Arquitectura portuguesa na China: a hora do reconhecimento

“A escola de arquitectura portuguesa é associada ao rigor e a ideias inovadoras de design”, diz Nuno Batista, representante do único ateliê português de arquitectura em Pequim

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A obra de Souto de Moura abriu portas também na China Nacho Doce/Reuters

O arquitecto português Nuno Lobo, formado no Porto, trabalha há cerca de seis anos em Pequim, sempre em ateliês chineses, mas, no seu ofício, nunca deixou de se cruzar com Portugal. “Em todos os escritórios onde trabalhei, e já vou no quarto, havia sempre livros sobre Souto de Moura e Siza Vieira”, contou Nuno Lobo à agência Lusa.

“Há um reconhecimento da arquitectura portuguesa, sobretudo depois da atribuição do Prémio Pritzker a Souto de Moura (em 2011)”, e que coincide com um grande ‘boom’ da arquitectura chinesa”, acrescentou. Em 2012, pela primeira vez, o Pritzker foi atribuído a um arquitecto chinês, Wang Shu, um assumido admirador de Siza Vieira, que dez anos antes também recebeu o chamado “Nobel da Arquitectura”.

Nuno Batista, director do ateliê Saraiva & Associados em Pequim, considera que “ser formado em Portugal começa a ser um bom cartão-de-visita”. “A escola de arquitectura portuguesa é associada ao rigor e a ideias inovadoras de design”, diz o representante do único ateliê português de arquitectura aberto na capital chinesa, na Primavera de 2011. Devido à crise económica na zona euro, o número de arquitectos portugueses a trabalhar na China está, aliás, a aumentar. Só em Shenzhen, uma próspera Zona Económica Especial, adjacente a Hong Kong, “há um ateliê com dez arquitectos portugueses”, referiu Nuno Batista.

Cinco vezes mais rápido

Para Sofia Castelo, representante do ateliê de arquitectura paisagista Proap em Xangai, o desenvolvimento da China é “uma oportunidade única”. Segunda economia do mundo, que continua a crescer acima dos 7%, a China está num acelerado processo de urbanização, prevendo-se que durante a próxima década mais de dez milhões de rurais afluam anualmente às cidades. “A velocidade, aqui, é cinco vezes mais rápida do que na Europa”, constatou Filipa Castelão, uma arquitecta de 26 anos contratada em 2011 para o escritório de Pequim do grupo britânico Spark.

O Proap, responsável pelo Parque do Rio Trancão e Tejo em Lisboa, assinou no passado fim de semana em Ningbo, leste da China, um acordo de parceira com um grande grupo chinês de viveiros de árvores e construtor de jardins, o Tengtou. “A arquitectura portuguesa tem um enorme prestígio. Uma das mais conhecidas escolas de arquitetura do mundo, a Academia de Mendrísio, na Suíça, tem quatro professores portugueses”, realçou o director do Proap, João Nunes.

O Governo português anunciou na semana passada que 2013 será o “Ano da Arquitectura Portuguesa”, com acções de divulgação em dez países (Alemanha, Argentina, Brasil, Espanha, Guiné-Bissau, Irlanda, Marrocos, Moçambique, Reino Unido e Sérvia). “A arquitectura é um dos grandes activos contemporâneos portugueses”, disse o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier.

Chen Yuanzheng, director da revista Casa International, que se publica há uma década em Pequim, tem uma visão idêntica. “Não há dúvida que ‘Desenhado em Portugal’ significa ‘Desenhado com Qualidade’”, escreveu Chen Yuanzheng na edição de Dezembro da revista - uma edição de 208 páginas, em chinês e inglês, toda dedicada à arquitetura portuguesa e organizada por Emanuel Barbosa, professor de design do Porto.

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