Segundo maior exibidor de cinema em Portugal pede insolvência

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Em Janeiro fecharam 66 salas da Socorama pelo país Rui Farinha

A Socorama, que fechou 66 salas e despediu 98 pessoas, pediu a própria falência na terça-feira por causa de dívidas de 12 milhões.

A Socorama - Cinemas, segundo maior exibidor de cinema em Portugal, pediu a insolvência na terça-feira, depois de ter encerrado 66 das suas 106 salas e de ter avançado com o despedimento de 98 pessoas. O processo foi motivado por dívidas de 12 milhões de euros, mas o administrador da empresa, João Paulo Abreu, disse ao PÚBLICO que prepara um plano de recuperação para manter 36 salas abertas e ainda com a marca Castello Lopes Cinemas, que adquiriu à histórica família de produtores e exibidores cinematográficos no final dos anos 1990.

O pedido de falência judicial deu entrada no Tribunal do Comércio de Lisboa na terça-feira, 12 de Fevereiro, cerca de 15 dias depois de terem encerrado 49 salas exploradas pela empresa em shoppings da Sonae Sierra (do grupo Sonae, proprietário do PÚBLICO) em oito cidades. O fecho destes 49 ecrãs juntou-se ao encerramento, no início de Janeiro, das salas da Socorama no centro comercial Continente de Portimão e no Madeira Shopping (ambos também da Sonae Sierra) e dos quatro cinemas da exibidora no centro comercial Fórum Castelo Branco (gerido pela Cushman & Wakefield) já no final do mês.

Só em Janeiro, portanto, a empresa perdeu 66 dos 106 ecrãs que detinha até ao final de 2012, terminando em Abril o contrato de exploração das quatro salas do centro comercial Jumbo, em Setúbal. Ou seja, a partir dessa altura, a Socorama contará apenas com 36 salas de cinema no país, o que a fará descer para a quarta posição no mercado de exibição português. Todos estes encerramentos resultaram no despedimento de 98 pessoas desde o início do ano, ficando a empresa com 71 trabalhadores.

João Paulo Abreu explicou ao PÚBLICO que a Socorama acumulou dívidas de 12 milhões de euros (embora o processo judicial indique um valor de 14,9 milhões). Os promotores imobiliários, e em especial a Sonae Sierra, são os maiores credores - a dívida a estes fornecedores ascende a cerca de nove milhões. Os segundos maiores credores são bancos (2,6 milhões - a empresa financiava-se junto de instituições como o Efisa, a CGD e o Crédito Agrícola), seguidos pelo Estado (1,6 milhões à Segurança Social). A empresa também tem dívidas para com os trabalhadores, embora o administrador tenha indicado que são reduzidas.

João Paulo Abreu explicou ao PÚBLICO que optou por pedir a insolvência porque é o "mecanismo mais adequado à situação" da Socorama, protegendo-a dos credores porque todas as acções de cobrança judicial de dívidas ficam suspensas. Apesar de a intenção ser apresentar um plano de recuperação financeira para as salas sobrantes, o administrador admitiu que não recorreu ao programa Revitalizar (que permite reestruturar empresas em dificuldades de forma mais rápida) porque não obteve o acordo prévio de qualquer credor, como a lei obriga.

No caso da insolvência, a Socorama também terá, numa segunda fase, de garantir luz verde dos credores para conseguir seguir em frente com o plano de recuperação, que João Paulo Abreu quer ter pronto nos próximos 30 dias. Este plano visa manter as 36 salas sobrantes, espalhadas pelo país, e os 71 postos de trabalho actualmente existentes na empresa. Com as receitas da exploração destes espaços, a empresa pretende pagar, num prazo superior a dez anos, a dívida que acumulou. "Faremos o melhor para que as perdas sejam as menores possíveis para toda a gente neste processo. E agora está nas mãos dos credores a continuidade do circuito e do projecto, mantendo estes postos de trabalho e dando mais actividade aos distribuidores e aos centros comerciais", disse João Paulo Abreu.

As 36 salas em Lisboa, Guimarães, Torres Novas e outras cinco cidades que ainda contam com cinemas Socorama vão manter o uso da marca Castello Lopes Cinemas, disse João Paulo Abreu, referindo-se à compra da mesma no final da década de 1990. O objectivo do uso dessa marca seria, segundo disse o distribuidor José Manuel Castello Lopes ao PÚBLICO, que estivesse "nas fachadas dos cinemas, para dar credibilidade às salas". A marca é também a morada do site da Socorama e foi vendida sob um contrato que tinha "como duração a própria existência daquela empresa", diz Castello Lopes, cuja empresa e família já não têm qualquer ligação à Socorama.

Com o encerramento de mais de 60 salas da Socorama em Janeiro, distritos como Viana do Castelo, Castelo Branco ou o arquipélago dos Açores ficaram sem exibição cinematográfica comercial diária, restando as sessões dos cineclubes e das salas municipais. Se no caso de Castelo Branco o seu centro comercial não vai voltar a apostar no cinema, os shoppings Sonae Sierra estão em negociações com outros operadores para ocuparem as salas deixadas pela Socorama. O centro comercial do grupo Auchan em Setúbal também voltará a ter salas comerciais de outro exibidor, a NLC, depois de obras.

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