“Judeus Errantes”, de Joseph Roth

Joseph Roth construiu sobre a sua dor uma obra importante para a compreensão do judaísmo. “Judeus Errantes” é um livro precioso

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Nir Elias/Reuters
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Joseph Roth nasceu em 1894, em Brody, cidade pequena na Galícia Oriental que ficava na extremidade do Império Austro-Húngaro. A edição da Sistema Solar é a primeira a ser traduzida directamente da “única edição publicada em vida do autor em 1927”.

A errância de um povo, tanto na história como na geografia, é o tema dominante de “Judeus Errantes”. Nas palavras de Roth: “Quanto mais ocidental for a origem do judeu, mais judeus há para os quais ele olha com desdém. O judeu de Frankfurt olha com desdém para o judeu de Berlim; o judeu de Berlim olha com desdém para o judeu de Viena; o judeu de Viena olha com desdém para o judeu de Varsóvia. Depois, vêm ainda os judeus da longínqua Galícia, que são desdenhados por todos eles, e eu sou de lá, o último de todos os judeus.” (pp.11)

A visão de Roth é sarcástica, cruel, mas pontuada, também, por compaixão. A ironia do autor acompanha a análise de três vectores importantes do judaísmo do centro/leste da Europa: relação com um Deus punitivo e intolerante para com o prazer; relação com outras culturas; relação com um Estado Judaico.

Os judeus são uma pluralidade de povos, de costumes e com diferentes graus de adaptação cultural. Essa adaptação varia entre a assimilação e a inadaptação.

A dialéctica com a fé difere de geração para geração. A sobrevivência de costumes antigos é pressionada pela visão diferente de uma mais recente geração de judeus. Enquanto os avós lutavam com Jeová, batiam com a cabeça contra os muros do templo, imploravam pelo castigo devido ao comportamento pecaminoso, os netos ocidentalizaram-se. As preces tornaram-se fórmulas, e os rituais suavizaram a dor e a entrega.

“Quem tem esta cultura, pode já desprezar o primo, que, ainda, genuíno e intacto, vem do Leste e possui mais humanidade e divindade do que todos os pregadores podem encontrar nos seminários de teologia da Europa Ocidental.” (pp. 48)

As oposições entre costumes não se resumem, no entanto, à questão religiosa. O Estado Judaico transformou-se de um estado emocional, idílico, para um terreno com fronteiras. O “judeu de Deus” odeia o sionista e vê a liberdade pessoal e nacional com indiferença. Os homens não lhe podem dar nada de bom. Ele sabe que, apesar de todas as injúrias, o futuro irá trazer-lhe a salvação.

O sionista não pensa assim. Ele quer uma nação judaica que se assemelhe às nações europeias. Roth é duro para com os sionistas: “Ter-se-á então talvez uma terra própria, mas sem judeus”. (pp.57)

“O Carvalho de Goethe em Buchewald”, artigo complementar de “Judeus Errantes”, acrescenta ainda mais qualidade ao livro. No seu derradeiro artigo, o autor aborda a dialéctica entre beleza e horror. “Os carvalhos alemães, à sombra dos quais Goethe se sentou com Frau von Stein, permanecem intactos entre a cozinha do campo de concentração e a sua lavandaria, unicamente graças a uma lei de protecção da natureza.” (pp. 26)

Joseph Roth construiu sobre a sua dor uma obra importante para a compreensão do judaísmo. “ Judeus Errantes” é um livro precioso.

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