Morar em Roterdão: a cidade de Erasmus aos olhos de Maria Mendes, uma cantora de 27 anos

Foi a voz que levou Maria Mendes até Roterdão. Tem no Jazz a sua paixão e a forma ideal para realizar os seus sonhos. Os entendidos dizem que é uma das vozes mais promissoras do Jazz mundial. Nós concordámos

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Maria Mendes nasceu no Porto e, por volta dos três anos de idade, já sabia que queria ser cantora ,Maria Mendes nasceu no Porto e, por volta dos três anos de idade, já sabia que queria ser cantora DR,DR

Há pessoas que vamos conhecendo ao longo da vida. Uns por acaso e outros porque tínhamos mesmo que conhecer. Destino? Talvez. O importante é que essa coisa da coincidência me levou até a Maria Mendes há um par de meses. Em comum temos a paixão pela música, ela como intérprete e eu como apreciador e, talvez por isso mesmo, o contato esteja a ser tão agradável. Como tal não podia deixar escapar a oportunidade de escrever sobre a sua experiência até porque, nos próximos meses e fruto da sua digressão mundial, esse contato será pontual. 

A Maria Mendes nasceu no Porto e, por volta dos três anos de idade, já sabia que queria ser cantora. Na altura era a ópera que a encantava mas, com o tempo, foi-se apaixonando pelo Jazz, muito graças à influência do pai e da irmã mais velha. Estudou canto e piano, teve aulas privadas e passou por academias e conservatórios. Estudou Jazz na ESMAE e fez mestrado em Jazz Performance na CODARTS.

Atualmente é professora de canto mas, acima de tudo, cantora profissional. E com um futuro risonho à sua frente. Não só pelos vários prémios que foi acumulando mas também pelo excelente álbum que lançou recentemente, “Along the Road”. Músicos como Quincy Jones ou a cantora Sheila Jordan não têm dúvidas quanto ao seu talento. E a digressão mundial que vai iniciar em Fevereiro, com concertos na Europa, América do Sul e Norte e Ásia, são prova do sucesso que está a ter. Podem consultar toda a informação na página web da Maria Mendes.

E o seu percurso de ascensão profissional, ao longo dos últimos 6 anos, parece estar associado a uma cidade em particular: Roterdão.

Uma cidade jovem e cultural

Roterdão é uma das mais interessantes cidades europeias. Tem o maior porto do velho continente. É a cidade natal de Erasmus mas também de Rem Koolhaas, o arquiteto responsável pela Casa da Música no Porto (Roterdão foi, em 2001 e em parceria com o Porto, Capital Europeia da Cultura). Uma cidade que, “num primeiro olhar, não é a cidade mais cativante e bonita que esperas encontrar ao idealizares uma cidade holandesa”, salienta Maria Mendes mas que, com o tempo, se transforma “numa cidade de descobertas em locais, distritos e bairros certos e idênticos com a pessoa que és e com a forma e gosto de vida que levas e queres levar”, refere.

Parece ser uma cidade que se aprende a gostar, bastante multicultural e cheia de uma energia jovial: “é a cidade do empreendedorismo artístico e jovem. Tem grandes escritórios de arquitetura, artistas plásticos e galerias de arte com grande força e que trazem muita vida e atividade. É uma cidade nova, jovem e com uma arquitetura futurista”, descreve.

E é a mistura entre arte e arquitetura que mais parecem agradar Maria Mendes. Em particular o distrito de Wilhelminapeer, a sul da cidade, “que é uma montra real de edifícios desenvolvidos pelos melhores arquitetos do mundo e que incluem galerias de arte moderna, museus e teatros, como o LantarenVenster, do nosso Álvaro Siza Vieira”, adianta. Menos agradável parece ser o cheiro a fritos que muitas vezes se “encontra ao virar da esquina. É um mal não só de Roterdão mas da inteira Benelux por causa das famosas Friet/Frites” (batatas fritas caseiras vendidas em roulotes e com escolhas variadas de molhos), confessa. Isso, o “Inverno pouco ameno e a falta de luminosidade”, realça.

Pequenos detalhes no meio de tanta coisa positiva, já que também a nível social tudo lhe parece correr de feição. Encontrou uma cara-metade e tem um grupo de amigos - onde se incluem portugueses, alemães, italianos e, claro, holandeses - que a fazem sentir perto de casa graças à insistência de alguns em falarem português, mesmo que com sotaque brasileiro.

A sociedade holandesa… De acordo com Maria Mendes tem “um pensamento cívico sério. Há um respeito pelas regras pois há uma credibilidade no Governo. Mas uma sociedade que, por causa de seguir as regras, é muito inflexível não sabendo como reagir ao imprevisto e à improvisação momentânea que tanto caracteriza os portugueses”. É caso para dizer que todos os povos, de uma forma ou outra, têm um lado positivo e outro negativo. Não se pode ter tudo.

Sobre o futuro, e apesar de adorar o seu “querido Portugal”, os planos passam por continuar na Holanda. Até porque, de momento, “a minha carreira aponta para uma vivência internacional”, esclarece. Para nós basta olhar para a sua agenda que percebemos logo os seus motivos. E nesta nova etapa da sua vida temos a certeza que não sentirá muita falta da tal luminosidade que falava anteriormente. Terá, por certo, muitas luzes sobre ela.

Esta crónica é escrita ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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