Jodie Foster faz o seu "coming out"

Actriz de O Silêncio dos Inocentes assume homossexualidade e homenageia a sua ex-companheira Cidney Bernard na cerimónia dos Globos de Ouro, onde foi distinguida pela sua carreira.

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A actriz durante o discurso na cerimónia dos Globos de Ouro Reuters

Foi um dos momentos da noite dos Globos de Ouro. Não porque tenha sido propriamente uma revelação, mas porque foi visto, e recebido, uma vez mais, como a afirmação da diferença, da firmeza e da coragem de Jodie Foster, reconhecidamente uma das grandes damas do cinema americano.

A actriz de 50 anos, com uma carreira quase tão longa como a sua vida, e que foi verdadeiramente revelada no mítico Táxi Driver (Martin Scorsese, 1976), subiu ao palco do Hotel Beverly Hilton, depois de apresentada pelo seu amigo Robert Downey Jr., para receber o Prémio Cecil B. DeMille, precisamente a celebrar a sua carreira.

No longo discurso de agradecimento, no seu vestido azul marinho desenhado por Giorgio Armani, Jodie Foster pôs a plateia em suspenso. “Creio ter a necessidade urgente de dizer alguma coisa, que até agora não fui capaz de dizer em público, e que me põe um pouco nervosa – mas não tão nervosa quanto a minha agente”, gracejou a actriz, para acrescentar, “com firmeza e orgulho”: “Estou de novo solteira!... Estou a brincar, ou talvez nem tanto.”

A actriz de O Silêncio dos Inocentes utilizou, depois, a expressão “coming out” (“sair do armário”) para falar da sua homossexualidade, algo que, no entanto, já tinha assumido “há mil anos, na Idade da Pedra”, como referiu.

De facto, foi há pouco mais de cinco anos, na cerimónia de entrega de uns discretos Prémios para as Mulheres do Entretenimento da revista Hollywood Reporter (ver suplemento P2, de 16 de Dezembro de 2007), que Jodie Foster falou publicamente, pela primeira vez, da sua vida “com a linda” Cydney Bernard, a produtora cinematográfica que conhecera aquando da rodagem do filme Sommersby, o Regresso de um Estranho (Jon Amiel, 1993), e com quem passara a partilhar a sua vida, e a de uma família que posteriormente seria aumentada com os dois filhos biológicos da actriz, Charles e Kit – que estavam neste domingo na cerimónia dos Globos de Ouro.

Nesse Dezembro de 2007, a declaração de Jodie Foster – que, no entanto, não foi muito mais longe no assunto, resguardando-se, como é seu hábito, na reserva da sua privacidade – foi vista como uma grande conquista para as organizações americanas de defesa dos direitos dos homossexuais. Algo verdadeiramente importante numa Hollywood que, a despeito da sua apregoada liberalidade, acaba por discriminar os membros que assumam a homossexualidade. “Um actor gay que revele a sua sexualidade está quase a assinar uma sentença de morte na sua carreira. É como ser comunista durante a época de McCarthy; é um terror permanente”, disse na altura a um jornal britânico a actriz (heterossexual) Eve Gordon. E o jornalista Michael Musto notava, num artigo na revista Out, que os actores normalmente escondiam as suas orientações sexuais, porque essa revelação iria ter consequência imediatas nas suas carreiras, onde poderiam passar a ser chamados apenas para representar personagens gay.

Isso não aconteceu, contudo, com Jodie Foster, cuja carreira e peso em Hollywood não saíram beliscados pela sua referência à relação com Cydney Bernard, que, no entanto, era já do domínio público.<_o3a_p>

Essa relação terminou em 2008, recordou segunda-feira a actriz, reafirmando, todavia, o “muito orgulho” que continua a ter na sua “família moderna”. “[E] não poderia, de modo nenhum, deixar de agradecer a um dos grande amores da minha vida, a minha heroína, ex-companheira e alma gémea, confessora, parceira de ski, conselheira... a minha amada companheira de 20 anos Cydney Bernard”, disse Jodie Foster, que de seguida criticou a falta de privacidade que actualmente afecta a vida dos actores e de todos os intervenientes no mundo do espectáculo.

“Hoje, aparentemente, dizem que as celebridades devem expor a sua vida privada numa conferência de imprensa, ou num reality show”. “Privacidade – um dia, no futuro, as pessoas vão olhar para trás e recordar como isso era bonito”, enfatizou a actriz.

Jodie Foster terminou a sua intervenção com nova declaração, que faria estender a comoção à plateia, desta vez dedicada à sua mãe, que sofre de demência. “Amo-te, amo-te, amo-te, e espero que, dizendo três vezes, isso vá entrar mágica e perfeitamente na tua alma.”

Jodie Foster acrescentou agora o Globo de Ouro de Carreira aos dois que já tinha conquistado pelo seu desempenho em Os Acusados (Jonathan Kaplan, 1988) e O Silêncio dos Inocentes (Jonathan Demme, 1991), filmes que lhe valeram também a conquista de dois Óscares.


 
 
 

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