Cucha Carvalheiro afastada do Teatro da Trindade por contenção de custos

Actriz e encenadora que dirigiu o Teatro da Trindade, em Lisboa durante quatro anos, não viu renovado o seu contrato. A justificação é de ordem orçamental

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Cucha Carvalheiro foi nomeada directora do Teatro da Trindade em 2009

Ao fim de quatro anos a actriz e encenadora Cucha Carvalheiro será substituída à frente do Teatro da Trindade (TT), em Lisboa. A comissão de serviço iniciada em 2009 não foi renovada pela actual administração, presidida por Fernando Ribeiro Mendes, que em Outubro havia sido nomeado pelo Conselho de Ministros para substituir Vítor Ramalho, após este se ter pronunciado contra os cortes de financiamento às fundações.

"Não pertenço aos quadros da fundação, sou descartável”, disse ao PÚBLICO a agora ex-directora. À frente da programação do Teatro da Trindade ficará a direcção cultural da Fundação INATEL, presidida por Rui Sérgio, que entre 1999 e 2006 foi sub-director do TT, até ter substituído interinamente Carlos Fragateiro, quando este, após dez anos à frente do teatro, foi convidado para dirigir o Teatro Nacional D. Maria II.

Na reunião que teve a 2 de Novembro de 2012 Cucha Carvalheiro colocou o cargo à disposição, ao mesmo tempo que entregou o plano de actividades e o orçamento para 2013. Nessa reunião foi informada de que a Fundação INATEL, entidade à qual o Teatro da Trindade pertence, teria que proceder a cortes no orçamento.

A ex-directora contou ao PÚBLICO que nessa reunião informou a administração que, sendo o orçamento para 2013 superior ao que havia sido aprovado para 2012, não saberia se após os cortes teria condições para continuar. O teatro tem estado fechado para obras de requalificação ao nível de segurança e equipamentos e contava abrir no Verão com o concerto de encerramento do Ano do Brasil em Portugal.

A 26 de Novembro Cucha Carvalheiro seria informada de que a sua comissão de serviço se extinguiria a 2 de Fevereiro de 2013, com o argumento de “contenção de custos”, mas sem que tenha sido indicado o valor do corte a efectuar. O orçamento para este ano continuava à espera de aprovação. No decorrer desta terça-feira não foi possível obter os valores em causa.

“É um problema os teatros funcionarem com orçamentos anuais quando têm programações feitas à temporada [Setembro-Junho]”, aponta a ex-directora, que diz sentir-se “aliviada” por sair após quatro anos nos quais “98% do trabalho foi burocrático”.

Quando entrou no TT, Cucha Carvalheiro encontrou uma estrutura “cuja forma de funcionamento era bastante amadora”. “Não tendo orçamento para contratar muita gente, tentei dar formação e instituir regras mais profissionais ali dentro”, conta. Os cortes que se haviam começado a sentir já em 2010 levaram a ex-directora a reenquadrar a programação, sentindo-se, agora em jeito de balanço, “satisfeita”.

“O que tentei fazer foi definir concretamente uma missão no TT já que ele faz parte de um organismo que tem que ter em conta, para a sala principal, os associados da INATEL, ou seja, o chamado grande público”, explicou. Ao longo de quatro anos o Trindade procedeu à reinscrição da sua presença no circuito de programação, chamando nomes como Fernanda Lapa, João Brites, Joaquim Benite, Jorge Silva Melo e Maria Emília Correia, e cruzando elencos com alguns nomes com visibilidade mais mediática. “Claro que, houve de um ponto de vista pessoal, espectáculos dos quais gostei mais e outros menos”, diz , considerando que cumpriu “um serviço cívico o melhor que sabia”. “Uma das missões do Trindade é promover a fruição e a criação cultural dos associados”, afirmou Cucha Carvalheiro ao PÚBLICO, salientando que, no curso da sua gestão foram feitos workshops de formação e foi incluída a presença de amadores nos espectáculos profissionais.

“Não tive oportunidade para falar sobre a missão do teatro e o que se pretende agora fazer”, disse. Em declarações à LUSA, a direcção cultural do INATEL também não avançou com novos dados sobre a programação, mas Cucha Carvalheiro deixou o ano preparado, nomeadamente a estreia, em Julho, de Ecos, de Ibsen, com encenação de Cristina Carvalhal, e cujo projecto venceu uma bolsa de financiamento atribuída pelo Governo da Noruega.

Substituído artigo da agência Lusa por artigo do PÚBLICO
 

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