ao Governo Regional em censura a Lisboa

Líder regional justificou que “tudo o que se fez na Madeira foi legal” e voltou a ameaçar com a independência da ilha.

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Líder regional fez questão de se demarcar do Governo de Passos Coelho e do CDS, dizendo que esse executivo "não é" o seu. Daniel Rocha

Alberto João Jardim transformou a moção de confiança ao seu Governo, aprovada esta terça-feira com os votos do PSD, numa censura ao “poder colonialista” de Lisboa e contra a oposição regional “inculta”, “medíocre” e a “necessitar de ir ao psiquiatra”.

“Aqui a reacção não passará”, garantiu o governante regional que, mais uma vez, ameaçou com a independência da Madeira “se for preciso”.

Recebido à entrada do Parlamento com manifestações contra e a favor, Jardim confirmou que pretendia com esta moção “mobilizar os deputados da maioria” e obter o seu apoio para “continuar a lutar, denunciar e atacar” contra “os obstáculos levantados pelo poder colonialista de Lisboa a autonomia”. Mas também lutar contra a “classe política sem categoria que não esteve à altura de segurar o país” e para alterar o actual regime constitucional. Pediu também à sua bancada “força para continuar a combater a justiça politizada e as forças ocultas que estão a dar cabo de Portugal”.

“Temos de acabar com este regime político”, apelou, no discurso final a que não assistiram os deputados da oposição, que abandonaram o hemiciclo em protesto pela ausência dos governantes durante as suas intervenções.

Na sequência das posições defendidas no conselho regional do PSD, realizado no sábado, o governante criticou “o Governo de Passos Coelho e do CDS” – que “não é o meu”, frisou – pelas “erradas medidas académicas” que “impõem mais impostos aos portugueses” e estão a “tramar a Madeira”.

Na intervenção final, Jardim acusou “o Estado de um calote de 460 milhões de euros” para com a região, resultante de um atraso na transferência de 265 milhões do Fundo de Coesão e de 195 milhões do empréstimo do Banco Europeu de Investimento concedidos no âmbito da Lei de Meios para a reconstrução do temporal de 2010. Acusou ainda o Governo da coligação de aprovar uma “vergonhosa Lei de Finanças Regionais que retira o Fundo de Coesão e a parcela das privatizações” a que, diz, a região tem direito.

“Viemos aqui para defender que tudo o que fizemos na Madeira foi legal” e “em nome dos madeirenses”, frisou o presidente do Governo, que apresenta a sua primeira moção de confiança, em 37 anos, na sequência de notícias que referiam estar para breve a acusação do DCIAP a todos os membros do executivo regional pelo crime de prevaricação, no âmbito do inquérito aberto pela Procuradoria-Geral da República à ocultação da dívida pública regional.

 Oposição lembra dívidas escondidas e diz que madeirenses já não confiam em Jardim
O deputado centrista José Manuel Rodrigues requereu que a moção de confiança fosse feita nominalmente, o que foi rejeitado pelo PSD. "O senhor sabe que se a moção fosse a voto secreto esta tarde o senhor já não era presidente do Governo. E esse é o seu drama. Até os deputados do PSD já não confiam em si", declarou Rodrigues. “Nada mais falso”, garantiu o social-democrata Jaime Filipe Ramos, que acusou a oposição de dar lições em matéria de traição.

O líder parlamentar do PS, Carlos Pereira, acusou Jardim de ter “escondido dívidas no valor de 20% do PIB regional debaixo dos tapetes da Quinta Vigia”. Victor Freitas, dirigente socialista, desafiou Jardim a demitir-se, por já ter “perdido a confiança da população” que antes considerava “povo superior” quando o aplaudiam e, agora, quando o contestam, classifica de "cachorros".

Para Edgar Silva (PCP), Jardim, de intitulado “obreiro da autonomia”, entrará na história como “o coveiro-mor da autonomia” porque, “depois de dispor de milhões, tudo esbanjou, tudo desperdiçou e faliu a Madeira”. Na opinião de Roberto Vieira (MPT), Jardim "deve pedir perdão a todos os madeirenses" por aquilo que prometeu nas últimas eleições e não cumpriu. Segundo Hélder Spínola (PND), a moção constitui um “atestado de demência a um governo que perdeu a noção da realidade”.

Com a galeria destinada ao público completamente ocupada por alunos de uma escola particular subsidiada pelo Governo Regional, o que impediu a entrada de outros cidadãos interessados, o debate abriu com o deputado do PTP, José Manuel Coelho, a oferecer a Jardim uma farda listada de presidiário. Em retribuição recebeu do governante uma fotografia de um burro.

Enquanto decorria a discussão – com transmissão online suspensa e feita excepcionalmente com a porta do Parlamento fechada e protegida por um forte dispositivo policial –, em frente ao edifício manifestantes cantavam Grândola, vila morena e gritavam "está na hora de o Governo ir embora!". Um grupo do PND exibia um cartaz a dizer "Troika fora! Jardim e companhia para dentro" e um desenho de Jardim atrás de grades. Em resposta, ouviam jovens da JSD gritar "Alberto amigo, a juventude está contigo", "Queremos Alberto a presidente"e “Alberto João, olé/ Alberto João, olé, olé, olé”.

 No final do debate, Jardim utilizou uma porta secundária para sair do Parlamento. Assim evitou cruzar-se com as dezenas de manifestantes que se concentraram junto à entrada principal da assembleia, onde ficou estacionada a viatura oficial do presidente madeirense, que regressou à sua residência noutro automóvel.
 
 
 
 
 
 

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