Livro “perdido” de William S. Burroughs e Jack Kerouac publicado em Portugal

“E os hipopótamos cozeram nos seus tanques”, o livro “perdido”dos escritores norte-americanos William S. Burrohghs e Jack Kerouac foi publicado esta semana em Portugal

Fotogaleria
William S. Burrohghs e Jack Kerouac finalizaram o manuscrito em 1944 mas o livro só foi publicado, em inglês, em 2008
Fotogaleria
William S. Burrohghs e Jack Kerouac finalizaram o manuscrito em 1944 mas o livro só foi publicado, em inglês, em 2008

“E os hipopótamos cozeram nos seus tanques”, o livro “perdido”dos escritores norte-americanos William S. Burrohghs e Jack Kerouac, foi publicado esta semana em Portugal. A obra é editada pela Quetzal e conta com um posfácio do editor nova-iorquino James Grauerholz.

O manuscrito de 1944 dos dois protagonistas da Beat Generation foi publicado pela primeira vez em 2008 (em inglês) e conta a história de um crime passional ocorrido em Nova Iorque no final da II Guerra Mundial e que envolveu dois homens, ambos amigos de William S. Burroughs (1914-1997)e Jack Kerouac (1922-1969).

“A relação enredada entre Lucien Carr e David Kammerer começou em St. Louis, Missouri, em 1936 quando Lucien tinha 11 anos e Dave 25 anos. Oito anos, cinco Estados, quatro escolas secundárias e duas faculdades mais tarde, a relação havia se tornado demasiado intensa e as emoções demasiado febris”, explica o editor James Grauerholz no posfácio do romance policial assinado pelos dois escritores sobre a história “que deu origem à Beat Generation”. Segue-se uma morte acidental com arma branca (canivete de escuteiro) durante uma rixa e um caso de tribunal que Burroughs e Kerouac romancearam no livro “esquecido”.

O papel de Lucien Carr

O texto não foi publicado logo após o final da II Guerra Mundial por falta de um editor capaz de o publicar e, trinta anos mais tarde, a “revelação” sobre o manuscrito na revista "New York" fez com que Lucien Carr, o autor do homicídio involuntário que inspirou os dois escritores, conseguisse “congelar” a publicação ao vencer um processo jurídico por “difamação e invasão da privacidade”.

Lucien Carr, depois de ter cumprido dois anos de prisão, seguiu a carreira de jornalista, tendo-se tornado num nome de relevo da agência de notícias norte americana UPI.

Só após a morte de Lucien Carr, em 2005, é que os “Hipopótamos cozeram nos seus tanques” foi publicado nos Estados Unidos. Numa homenagem no National Press Club, em Washington DC, a 4 de Março de 2005, mais de 160 jornalistas colegas de Lucien Carr reuniram-se para o recordar.

Como referia o obituário do "Times" de Londres: “Esse homem alto e magro, formado na ‘Beat Generation’, reescreveu, corrigiu, remodelou e reavivou histórias no circuito principal das notícias da agência como ninguém antes dele”.

De acordo com o autor do posfácio, “o assassínio que deu origem aos Beats” tornou-se uma história muitas vezes contada, mas com a morte de Kammerer e o afastamento de Carr, restaram Burroughs, Kerouac e Allen Ginsberg, “todos reconhecidos literariamente e não só”.

Tecnicamente, Burroughs e Kerouac alternaram a escrita dos capítulos e o domínio de cada um dos personagens do livro cujo título também se tornou num outro mito da “Beat Generation”, já que o autor de “Naked Lunch”, William Burroughs, anos mais tarde, explicava que tinha adoptado a frase sobre os hipopótamos depois de ter ouvido uma notícia na rádio sobre um incêndio num circo “em que os “hipopótamos tinham ardido nos seus tanques”.

Allen Ginsberg chegou a afirmar que tudo não passou de uma série de montagens áudio de noticiários radiofónicos realizadas por um amigo e que acabaram por dar acidentalmente origem à frase.

Jack Kerouac, autor de “On the Road”, afirmou em 1967 que o título está de facto relacionado com uma notícia sobre um incêndio, mas no Jardim Zoológico de Londres e não num circo norte-americano.

Sugerir correcção
Comentar