Vitória de Samotrácia, uma das peças-chave do Louvre, vai ser restaurada

Depois de um polémico restauro de uma pintura de Da Vinci, o museu francês dá luz verde a trabalhos sobre uma das suas mais icónicas peças.

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A escultura em mármore de Paros voltará a ser vista em 2014 DR

A Vitória de Samotrácia, escultura icónica e uma das peças mais reconhecidas do Museu do Louvre, em Paris, vai ser restaurada a partir de Setembro deste ano. A figura em mármore da deusa grega alada Nike, que saúda os visitantes do Louvre ao cimo de uma escadaria, não será a única peça a ser limpa e restaurada - as próprias escadas serão alvo de trabalhos. A estátua ficará longe da vista dos perto de dez milhões de visitantes do Louvre por cerca de seis meses, embora o processo dure um ano ou mais.

A representação da deusa mensageira da vitória será limpa, visto que com os anos ganhou um tom acastanhado, mas também reparada estruturalmente. Em causa estão então "alguns problemas de estrutura" da estátua, segundo disse à agência AFP Jean-Luc Martinez, director do departamento de Antiguidades gregas, etruscas e romanas do museu parisiense, que não foram solucionados por um outro restauro, que já remonta a 1934. "A base moderna em betão está ligeiramente fissurada", explicou ainda o responsável, garantindo que "não há perigo" para a peça, tendo os peritos também dúvidas sobre "uma pequena muleta na parte traseira que foi colocada no século XIX".

Quanto à limpeza, o objectivo é recuperar "o contraste entre o mármore branco de Paros da estátua e o mármore cinzento da sua base em forma de barco", precisa Jean-Luc Martinez. A estátua vai abandonar a sua localização-chave no Louvre para ser deslocada para uma sala próxima em Setembro deste ano, prevendo-se que regresse à escadaria na Primavera de 2014, embora a limpeza da zona circundante possa demorar até ao final de 2014 ou início de 2015, quando se agendará a reinauguração do conjunto.

A comissão de restauro do Museu do Louvre deu esta segunda-feira luz verde aos trabalhos sobre a peça, descoberta em 1863 nas ruínas do Santuário dos Grandes Deuses na ilha grega de Samotrácia, que terão a duração de mais de um ano e que devem custar perto de três milhões de euros - pagos por mecenato.

As entidades que vão contribuir para o restauro da escultura de 2,75 metros (a base mede perto de três metros) são a japonesa Nippon Television Holdings, a holding francesa de gestão de activos e crédito de risco Fimalac e o norte-americano Bank of America Merrill Lynch Art Conservation Programme. Os trabalhos sobre a peça grega do período helénico que representa a deusa da vitória, cuja feitura remonta a cerca de 190 antes de Cristo e que assenta numa base em forma de proa de navio, serão acompanhados por uma subcomissão de peritos internacionais.

No ano passado, o Louvre foi alvo de fortes críticas na sequência do restauro da pintura de Leonardo da Vinci A Virgem e o Menino com Santa Ana (c. 1508), que motivou a demissão de dois dos seus peritos em conservação e pintura, Ségolène Bergeon Langle e Jean-Pierre Cuzin, em protesto contra a limpeza extrema e os resultados radicalmente diferentes do original - das cores ao brilho, passando pelo tradicional sfumato utilizado por Leonardo que ficou irreconhecível.

O Louvre é uma constante no topo da lista dos museus mais visitados do mundo: em 2011 foi o mais visitado, com 8,9 milhões de pessoas nas suas salas e o número representou mesmo um crescimento de 5% em relação a 2010, segundo uma contagem anual do jornal The Art Newspaper. O próprio museu indicou no final de Dezembro que estima ter atingido o número recorde de dez milhões de visitantes em 2012, o dobro daqueles que visitaram o museu em 2001, muito graças ao boom do turismo chinês - mas também continuamente engrossado pelos americanos e pelos brasileiros - e em parte atribuído às novas galerias de arte islâmica, financiadas em parte pelo Governo francês e pelo príncipe saudita Bin Talal. Custaram cerca de 100 milhões de euros e terão atraído só em quatro meses 650 mil pessoas.

O anúncio do restauro da Vitória de Samotrácia surge poucas semanas depois do anúncio da saída, após 12 anos, do director do museu Henri Loyrette, que deve abandonar o cargo em Abril deixando ainda em construção o novo Louvre de Abu Dhabi desenhado pelo arquitecto Jean Nouvel (e um encaixe de 400 milhões de euros para o Louvre pelo licenciamento do uso do seu nome aos Emirados) e a extensão do museu em Lens, também em França (que custou 150 milhões de euros), recém-inaugurada.
 
 
 
 
 

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