Director de Informação da TVI critica vaia a Relvas mas compreende protesto

José Alberto Carvalho admite que o episódio poderá dar ao ministro uma “aura de injustiçado”, contrariado a verdadeira intenção dos manifestantes.

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José Alberto de Carvalho diz que nos últimos dias havia sinais evidentes” de que podia acontecer um protesto daquele género Daniel Rocha

O director de Informação da TVI, José Alberto Carvalho, considera que os manifestantes que impediram Miguel Relvas de discursar na terça-feira no ISCTE se excederam, mas diz compreender os protestos.

Em entrevista ao PÚBLICO, que será publicada na quinta-feira, o director de Informação afirma que no ponto em que o protesto estava não conseguiria convencer os jovens a deixarem o ministro discursar e lembra que não seria curial “tentar impor o silêncio a alguém” num encontro sobre jornalismo.

Porém, acredita que parte da plateia foi ali apenas para “boicotar” o ministro e não para assistir à conferência da TVI. Por isso, no palco, pediu que quem se quisesse manifestar saísse da sala. José Alberto Carvalho admite que nessa altura “estava a fazer uma crítica a quem impediu uma pessoa de quem discorda de se pronunciar” – os jovens manifestantes. “É uma questão de exercício de respeito mínimo, de cidadania, de respeito de liberdade de expressão. A nossa liberdade de expressão não pode impedir os outros de se exprimirem. E esse parece-me o ponto limite aqui.”

“Se o protesto tivesse sido durante 10 minutos, e houvesse um momento em que as pessoas já se tivessem manifestado, exprimido, criticado, dito o que entendiam – isso é liberdade de expressão, digam o que querem – mas há um momento em que elas deviam ter parado e deixado falar e eventualmente no fim voltar a protestar outra vez”, defende o director de Informação da TVI. “Mas o facto de com excesso de liberdade de expressão se silenciar alguém com quem não se concorda não me parece um bom princípio, porque permite todos os desmandos”, acrescenta.

José Alberto Carvalho considera mesmo que “o episódio tal como se passou acaba por transmitir ao ministro uma certa aura de injustiçado pelo episódio": "E não sei se era isso que os manifestantes pretendiam. Julgo que não.”

Mas diz que “é perfeitamente compreensível, face às dificuldades das pessoas”, que o Governo seja alvo de toda esta contestação. “Eu, enquanto português, acho que todos devemos pôr as mãos na consciência quando estamos directa ou indirectamente a dizer à geração que tem 20 anos ‘desculpem lá, não há lugar para vocês. No nosso projecto de país vocês ficaram de fora, não há horizonte de esperança.’”

“Eu, se tivesse 20 anos, acharia indigno ouvir ou sentir que era isso que me estavam a dizer”, reitera, lembrando que a TVI tem “dado conta, todos os dias, da indignação” que as pessoas sentem.

Admitindo que “nos últimos dias havia sinais evidentes” de que podia acontecer um protesto daquele género, José Alberto Carvalho confessa que na TVI ninguém antecipava aquilo que de facto se passou. Porém, adverte, é ao próprio executivo – e às forças policiais e de segurança que o assessoram - que cabe “fazer a avaliação sobre o que os governantes podem e devem ou não fazer, que atitudes e cuidados devem tomar”.

Sobre o caso da conferência da TVI, o jornalista diz mesmo que “na visita de segurança que fizeram previamente, havia uma saída de emergência [identificada] que não foi utilizada [no incidente]”.

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