Sem acordo, Obama aponta o dedo aos republicanos e dramatiza cortes na despesa

Reunião do Presidente dos EUA com líderes do Congresso terminou sem fumo branco para acordo de redução do défice. Entram em vigor cortes automáticos.

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“Quanto mais tempo os cortes permanecerem em vigor, maior será o prejuízo”, disse Obama Kevin Lamarque/Reuters

Com palavras duras e o dedo apontado à oposição, Barack Obama saiu nesta sexta-feira do encontro com os líderes do Congresso norte-americano para confirmar a entrada em vigor de cortes automáticos na despesa pública dos EUA.

Sem surpresa, democratas e republicanos falharam um acordo de redução do défice, obrigando a Casa Branca a accionar cortes no valor de 85 mil milhões de dólares (65.300 milhões de euros) até ao final do ano fiscal, de um total de 1,2 biliões (milhões de milhões) de dólares durante uma década.

Obama dramatizou as consequências que isso terá na economia já este ano e apelou a um entendimento no Congresso para atenuar o impacto deste “sequestro”, como é conhecido, no crescimento económico, no emprego e na classe média.

Ainda não refeito da ameaça de “precipício orçamental” no final de 2012, Obama afunilou as críticas para a oposição republicana, atribuindo-lhe a responsabilidade por “cortes estúpidos” numa economia a recuperar da crise financeira e que no final do ano passado teve o primeiro recuo desde a recessão de 2009. “Não podemos continuar a gerir o país de mês a mês, de crise em crise”, lançou em conferência de imprensa.

Os cortes que agora entram em vigor resultam de um acordo, arrancado a ferros entre democratas e republicanos em 2011, que permitiu o aumento do tecto da dívida pública. Como contrapartida, a Casa Branca e a oposição acordaram um plano de redução da despesa com uma cláusula que accionaria, ao fim de algum tempo, cortes automáticos se as partes não negociassem entre si. Ontem, esse prazo chegou ao fim sem cedências de parte a parte, sendo accionado o “sequestro” orçamental.

Quando John Boehner, líder republicano do Congresso, saiu do encontro com Obama, era clara a distância entre os dois campos do jogo político. De um lado, a Casa Branca defende que os cortes devem ser compensados por medidas de aumento da receita (como o fim de benefícios fiscais e o agravamento dos impostos sobre os mais ricos). Do outro, a oposição recusa o aumento da carga fiscal e contrapõe a necessidade de cortes na Segurança Social e nos serviços de saúde.

A horas de a maior economia mundial sentir os primeiros impactos do “sequestro”, Obama afirmava: “Quanto mais tempo os cortes permanecerem em vigor, maior será o prejuízo”. O cenário que a Casa Branca passara para a opinião pública era o de um bloqueio em larga escala: na educação, na saúde, na defesa.

Não havendo uma decisão – da parte dos republicanos, disse Obama – para “salvaguardar os interesses das famílias da classe média”, não há volta a dar à entrada em vigor dos cortes. Mas deixou o caminho aberto a novas negociações. E avisou: “Nem todos [os norte-americanos] vão sentir os cortes de forma imediata”.

Para 2013, a entrada forçada dos cortes ascende a 85 mil milhões de dólares. Está a retoma em risco? O presidente da Reserva Federal, Ben Bernanke, deixou o alerta há dias, tomando como referência os números do gabinete de orçamento do Congresso que apontam para um impacto negativo no PIB de 0,6 pontos percentuais. O Governo prevê a destruição de 750 mil empregos e enfatiza os danos na classe média.

Pode, no entanto, não ser bem assim, contesta o economista John Taylor, da Universidade de Stanford (vice-secretário de Tesouro na era Bush, entre 2001 e 2005). Crítico da actual política de estímulos da Fed, Taylor relativiza o impacto e apresenta outro quadro. Para este ano fiscal (até Setembro), diz, a diferença na despesa federal com ou sem cortes automáticos é de 0,26% do PIB (42 mil milhões de dólares).

Com ou sem acordo nos próximos meses, é para uma economia a crescer a um ritmo frágil que os mercados vão continuar atentos. Ontem, as bolsas europeias fecharam a cair, mas, em Nova Iorque, contando já com um desfecho sem acordo, os principais índices mostraram-se hesitantes, com subidas limitadas.

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