Detective-chefe do caso Pistorius acusado de sete tentativas de homicídio

Acusações contra Hilton Botha tinham sido retiradas, mas foram retomadas. Investigador da polícia já entrara em contradição no tribunal.

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Contradições e acusações contra Hilton Botha fragilizam a investigação STEPHANE DE SAKUTIN/AFP
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Primeiras páginas dos jornais na quarta-feira deram destaque à versão do atleta STEPHANE DE SAKUTIN/AFP
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Pistorius garante que a morte da namorada foi acidental STEPHANE DE SAKUTIN/AFP
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No exterior do tribunal, é visível o aparato mediático que sustenta a atenção que o caso suscita a nível global STEPHANE DE SAKUTIN/AFP
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Irmão e pai de Pistorius, durante uma das audiências STEPHANE DE SAKUTIN/AFP

O principal detective da polícia que está a investigar o caso Oscar Pistorius é acusado de sete tentativas de homicídio, por ter disparado sobre uma carrinha de transporte de pessoas, em 2009.

A rádio EWN, citando fonte do ministério público sul-africano, avançou que o detective foi retirado do caso que envolve o atleta olímpico e paralímpico. “Não pode continuar nesta investigação”, disse a fonte. Mas a polícia diz que, para já, isso não está previsto. “Por enquanto, ele está com o caso. Não tomámos tal decisão”, afirmou o porta-voz, Neville Malila.

Já esta quinta-feira, a polícia de Pretória confirmou as acusações de homicídio contra Hilton Botha, que, aparentemente, fragilizam a investigação por si liderada. O detective deve responder pela acusação em Maio. Botha também entrou em contradição no tribunal que está a ouvir Pistorius, pondo em causa a fiabilidade da acusação contra o atleta.

“Fomos informados ontem [quarta-feira] das acusações de tentativas de homicídio contra Hilton Botha”, disse Neville Malila, na altura em que o campeão paralímpico chegava ao tribunal para nova audiência do caso em que é acusado da morte da namorada, Reeva Steenkamp. As notícias sobre Botha tornaram-se, segundo o jornal sul-africano Times, motivo de conversa antes no início da audiência desta quinta-feira.

As acusações contra os polícias tinham sido provisoriamente retiradas, mas foram retomadas, decisão de que a polícia diz ter sido informada no dia em que o detective foi ouvido no caso Pistorius. “Fomos ontem informados de que a acusação será retomada”, afirmou Malila. Bulelwa Makeke, porta-voz do ministério público, disse à rádio SABC que a acusação foi feita no dia 4 de Fevereiro, dez dias antes do início do “caso Pistorius”, e que não há qualquer relação com a investigação à morte de Reeva Steenkamp. 

“Botha e dois outros polícias tentaram alegadamente parar uma carrinha de transporte de pessoas, com sete passageiros. Eles dispararam”, disse Neville Malila à Reuters. Segundo a EWN, os disparos de Botha e dos outros agentes foram feitos durante a perseguição a um suspeito de homicídio. Informações da imprensa local indicam que estaria alcoolizado.

Sujeito a intenso interrogatório, na quarta-feira, Hilton Botha foi acusado pela defesa de afirmações não sustentadas, como a de que teriam sido encontradas caixas de testosterona no quarto de Pistorius, depois de ter falado inicialmente em esteróides. Interrogado mais tarde pelo advogado do atleta, Barry Roux, o polícia acabou por dizer que não tinha a certeza do conteúdo das caixas. E o procurador reconheceu que houve um erro no testemunho do detective.

Outro elemento que enfraqueceu o depoimento de Botha, segundo o jornal britânico The Guardian, foi a declaração sobre gritos alegadamente ouvidos por uma testemunha na casa de Pistorius, antes do crime. Ao ser questionado pela defesa, admitiu que a testemunha não identificou as vozes que ouvira a 600 metros de distância como sendo a do atleta e da namorada. Mais tarde, questionado pela acusação, corrigiu a distância para 300 metros.

Barry Roux explorou as fragilidades da investigação, procurando descredibilizá-la, e, segundo a AFP, criou na sala de audiência a ideia de que o caso se estava a desmoronar. Na manhã desta quinta-feira, disse em tribunal que as provas não sustentam a acusação de assassínio e, segundo o Times, criticou a “má qualidade” da investigação, que ficou “muito longe” de demonstrar que houve intenção de matar.

Mas o criminólogo Anthony Altbeker, citado pela agência, relativiza, para já, o aparente êxito da defesa. “Bons advogados podem muitas vezes ridicularizar a polícia”, afirmou. “O inquérito não terminou, há muita coisa que não se sabe e provavelmente há elementos que a polícia não quer revelar”. 

Nesta fase, o tribunal está apenas a decidir sobre o pedido de liberdade condicional apresentado pela defesa de Oscar Pistorius, que tem procurado defender a tese de morte acidental. Pelo contrário, o procurador entende que foi um assassínio premeditado. Na sua argumentação a favor da liberdade condicional, Barry Roux disse que Pistorius, depois de atingir a namorada, pediu ajuda com a intenção de a salvar. “Não faz muito sentido que uma pessoa tão conhecida fuja”, disse também. A decisão sobre o pedido de libertação está prevista para sexta-feira.

A namorada de Oscar Pistorius foi morta na madrugada de 14 de Fevereiro, em casa de Pistorius, nos arredores de Pretória. Reeva Steenkamp foi atingida a tiro pelo atleta, que foi o primeiro duplo amputado das pernas a competir em Jogos Olímpicos. 

A empresa de artigos de desporto Nike, que já tinha informado não ter planos para futuras campanhas publicitárias com o atleta, anunciou nesta quinta-feira a suspensão do contrato que mantinha com Oscar Pistorius. Na quarta-feira, o grupo francês de cosméticos Clarins anunciou que deixa de utilizar a sua imagem nos perfumes Thierry Mugler. Segundo o jornal Financial Times, os contratos publicitários rendiam ao campeão paralímpico cerca de 3,5 milhões de euros por ano. 

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