Meios culturais gregos contestam fecho de Centro Nacional do Livro

Editores e livreiros receiam que o fim do organismo, anunciado pelo ministro da Cultura, possa já pôr em causa a realização da Feira Internacional do Livro de Salónica, agendada para Abril

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A decisão do governo grego de encerrar o Centro Nacional do Livro, um organismo tutelado pelo Ministério da Cultura que desempenhava há 19 anos a missão de incentivar a leitura no país e de promover o livro grego no estrangeiro, está a ser fortemente contestada nos meios culturais.

O ministro da Cultura, Costas Tzavras, que já demitira a direcção Centro Nacional do Livro (EKEBI, na sigla grega), explicou que este irá ser reabsorvido nos serviços do seu ministério, e uma fonte próxima do governante afirmou à AFP que as razões financeiras tinham pesado, mas que a decisão também se ficara a dever ao funcionamento “insatisfatório” do centro e ao desejo de “revalorizar a política do livro”.

O centro empregava 35 pessoas, a maior parte delas com contratos precários e vários meses de salários em atraso, e o seu orçamento para 2012 fora de 1,5 milhões de euros, mais de metade pagos por fundos europeus. Um preço que muitos consideram baixo para o serviço que prestava, quer no incentivo à leitura, sobretudo junto do público mais jovem, quer difundindo os autores gregos no estrangeiro, função essencial numa literatura escrita numa língua com pouquíssimos falantes fora da Grécia.

As justificações de Costas Tzavras não parecem ter convencido o sector. Está a correr uma petição de protesto - assinada por autores, editores, e académicos - e o partido de centro-esquerda Dimar, que integra a coligação governamental, também já se pronunciou contra o fecho do EKEBI. A sua ex-directora, Catherine Velissaris, lamentou, em declarações à AFP, aquilo a que chamou “um vasto movimento jacobino de recentralização de todas políticas nos serviços dos ministérios”.

Obrigado, por força dos compromissos assinados com a União Europeia e o FMI, a novos cortes no sector público, o governo de coligação liderado por Antonis Samaras, da Nova Democracia, propôs-se fechar ou fundir cerca de centena e meia de organismos. Mas, lembra com ironia o escritor Christos Homenidis, “decidiram manter a participação grega na Eurovisão”.

O escritor Petros Markaris, argumentista do cineasta Theo Angelopoulos e autor de uma bem-sucedida série de romances policiais, com tradução em vários países europeus, afirmou que “esta decisão é uma estupidez e emana da concepção de que em matéria cultural, só os monumentos contam, porque atarem os turistas”. Markaris defende que, pelo contrário, é “em períodos de crise que os organismos culturais são mais necessários”.

No sector do livro, receia-se que o fecho do EKEBI possa ameaçar o futuro imediato da Feira Internacional do Livro de Salónica, cuja próxima edição deveria decorrer em Abril, e que os serviços ministeriais que agora se encarregarão da política do livro possam não ter a agilidade necessária para propor projectos  que assegurem os financiamentos europeus disponíveis.

Os três anos de austeridade que a Grécia já sofreu provocaram uma quebra de venda de quase 40 por cento no sector livreiro, informou Catherine Velissaris, acrescentando que “toda a cadeia [das editoras às livrarias] está asfixiada pela falta de liquidez e pela dificuldade de recorrer ao crédito”.

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