Seguro quer Europa a comparticipar pagamento do subsídio de desemprego

Moção do líder socialista ao congresso de Abril assume parte da responsabilidades do PS na crise e promete nova lei eleitoral para as legislativas.

Foto
Congresso do PS realiza-se entre 26 e 28 de Abril. Rui Gaudêncio

O secretário-geral do PS quer colocar o combate ao desemprego como prioridade também das instituições europeias, e para isso quer que estas assumam a sua co-responsabilidade e ajudem a pagar o respectivo subsídio.

Esta é uma das propostas que consta na moção que António José Seguro vai levar ao XIX Congresso Nacional do PS, que se realiza entre 26 e 28 de Abril. O texto, intitulado Portugal tem Futuro, baseia-se essencialmente no Documento de Coimbra, elaborado pelo líder socialista e que integrou também contribuições de António Costa. O documento acabou por servir como uma espécie de cachimbo da paz entre os dois, depois de o actual autarca lisboeta ameaçar disputar a liderança com Seguro.

Na moção de 35 páginas, Seguro faz uma análise muito crítica do momento em que o país vive, lembra os níveis recorde de desemprego, a recessão profunda, a alta dívida pública e os falhanços das metas do défice orçamental. A culpa é deste Governo PSD/CDS-PP, da sua perspectiva errada da realidade do país e da sua “obsessão” com a austeridade.

Mas não só. Seguro faz também uma espécie de acto de contrição. Primeiro diz que “justo será reconhecer que todos os governos tiveram a sua responsabilidade na situação do país”. E em seguida afirma: “O PS assume por inteiro todas as suas responsabilidades passadas e presentes.”

Porém, se nada for feito de diferente das políticas seguidas por esta coligação, o cenário vai piorar, avisa o líder socialista. Porque este Governo é “impreparado”, “não acertou uma previsão e falhou todos os objectivos”, “está de costas viradas para os portugueses, nega a realidade e sempre recusou as propostas do PS para sair da crise”.

Ora, precisamente, “sair da crise é uma emergência”, lê-se na moção. Como tal, Seguro promete uma “oposição séria, firme e construtiva”, que será concretizada através de um “contrato de confiança assente numa forma diferente de exercer a política”. Como? “Respeitando os compromissos, honrando as promessas eleitorais, separando a governação pública dos negócios privados, com transparência.”

Para sair da crise é preciso uma “resposta articulada e coerente ao nível nacional e europeu”. Por isso, o PS quer uma “política europeia de progressiva mutualização dos sistemas de apoio ao emprego e de combate ao desemprego, em particular do subsídio de desemprego”, em consonância com um programa europeu de combate ao desemprego jovem financiado por taxas bancárias e fundos comunitários não usados.

Seguro propõe também, entre outras matérias, a mutualização de parte da dívida dos Estados, a criação da união bancária, a convergência fiscal e a eliminação de paraísos fiscais. A isto soma-se um acordo de concertação estratégica, que implique, por exemplo, a estabilização, a médio prazo, do quadro fiscal e das prestações sociais, a evolução dos salários em função dos ganhos de produtividade, aumento do salário mínimo e das pensões mais reduzidas.

Para o relacionamento com os credores, a moção reafirma as convicções socialistas de que o país tem de renegociar as condições de ajustamento ao nível das metas, prazos – para o défice, pagamento da dívida e dos juros – e juros.

A nível interno, o PS propõe uma agenda para o crescimento e o emprego, que implica a qualificação, o financiamento da economia e capitalização das PME, a redução dos custos de contexto das actividades económicas, apoio à investigação, promoção das energias renováveis, promoção das exportações e captação de investimento directo estrangeiro.

Se o PS tem rejeitado discutir o corte de 4000 milhões de euros que o Governo começou por classificar como a reforma do Estado, Seguro recusa aqui o corte, mas quer “liderar o debate sobre a reforma do Estado” – na Educação, na Saúde e na Segurança Social, mas também no sistema político.

Neste último capítulo, o líder socialista promete rever a lei eleitoral da Assembleia da República, respeitando as “regras da proporcionalidade, governabilidade e aproximação dos eleitos aos eleitores”, alargando, por exemplo, os mecanismos de participação dos cidadãos. E propõe-se ainda combater a corrupção e defender o “princípio da transparência activa” ao nível público, definindo “regras de transparência, registo e âmbito da actividade de lóbis” e criando “mecanismos severos de incompatibilidade, impedimentos e registos de interesses acessíveis”.

Olhando para dentro do partido, Seguro quer “mobilizar e reforçar a confiança dos portugueses no PS”, abrindo o partido, mas tornando-o  também mais coeso. Promete uma “nova forma de fazer política” que passa pela “regra de ouro” de “não prometer nada na oposição que não possa cumprir quando for governo”.
 
 

Sugerir correcção
Comentar