Antigo arcebispo de Los Angeles exonerado por ter escondido abuso sexual de menores

O actual responsável da arquidiocese aceitou também a demissão de um bispo auxiliar e cumpriu a ordem judicial de divulgar documentos confidenciais sobre 122 padres.

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O cardeal Mahony (à esq.) foi substituído pelo arcebispo José Gomez em 2011, quando atingiu o limite de idade Reed Saxon/Reuters

O antigo chefe da Igreja Católica em Los Angeles, Roger Mahony, foi exonerado das suas funções públicas e administrativas por ter encoberto centenas de acusações de abuso sexual de menores ao longo de décadas. No mesmo dia, foram revelados documentos confidenciais sobre 122 padres.

Os documentos foram divulgados no site da Arquidiocese de Los Angeles, apenas uma hora depois de um juiz ter assinado uma ordem nesse sentido. Ao abrigo de um acordo estabelecido em 2007 entre a arquidiocese e mais de 500 vítimas, os responsáveis da igreja foram obrigados a revelar publicamente os nomes de todos os envolvidos, embora a hierarquia tenha tentado evitar a divulgação dos pormenores sobre a forma como o antigo arcebispo geriu as acusações de abusos sexuais por parte de padres sob a sua tutela.

Depois da ordem do tribunal, o actual arcebispo, José Gomez, encerrou a questão com uma medida rápida – a publicação de milhares de páginas sobre os 122 padres envolvidos e a exoneração do seu antecessor de funções públicas e administrativas. Para além da exoneração de Roger Mahony, o actual arcebispo aceitou a demissão do bispo auxiliar Thomas Curry, de Santa Barbara, igualmente acusado de ajudar a encobrir as acusações de abuso sexual de menores.

"A leitura destes documentos é brutal e dolorosa. O comportamento descrito nestes documentos é muito triste e perverso. Não há qualquer desculpa, qualquer explicação para o que aconteceu a estas crianças. Os padres envolvidos tinham o dever de ser os seus pais espirituais e falharam", lê-se num comunicado assinado pelo arcebispo José Gomez, nomeado em 2011 depois de Roger Mahony ter atingido o limite de idade.

"O meu antecessor, o cardeal Roger Mahony, expressou a sua mágoa por ter falhado na protecção total dos jovens que lhe estavam confiados. Com efeitos imediatos, informei o cardeal Mahony de que nunca mais terá qualquer função administrativa ou pública", anunciou o arcebispo José Gomez.

Ouvido pelo jornal Los Angeles Times, o padre jesuíta Thomas Reese, da Universidade de Georgetown, classifica a decisão de exonerar Roger Mahony como "invulgar". "Dizer a um cardeal que ele não pode protagonizar actos públicos é extraordinário", considera Thomas Reese. Para este padre jesuíta, o anúncio da Arquidiocese de Los Angeles "mostra que eles estão a levar este assunto muito a sério".

Também Terence McKiernan, responsável pela organização Bishop Accountability – que documenta os abusos sexuais cometidos na Igreja Católica –, foi surpreendido pela decisão do novo arcebispo: "Mesmo quando o cardeal [Bernard] Law foi afastado de Boston, na sequência de acusações semelhantes, não foram tomadas estas medidas", cita o Los Angeles Times.

Ainda assim, McKiernan salienta que o cardeal Roger Mahony mantém o título de arcebispo emérito (que assumiu em 2011 após ter abandonado a Arquidiocese de Los Angeles por limite de idade, aos 75 anos). "Eles estão a tentar assumir o controlo de uma situação devastadora", considera o activista.
 
 
 
 
 
 

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