Academia surpreende com Lawrence e Argo

Os artigos que hoje saem no jornal são verdadeiras listas que devem ser afixadas no frigorífico e levadas tão a sério quanto a lista do supermercado. Porque, sobretudo este ano, ver estes filmes é como pão para a boca

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Mike Blake/Reuters

Nesta segunda-feira, de manhã, ao chegar ao trabalho, ao almoço, à tarde ou à noite toda a gente terá um jornal ou um jornal online à mão, de forma a ver quais os filmes escolhidos como vencedores pela Academia.

A grande noite dos Óscares começou pela uma e meia e avançou durante algumas horas com glamour, humor e performances desvendando os vencedores – alguns mais esperados que outros.

Apesar de os prémios atribuídos pela Academia marcarem o final de uma estação cinematográfica e avaliarem a qualidade dos filmes feitos durante esse período, para muita gente, marcam o início de uma estação, criando uma linha orientadora de quais os filmes que vale realmente a pena ver. Para essas pessoas, os artigos que hoje saem no jornal são verdadeiras listas que devem ser afixadas no frigorífico e levadas tão a sério quanto a lista do supermercado. Porque, sobretudo este ano, ver estes filmes é como pão para a boca.

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Leonor Capela, finalista do curso de Ciências da Comunicação, Universidade do Porto

Para outras pessoas, a noite dos Óscares é acompanhada em directo e os anúncios dos vencedores vividos com um sentimento de pertença. No final de contas, para todos, estes são os resultados mais aguardados do mundo do cinema.

Tudo começa com Christoph Waltz a levar para casa o Óscar de Melhor Actor Secundário pela interpretação ímpar do “alemão” em Django Libertado, surpreendentemente (para alguns) à frente de Phillip Seymour Hoffman e Tommy Lee Jones. Já “O Rapaz do Papel” não surpreendeu ao ganhar o Óscar Melhor Curta-Metragem Animada assim como “Brave – Indomável” a arrecadar a estatueta de Melhor Filme de Animação.

Mas, à medida que a noite avança, os corações apertam sem saberem quem vai ganhar afinal. As horas passam e “Lincoln”, o filme mais nomeado do ano, permanece apenas com o Óscar de Melhor Design de Produção – ou seja, muito abaixo das expectativas. Ang Lee sobe ao palco para receber o Óscar de Melhor Realizador por “A Vida de Pi” e as hipóteses de “Lincoln” ser o explosivo vencedor que se esperava diminuem a largos passos. O realizador de “O Segredo de Brokeback Mountain” agradece, com a estatueta dourada na mão, pelo reconhecimento de ter adaptado ao cinema o livro que se considerava “inadaptável”.

De seguida, é Jean Dujardin que vem, com grande charme, apresentar a vencedora do Óscar de Melhor Actriz. As principais apostas (ou vontades) recaem sobre Emmanuelle Riva, Jessica Chastain e, quem sabe, a pequena Quvenzhané Wallis mas é Jennifer Lawrence que leva o prémio para casa, por um desempenho em “Guia para um Final Feliz” bastante menos magnífico que qualquer um das outras nomeadas. Bradley Cooper sorri carinhosamente da plateia para a sua companheira de filmagens mas Lawrence deixa desapontamento nesta categoria.

Restam as duas categorias mais esperadas do ano, num ano em que a Academia foi absolutamente sobrecarregada com grandes filmes e grandes performances. Meryl Streep está sobre o palco, empunhando o envelope, pronta para anunciar o vencedor do Óscar de Melhor Actor e, infelizmente, paira a triste sensação de que, qualquer que seja o escolhido, será injusto. Nas suas palavras “a Academia teve a difícil tarefa de escolher o melhor entre iguais”. A Academia dá o Óscar a Daniel Day-Lewis que se transforma, perante uma ovação geral da plateia, no primeiro actor de sempre a ter recebido três Óscares de Melhor Actor. Uma escolha previsível, talvez, esperada de um painel de jurados americano e cujos corações foram, com certeza, adocicados pelo carácter nostálgico e esperanço deste filme. Ainda assim, mesmo esperado e mesmo previsível, este prémio é altamente merecido.

Daniel Day-Lewis, depois de dedicar o Óscar à sua mãe, abandona o palco com Maryl Streep e chega, desta forma, o momento mais esperado da noite. É então que Michelle Obama surge num ecrã gigante e começamos a pensar que talvez “Lincoln” ainda tenha de vir ao palco buscar mais um homenzinho dourado. A primeira-dama fala sobre acreditarmos em nós próprios, no nosso povo e em sermos cada vez melhores e, finalmente, deixa Jack Nicholson levar-nos até ao final. Os nove nomeados são enunciados e sentimos cada um, relembramos as sensações que nos transmitiram e como nos transformaram e somos completamente aturdidos quando a palavra “Argo” ecoa.

Ben Affleck, vermelho e suado, fala rápido, balbucia, agradece a todos e refere quase tudo neste discurso de agradecimento (incluindo o seu casamento). Apesar das vitórias anteriores (nomeadamente nos BAFTA), sentimo-nos tão surpreendidos quanto ele mas, seguramente, mais desiludidos. “Lincoln”, o filme mais nomeado do ano, vai para casa com dois Óscares apenas e “A Vida de Pi” com quatro. Ainda assim, a emoção e felicidade de Ben Affleck neste momento dão-lhe um toque doce. Talvez a Academia tenha sentido a necessidade se afastar do previsível que poderia ser dar o grande prémio a “Lincoln”, tendo-se tornado assim ainda mais previsível por ter seguido a corrente.

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