Cheias do rio Limpopo lançam o caos no Sul de Moçambique

Mesmo sem chuva, situação agravou-se nos últimos dias devido à precipitação registada na África do Sul e no Zimbabwe. O mau tempo provocou, desde Outubro, a morte de pelo menos 40 pessoas

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Chuvas torrenciais também provocaram cheias em Maputo (está imagem é do passado dia 15) STRINGER/AFP

A cidade de Chókwè foi inundada e a população de Xai-Xai receia que o mesmo aconteça este sábado na capital da província de Gaza. A subida das águas do rio Limpopo levou nos últimos dias ao êxodo de milhares de pessoas e criou o caos no Sul de Moçambique. Pelo menos 40 pessoas morreram no país, devido às fortes chuvadas que começaram em Outubro, 18 das quais desde o início do ano.

As águas do Limpopo estavam na quinta-feira próximo dos níveis atingidos em 2000, quando as cheias afectaram cinco províncias e se calcula que tenham morrido mais de 600 pessoas. Os dados oficiais indicam que as chuvas caídas desde Outubro já afectaram mais de 80 mil pessoas, desalojadas ou refugiadas.

Os casos de morte foram, na maior parte, provocados por arrastamento, principalmente de crianças, afogamento na travessia de rios, desabamento de casas, electrocussão, descargas eléctricas ou ataques de crocodilos, segundo informação das autoridades.

A chuva tem caído com intensidade nos últimos meses, mas a subida das águas nos últimos dias apanhou muita gente desprevenida. Até porque a precipitação diminuiu esta semana – as inundações devem-se ao aumento do caudal provocado pela queda de água a montante, na África do Sul e no Zimbabwe.

“Ninguém acreditava que isto pudesse acontecer”, disse, citado pela AFP, Sérgio Chauke, que deixou Chókwè apenas com os documentos de identificação. Os que puderam pegaram em carros e deixaram a cidade, “os que não tinham meio de transporte subiram para os telhados”, contou em Chiaquelane, a uns 30 quilómetros, local indicado pelo Instituto Nacional de Gestão de Calamidades para acolhimento de vítimas da região afectada, uns 200 quilómetros a norte de Maputo.

Muitos dos refugiados deixaram na quarta-feira as suas casas no distrito de Chókwè sem nada para se alimentarem – “comemos gafanhotos”, disse Alice Mabunda. A escassez de víveres, o calor e o aparecimento de mosquitos fazem crescer o receio de problemas sanitários e até de uma crise humanitária. A Cruz Vermelha é, segundo a agência noticiosa, a única organização no terreno. Organizações não-governamentais baseadas em Maputo prometeram o envio de alimentos.

Durante todo o dia de quinta-feira, os serviços de saúde transferiram de emergência doentes internados no Hospital Rural de Chókwè para Xai-Xai e para a vila de Macia, noticiou a Rádio Moçambique, que noticiou inundações em diferentes localidades do Centro e do Sul.

Em Xai-Xai, apesar da informação de que os níveis da bacia do Limpopo junto à fronteira com a África do Sul estabilizaram, com tendência a baixar, as autoridades admitiam que, devido à descarga das barragens dos países vizinhos, o rio possa alagar este sábado zonas ribeirinhas. O receio de inundações e de novas chuvas levou à retirada de pessoas e bens das áreas mais sensíveis.

A ministra da Administração Estatal, Carmelita Namashulua, fez na quinta-feira um reconhecimento aéreo das zonas mais afectadas e – segundo a imprensa moçambicana –  disse no Conselho Técnico de Gestão das Calamidades ter visto pessoas refugiadas em cima de árvores nos distritos de Chókwè e Guijá. O quadro foi confirmado pelo jornal O País, que traçava esta sexta-feira um cenário dramático na província de Gaza, com famílias empoleiradas em árvores e tectos de habitações. Uma responsável do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades explicou que essas situações se deviam à escassez de meios de resgate. Algumas zonas ficaram sem electricidade devido à queda de torres de distribuição.

O primeiro-ministro, Alberto Vaquina, lançou um apelo à “solidariedade interna” e o Presidente da República, Armando Guebuza, cancelou a participação na cimeira da União Africana que, no domingo e segunda-feira, se realiza em Adis Abeba, para acompanhar a situação. A Renamo (Resistência Nacional de Moçambique), principal partido da oposição, acusou o Governo de falta de estratégia e de estar a “hibernar” perante o sofrimento da população.
 
 

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