Wong Kar-wai filma kung fu? Não, filma um amor impossível

Achavam realmente que Wong Kar-wai ia fazer uma biografia de um mestre de artes marciais? The Grandmaster é outra vez uma história de amor impossível. Veja aqui o trailer.

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A actriz Zhang Ziyi em "The Grandmaster"
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O júri presidido por Wong Kar-wai
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Wong Kar-wai na conferência de imprensa em Berlim
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Os actores Tony Leung Chiu Wai e Zhang Ziyi em Berlim

As primeiras imagens de The Grandmaster são de um combate de kung fu à chuva, desconstruído e desmontado nos gestos, nos pingos de água que caem, nos pés que escorregam, tudo naquela câmara lenta aos soluços a que Wong Kar-wai nos habituou.

E é precisamente esse o problema com The Grandmaster, que abre oficialmente esta noite a 63ª edição do Festival de Berlim, onde o cineasta de Hong Kong é presidente do júri: é aquilo a que o cineasta nos habituou. E lá por o filme ser (supostamente) a biografia de Ip Man, o mestre de artes marciais wing chin que viria a ensinar Bruce Lee, a verdade é que não é isso – ou não é realmente isso – que interessa a Wong Kar-Wai.

O que ele quer mesmo fazer é filmar uma história de amor sublimada através das movimentações abstractas de corpos em imponderabilidade. Traduzindo: o amor é quando um homem e uma mulher que praticam artes marciais de escolas diferentes quiserem. E é, como convém no cinema de Wong, um amor impossível. Entre Ip Man, o homem tranquilo, pai de família e mestre das escolas de kung fu do Sul, e Gong Er, a filha impetuosa e orgulhosa de um mestre da escola do Norte, que tudo separa, até mesmo a invasão japonesa da China em finais dos anos 1930, e que passam todo o filme distantes um do outro e a sonhar com o momento em que partilhem as 64 Mãos. (É um golpe de kung fu do Norte, antes que comecem a pensar o pior.)

<_o3a_p> Não vale a pena estarmos com rodeios, The Grandmaster é um objecto formalmente sumptuoso. Wong não perdeu nem um átomo do requinte quase ofensivo como filma. Mas por esta altura do campeonato Disponível para Amar já foi há uns anitos largos e continua a pairar como um albatroz sobre a obra do realizador – e não raras vezes durante a projecção de The Grandmaster vemos, outra vez, os passeios à chuva, as orações em mosteiros, os silêncios que tudo dizem, a parafernália a que o cineasta nos habituou, só que aplicada a um filme de artes marciais, com mais precisão do que na anterior experiência de Wong no género, Ashes of Time.

<_o3a_p> A espaços, The Grandmaster é sublime – e Tony Leung e Ziyi Zhang ajudam muito –, mas durante a maior parte do tempo ficamos com a sensação que não passa de um exercício aplicado de design visual onde está tudo, literalmente, no sítio. Ou não fosse o kung fu uma arte da precisão. Mas um filme é mais do que apenas precisão – e a precisão não chega para fazer de The Grandmaster mais do que Wong Kar-wai em piloto automático.





 
 
 
 
 

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