National Day of Unplugging: Desconectar para conectar

A iniciativa National Day of Unplugging lançou o desafio de estar um dia sem utilizar tecnologia. O projecto, com origem no judaísmo, nasceu nos EUA

Manuel Pinto
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“O teu computador está sempre ligado? Não passas o dia sem ir ao Facebook? Tens vários telemóveis? O que farias sem Internet?”

São algumas das questões que motivaram a organização norte-americana, Reboot, através do projecto Sabbath Manifesto, a lançar a iniciativa National Day of Unplugging (NDU) para o desafio de estar 24 horas desconectado das novas tecnologias.

Na página da iniciativa, qualquer pessoa, de qualquer parte do mundo, pode publicar uma foto com um cartaz preenchido pelo próprio, no qual é escrita uma actividade alternativa ao uso dos media. O modelo do cartaz começa com a frase “I Unplugged to…” e pode ser descarregado online.

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Reboot

“Temos tido conhecimento de pessoas, em todo o mundo, da Austrália à Índia, que estão a abraçar o nosso projecto”, revela ao P3 a coordenadora de comunicação da Reboot, Tanya Schevitz.

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“As pessoas estão cansadas de estar sempre conectadas”, confessa a responsável, ao explicar que, hoje em dia, está-se sempre acessível, através de telemóvel e da Internet, grande parte das vezes, por causa do trabalho, o que torna “difícil o afastamento dos dispositivos digitais”.

O NDU decorreu no último fim-de-semana.

Uma tradição judaica

A iniciativa NDU é uma adaptação de um ritual judaico, na qual ao sétimo dia semana (sábado), os fiéis aproveitavam para relaxar, reflectir e estar com a família e amigos. Actualmente, o Sabbath Manifesto existe para alertar a comunidade para a necessidade de reduzir o ritmo acelerado do quotidiano da sociedade contemporânea.

O principal objectivo é dar a todos os indivíduos “uma oportunidade para reiniciar o seu eu interior e desconectar de todas as formas de media e tecnologias”, lê-se no site do projecto. Para tal, o manifesto criou uma lista de dez princípios, começando por “evitar a tecnologia”.

Da mesma organização, foi criada também a iniciativa UNDO que consiste no envio de uma newsletter, a cada sexta-feira, ao final da tarde, com uma lista de ideias e actividades para fazer enquanto se está desconectado da tecnologia.

“As pessoas querem parar de viver através do Facebook e do Twitter e querem reconectar-se com a família, amigos e comunidade, na vida real”, refere Tanya Schevitz, ao relembrar uma festa organizada, no ano passado, durante a qual, perto de 200 pessoas passaram várias horas juntos, sem telemóveis.

O lugar dos media

Para o docente do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, Manuel Pinto, este tipo de iniciativas, já com vários antecedentes, pode resultar numa “experiência radical, no duplo sentido”, isto é, “de gente que é capaz de cortar” mas também de levar um certo estilo de vida alternativo”, desfazendo-se de qualquer contacto com a civilização.

Somos uma “geração conectada” na qual, “a tecnologia não é mera tecnologia, é também uma relação e, portanto, nesse sentido, é um corpo social, uma rede viva”, justifica ao P3.

Por outro lado, o investigador reconhece que a iniciativa norte-americana pode levar o cidadão a reflectir sobre o lugar que têm a internet, as redes sociais, a televisão, os jogos e o telemóvel, no dia-a-dia.

Tanya Schevitz garante, também, que a organização se preocupa com a reflexão sobre o impacto dos media: “Esperamos que a partir dessa nova consciência, as pessoas tentem colocar os dispositivos digitais de lado, mais regularmente” para “recarregarem-se a si mesmas e reconectarem-se com aqueles que os rodeiam”.

Também um estudo norte-americano da Universidade de Maryland, A Day Without Media, tem vindo a realizar experiências com jovens que são colocados sem acesso aos media durante um determinado período de tempo.

Em Portugal, a partir 3 de Maio de 2013, no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, decorre a iniciativa nacional Um Dia com os Media que pretende, ao longo de sete dias, lançar o debate sobre o papel dos media na sociedade e promover o pensamento crítico para o exercício da cidadania.

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