Anna Grodzka, a primeira deputada transexual da Europa

Ela é o símbolo de mudança na cena política polaca, tradicionalmente conservadora e católica. Anna Grodzka, 58 anos, deputada pelo Movimento Palikot, conquistou o eleitorado jovem e quer fazer da Polónia um país mais tolerante

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Há duas formas de descrever Anna Grodzka, uma polaca de 58 anos que, em 2011, tornou-se a primeira deputada transexual da história política europeia. A nossa atenção pode concentrar-se em curiosidades como o facto de, antes de mudar de sexo, Anna ter tido uma outra vida com direito a uma barba espessa, uma esposa e um filho.

Mas, se quisermos fugir ao "fait divers", podemos falar do que realmente faz de Grodzka uma figura interessante: ela é um sinal de mudança na cena política da Polónia, um país tradicionalmente marcado por um discurso conservador e católico.

Muita coisa mudou na Polónia desde a queda do comunismo em 1989. Houve a morte do Papa João Paulo II e a entrada para a União Europeia, por exemplo. Temas polémicos são hoje debatidos abertamente. Há resistência, mas há debate. Um exemplo disso é a questão do financiamento estatal da fertilização "in vitro".

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Outro exemplo: a voz das minorias sexuais faz-se cada vez mais ouvir na arena política: a união civil entre pessoas do mesmo sexo foi votada - e chumbada, é certo - no mês passado em Varsóvia. Todas essas mudanças graduais mostram que o facto de Anna Grodzka ter conquistado uma cadeira no parlamento é apenas uma peça do puzzle de transformações sociais.

Um partido que conquistou os jovens

Anna Grodzka obteve cerca de vinte mil votos dos eleitores na conservadora Cracóvia. O partido do qual faz parte, o Movimento Palikot, é hoje a terceira maior força política. De matriz esquerdista e anticlerical, o Palikot inscreveu na agenda nacional temas controversos como a legalização do aborto, do casamento entre pessoas do mesmo sexo e do consumo de marijuana. Analistas políticos atribuem a pujança do Palikot ao facto de os braços políticos da Igreja Católica não mais conseguirem abraçar os jovens eleitores. Criou-se ali um vazio. E o Palikot conseguiu tocar na corda sensível dessa fatia do eleitorado.

A relativa popularidade do Movimento Palikot não quer dizer que a Polónia seja um paraíso de tolerância. O escritório de Grodzka chegou a ser atacado: atiraram objectos contra as janelas, rasgaram as bandeiras coloridas que se tornaram símbolo da luta pelos direitos das minorias sexuais. A simples existência de um partido com uma agenda como a do Palikot mostra que, para já, a orientação sexual de um indivíduo continua a ser motivo de tensões sociais e políticas.

Recentemente, dia 8 de Fevereiro, Anna Grodzka foi novamente notícia por ter sido impedida de chegar à vice-presidência da câmara baixa do parlamento polaco (o chamado Sejm). Uma ampla marioria dos principais partidos políticos boicotou as ambições de Grodzka. Para o efeito, invocaram que deputada - uma antiga empresária licenciada em Psicologia - não estaria suficientemente preparada para o cargo.

"Alegra-me que a minha candidatura tenha sido considerada uma provocação. O meu objectivo foi sempre o de lutar para que todas as pessoas sejam tratadas da mesma maneira", afirmou Anna Grodzka, citada no "El Mundo".

Anna Grodzka passou mais de meio século a sentir que nasceu dentro do corpo errado. Em 2010, submeteu-se a uma cirurgia de mudança de sexo numa clínica na Tailândia. Antes de desfazer aquilo que considerava um equívoco, Anna chamava-se Krzysztof Begowski, tinha uma mulher e um filho. Ao contrário da mãe, o jovem compreendeu e apoiou o desejo de Krzysztof transformar-se em Anna. Afinal, o rapaz faz parte de uma nova geração que está a lentamente mudar a imagem da Polónia.

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