Cardeais querem conhecer conclusões de investigação ao escândalo Vatileaks
O acesso ao documento que o diário italiano La Repubblica alegou estar na origem da renúncia do Papa Bento XVI foi debatido na reunião do colégio cardinalício.
Um grupo de cardeais exigiu conhecer as conclusões da investigação encomendada por Bento XVI à fuga de informação de documentos secretos do Vaticano, conhecida como "Vatileaks", antes do início do conclave destinado a eleger o novo Papa.
Na primeira reunião preparatória do colégio cardinalício, destinada a acertar a data do conclave, o relatório originado pelo Vatileaks foi motivo de debate. Sem outros comentários, o porta-voz do Vaticano considerou “normal” o desejo dos cardeais de se inteirarem da “situação” – Federico Lombardi nada disse sobre se o pedido de acesso ao documento produzido por uma comissão de três cardeais da confiança de Bento XVI seria atendido ou não.
O presidente da Conferência Episcopal do Brasil, Raymundo Damasceno, foi um dos que exprimiram publicamente o seu desagrado na segunda-feira com a reserva do relatório que será transmitido por Bento XVI ao seu sucessor. “Por que é que os cardeais, que são os conselheiros mais próximos do Papa, não podem ter acesso a esse documento?”, questionou.
Damasceno, que é o arcebispo de Aparecida, falava em nome dos cinco cardeais brasileiros que participarão no conclave da Capela Sistina, no Vaticano. “Por que é que ainda não nos entregaram esse documento secreto? Eu quero conhecer o seu conteúdo. Todos os cardeais querem”, confirmou o cardeal de Salvador da Bahia, Geraldo Majella Agnelo.
Outros dirigentes eclesiásticos citados pela Reuters reforçaram a mesma tese, considerando que o conhecimento prévio do teor e extensão dos “males” da Igreja é “indispensável” para que possam decidir sobre o “perfil mais adequado” para responder aos desafios e necessidades da Igreja. “Se quisermos tomar uma boa decisão, teremos de ter alguma informação”, defendeu o sul-africano Wilfrid Napier.
Um cardeal que não foi identificado, mas que já não tem direito de voto (tem mais de 80 anos), disse àquela agência que a eleição do futuro pontífice deveria ter em conta a “verdade sobre o que sucede na Santa Sé”.
“Alguns membros do colégio cardinalício que estão interessados em obter informações sobre a situação da Cúria e da Igreja, no geral, pedirão aos irmãos para serem informados”, respondeu Federico Lombardi, supostamente referindo-se a Julián Herranz, Josef Tomko e Salvatore De Giorgi, os três autores do relatório (e que não participam no conclave).
O documento assumiu especial importância depois do diário italiano La Repubblica ter associado a renúncia do Papa às conclusões do relatório de 300 páginas, que, segundo avançou, identificava uma teia difusa de interesses e grupos de lobby – incluindo um alegado lobby gay – no seio do Vaticano.
O jornal dizia ainda que o relato dos três cardeais traçava um quadro de luta de poder, corrupção e chantagem na hierarquia eclesiástica.