Jorge Sampaio abandona cargo na Aliança das Civilizações

Ex-Presidente deixa o cargo de alto representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações.

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Jorge Sampaio referiu o trabalho feito pelas universidades e instituições científicas PÚBLICO/Arquivo

O ex-Presidente da República Jorge Sampaio deixa o cargo de alto representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações com um sentimento de dever cumprido, e apelando a que a organização desenvolva uma estratégia “audaciosa”, com “metas concretas”.

“Olhando para os últimos seis anos, devemos ficar felizes. Gostaríamos de ter feito mais progresso. Mas não peço desculpas por sentir orgulho pelo que conseguimos juntos, graças ao vosso empenho e entusiasmo”, disse nesta quarta-feira o antigo Presidente português, num discurso proferido em inglês durante a cerimónia de abertura do 5.º Fórum Global da Aliança das Civilizações, em Viena. <_o3a_p>

A Aliança das Civilizações é uma iniciativa associada às Nações Unidas que visa mobilizar agentes políticos e opiniões públicas para superar conflitos entre culturas ou religiões. A Aliança resultou de uma proposta apresentada em 2004 pelos primeiros-ministros da Espanha e da Turquia, na altura José Luis Zapatero e Recep Tayyip Erdogan. <_o3a_p>

Em Abril de 2007, Sampaio foi nomeado alto Rrpresentante da ONU para a Aliança. Durante o Fórum que se está a realizar na capital austríaca, Sampaio vai abandonar o cargo. O seu sucessor será Nassir Abdulaziz al-Nasser, antigo embaixador do Qatar na ONU. “A Aliança depende da vossa força e empenhamento”, disse Sampaio, em Viena, perante uma plateia de governantes e jornalistas de todo o mundo. “A Aliança são todos vós: representantes de governos, sociedade civil, líderes religiosos, media.” Sampaio reconheceu que, nos seis anos em que exerceu o cargo, as coisas não evoluíram sempre para melhor: “Basta olhar para a Síria, para a violência sectária em tantas sociedades.”

Agora, disse o antigo Presidente (1996-2006), “o que é preciso não é falar, é fazer”. “Chegou a hora de uma conferência mundial da Aliança das Civilizações, para marcar uma nova agenda para combater a intolerância ou o extremismo. Precisamos de uma Aliança audaz que tenha metas concretas”, disse ainda Sampaio, que continua a desempenhar o cargo de enviado especial do secretário-geral da ONU para a Luta contra a Tuberculose. No seu discurso perante o Fórum da Aliança das Civilizações, Sampaio citou um poeta persa do século XIII: “Na vida, tudo tem o seu tempo. Como disse o grande poeta Rumi, ontem fui esperto e quis transformar o mundo. Hoje sou sábio, vou transformar-me a mim próprio.” Sampaio concluiu dirigindo-se a Nassir al-Nasser: “Passo-lhe o testemunho, e desejo-lhe o melhor.”

Depois de Jorge Sampaio anunciar a sua saída, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e outros estadistas agradeceram-lhe por ter “conduzido habilmente” a Aliança das Civilizações nos últimos seis anos. “Quero agradecer ao Presidente Sampaio por ter conduzido habilmente esta aliança. [Sampaio] liderou um crescimento tremendo, dos 67 países [que fundaram a Aliança] para os 136 actuais. Presidiu ao lançamento de muitos programas transnacionais e desenvolveu uma estrutura que irá perdurar”, disse Ban Ki-moon.

Na cerimónia de abertura do Fórum, os elogios mais rasgados ao ex-Presidente português vieram de Erdogan. “Meu caro amigo Sampaio: gostava de aplaudir os seus esforços, que foram fundamentais para que a Aliança se tornasse o que é hoje, muito mais do que o modesto projecto inicial”, disse o chefe do Governo turco. “O senhor recebeu um pequeno projecto, mas levou-o muito longe. A sua experiência, a sua sabedoria foram o factor mais importante neste sucesso.”

Sampaio foi elogiado ainda pelos ministros dos Negócios Estrangeiros da Áustria, Michael Spindelegger, e da Espanha, José Manuel Garcia-Margallo y Marfil, bem como pelo seu sucessor. O político português foi “um pioneiro a dar expressão concreta à Aliança, estamos-lhe todos agradecidos”, disse Nassir al-Nasser, prometendo “seguir o seu trabalho”.
 

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