Diagonais, frágeis promessas de amor

Cátia Terrinca, Francisco Sousa e Ricardo Boléo prometem (e cumprem) com a peça Diagonais, no Teatro Rápido, questionar o espaço entre os actores e o público

Sónia Salvador
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Umas sapatilhas de pontas suspensas por uma corda. Velas acesas espalhadas pelo chão. Uma fotografia projectada na parede. Dois actores em diagonal. Promessas levadas pelo vento. Palavras dançadas com os pés do acaso.

Eis o cenário minimalista que nos é apresentado na sala 4 do Teatro Rápido, que estreia o ano sob o tema Promessas.

Cátia Terrinca, Francisco Sousa e Ricardo Boléo prometem (e cumprem) com a peça "Diagonais" questionar o espaço entre os actores e o público.

O texto é denso, transversal e incita à vulnerabilidade do tema. Promessas de amor feitas há doze anos, tempo suficiente para que ela aprenda a dançar, pouco para que nele se desvaneça a esperança do seu regresso. Como diagonais, as linhas da vida destas personagens desenham-se lado a lado, sem nunca se encontrarem.

Ele conta delirantemente todo o tempo de espera: “12 anos, foram 12 anos. Cada ano dura 365 dias, 5 horas, 49 minutos e 12 segundos. 12, foram 12 anos. 4380 dias, 60 horas, 588 minutos e 144 segundos. Mais 6 horas que sobram todos os anos, 72 horas para o dia a mais nos anos bissextos. Contei cada dia. Tu não voltaste.”

Ela prometeu que voltava e que aprendia a dançar e ele prometeu esperar. Ela regressa agora para cumprir a promessa, mas ele sente-se enganado, incapaz de a acompanhar na dança da vida.

Brilhantes as interpretações de Cátia Terrinca e Francisco Sousa. Ela, assertiva nos movimentos e no domínio da linguagem corporal, a fazerem lembrar, aqui e ali, as coreografias de Bausch; ele, a cumprir muito bem o papel de “Prometeu” inconformado. Destaque ainda para o notório trabalho laboratorial entre o dramaturgista Ricardo Boléo e os actores, do qual resulta um aproveitamento geometricamente bem pensado e conseguido do espaço. É notório ainda o domínio do texto e da acústica desta sala que se quer fria, mas acolhedora.

As sapatilhas de pontas continuam suspensas no ar no final da peça e as promessas por cumprir. Os corpos continuam à procura das suas diagonais e as personagens não chegam a dançar.

Dificilmente a sensação de “vazio”, solidão e incompreensão das linhas sinuosas pelas quais se cose o amor não assaltarão o público que abandona a sala 4 do Teatro Rápido, bem como a promessa de fazer cumprir a vontade de lá voltar.

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