Justin Bieber, o anjo caído do céu

Sem polémicas, a receita de sucesso foi aplicada em Lisboa. Fãs em histeria.

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Miguel Manso
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E pronto, o concerto acabou tal como começou, ou seja, com o nível de histeria ao máximo. Chorou-se no princípio, gritou-se até não se poder mais e chora-se na despedida. Justin Bieber já cá esteve e já foi. Uma coisa é certa, hoje ou não se dorme ou sonha-se com, está claro, Bieber, que competentemente soube responder às expectativas com um espectáculo pensado até ao último pormenor. Do levantar da camisola à frase feita, o canadiano sabe o que tem a fazer. E para isso não precisa nem de cantar.

Ainda faltavam duas horas para o concerto começar e já qualquer coisa que mexesse no palco desencadeava uma gritaria desmedida sem explicação. Na rua, à porta do Pavilhão Atlântico, o ambiente era o mesmo. Qualquer movimentação suspeita era motivo de gritos. E se de um lado se gritava, do outro respondia-se da mesma forma, ainda que não se soubesse porquê.

Não dá para ir à casa de banho nem para comer, e mesmo tirar uma foto torna-se difícil quando de minuto a minuto se começa a gritar como se Justin Bieber estivesse ali. “Ainda não é ele, ainda não é”, dizem, recuperando o fôlego ou não tivessem de estar prontas para gritar a qualquer momento. Elas, são principalmente raparigas, sabem que é sempre falso alarme mas não conseguem não reagir. Justin Bieber não está em palco mas está no Pavilhão Atlântico e isso basta-lhes.

“Oh mãe como se escreve Bieber?”, pergunta uma menina que não terá mais de dez anos. Está sentada no chão do Pavilhão Atlântico e enquanto espera que o concerto comece prepara um cartaz a dizer “I love Justin Bieber”. Não sabe escrever o nome do seu ídolo e dificilmente perceberá o que ele canta mas isso não interessa nada. Até porque não é a única. A média de idades só não é tão baixa pela presença dos pais, que também são muitos.

Não é por isso de estranhar também a hora do concerto, afinal terça-feira é dia de escola. Às 18h abriram as portas e às 19h30 Carly Rae Jepsen apareceu em palco. Mas não era a jovem canadiana que eles queriam ouvir, ainda que com o hit Call Me Maybe tenham disfarçado muito bem. Mesmo assim a histeria foi maior quando Carly perguntou se estavam preparados para receber o “mister Justin Bieber”.

E se em Londres o músico chegou duas horas atrasado, em Lisboa não podia ter sido mais pontual. Eram 20h20 quando a música de Michael Jackson, que animava o intervalo, terminou para no ecrã gigante do palco também gigante aparecer uma contagem decrescente. Dez minutos faltam para que o sonho destes fãs se torne real. Cinco, quatro, três, dois… E pronto é a loucura. A contagem ainda não acabou e os gritos já não deixam ver nada. Sim, ver. Porque, para gritar assim, só de olhos fechados.

E eis que no ecrã alguém aparece para anunciar o que já se sabia: “Bieber is here.” E a expressão “um anjo caído do céu” nunca fez tanto sentido para estas pessoas. Justin Bieber aparece pendurado com umas asas maiores do que ele. Aterra no palco e deixa que se continue a gritar. Ele não só sabe o que tem de fazer, como gosta de sentir esse poder.

You’re beautiful, beautiful. You should know it…” Ele nem precisa de continuar a cantar porque todos sabem a letra de All Around The World, tema que abre o concerto. Ouvem-se tão bem quanto Bieber, rodeado de bailarinos. Fogo-de-artifício, confettis, jogo de luzes poderoso e ainda só estamos na primeira música. Isto promete.

O olhar que as derrete
Justin Bieber tem a receita do sucesso. À semelhança de Lady Gaga ou Britney Spears, também Justin tem um espectáculo megalómano, capaz de deixar qualquer um de boca aberta. O elevador que o leva para cima do palco, a grua que o transporta por cima dos milhares de fãs, a banda que o acompanha, os bailarinos que são também entertainers. Está tudo pensado ao mais ínfimo detalhe. Ele sabe o olhar que as derrete, as músicas que eles querem cantar, as frases que todos querem ouvir.

I’m gonna take you with me, Portugal. Are you ready?”, grita Bieber, sabendo que não precisa de levar ninguém com ele porque já todos estão ali só para si. Também por isso ninguém vai notar se ele não cantar tão bem, que não canta, como nos álbuns. O passo de dança certo e já ninguém repara no resto. E ele sabe disso.

Segue-se Take You e Cathing Feelings, êxitos do último álbum, e Bieber desaparece do palco. Foi mudar de roupa e enquanto isso no ecrã surgem imagens que retratam o percurso do músico até aqui. Imagens de Bieber em entrevistas, concertos, prémios. Bieber, Bieber, Bieber, Bieber. As imagens mudam e o nome repete-se. Os gritos continuam e Justin aparece novamente. Desta vez de baixo do palco.

I say Justin, you say Bieber. Justin Bieber, Justin Bieber, Justin Bieber”, grita o DJ. Bieber dança e começa One Time, Ennie Meenie e Somebody to Love, música antiga que conta com o apoio de Usher. E, depois de tanta dança, chega a primeira balada. Estava a faltar. Para não fugir ao cliché, imagens de chuva nos ecrãs, e Justin Bieber sentado nas escadas do enorme palco a cantar de guarda-chuva Love Like You Do. Elas amam, ele não, pelo menos da mesma forma.

E se, em Londres, Justin Bieber ameaçou um fotógrafo, aqui ele bateu mesmo em alguns. Pelo menos no vídeo que aparece de iniciação à música She Don’t Like the Lights, onde Bieber aparece, qual James Bond, vestido de fato a fugir aos paparazzi.

O nível de histeria só fica maior quando Bieber mostra a barriga para pôr o cinto de segurança na grua que o vai levar a viajar por cima dos fãs enquanto canta Die in Your Arms. Tira o cinto e volta a mostrar a barriga. O gesto não é inocente, ele sabe que o querem ver sem camisola.

Pausa para apresentar a banda, sai para mudar outra vez de roupa e por instantes o palco transforma-se numa discoteca. Os bailarinos dançam Danza Kuduro e Papa Americano com bandeiras de Portugal. “Jump, Jump, Jump.” A festa está instalada.

Marta, a special girl
Venha o Bieber outra vez. Agora com Out of Town Girl, música em que elas não sabem mas ele tem um plano para as derreter. Pega numa câmara de filmar, que está pousada à frente do palco, e filma-as. Estão no ecrã gigante e por isso é para lá que estão virados os olhares. Ele sabe e vira a câmara para si, canta para a câmara, ou seja, para o ecrã, e, tal como num qualquer videoclip, esboça um sorriso, que de genuíno tem pouco. Foi ensaiado para as fazer gritar.

Assim como as frases feitas que se seguem. “Agradeço a cada um de vocês, são muito importantes para mim”, diz Bieber, ainda que qualquer coisa que diga seja difícil de se perceber porque os gritos são sempre muitos. Mais um momento com um vídeo em que Bieber é uma criança que mal sabe falar mas já diz que quer ser cantor. Depois, alguns dos vídeos que publicou no Youtube, ainda miúdo, e que o transformaram neste fenómeno. E uma mensagem para as fãs: “Acreditem sempre e lutem pelos vossos sonhos. Independentemente do que for o vosso sonho. Seja ser médico, polícia ou música.” O momento é calmo, prestes a explodir com Never say Never, uma das músicas mais conhecidas de Bieber.

E o que seria deste concerto se pelo menos uma fã não fosse ao palco? Pois é, houve uma jovem com sorte. Marta teve direito a trono e coroa e mais, do que isso, a Bieber a cantar para si, para inveja de todos os que os observavam. Isto, minutos antes de Bieber dizer que estava à procura da “Special girl”. “Vai ser esta noite?”

Os hits seguem-se, com Beauty and the Beat, e o fim aproxima-se. “Tenho uma boa e uma má notícia. Qual é que querem primeiro?”, pergunta o músico. “A má é que esta é a minha última música e a boa é que esta é uma música que escrevi a pensar em vocês, para cada um de vocês.”

Justin Bieber senta-se ao piano, já depois de ter tocado guitarra e bateria, mostrando os seus dotes musicais, e toca Believe, música escrita por ele e que fala da sua chegada ao top da música mundial.

Sai do palco mas também se sabe que vai voltar. Mais uma mensagem nos ecrãs, desta vez a pedir mais gritos e pulos. Há miúdos que já choram outra vez porque sentem que está acabar. E claro que não acabaria sem a Baby, o primeiro grande single de Bieber. Pouco cantou aqui mas, mais uma vez, não precisou.

Ele conquistou e cumpriu, mostrando por que chegou até aqui. O Pavilhão Atlântico não esgotou mas o nível de decibéis foi sempre elevado. Tanto que mesmo a saída foi feita em, adivinhe-se, gritos. E cá fora, à chuva, lá estavam eles, os pais, os que não foram ao concerto mas que não deixaram de ir buscar os filhos.
 

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