De armazém a atelier-museu, a prenda que Pomar recebeu com doze anos de atraso

Foi apresentado à imprensa o Atelier-museu Júlio Pomar, onde a sua obra será exposta. O espaço abre ao público em Abril

Álvaro Siza com Júlio Pomar na apresentação do atelier-museu
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Álvaro Siza com Júlio Pomar na apresentação do atelier-museu Rui Gaudêncio
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Siza explica projecto a Pomar e ao arquitecto Manuel Salgado, vice-presidente da Câmara de Lisboa e vereador do urbanismo Rui Gaudêncio
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Atelier-museu era um antigo armazém abandonado Rui Gaudêncio
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Álvaro Siza projectou um segundo andar para exposição Rui Gaudêncio
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No final da apresentação a vereadora da Cultura da CML, Catarina Vaz Pinto, partiu o bolo e cantou-se os parabéns a Júlio Pomar Rui Gaudêncio

No dia em que completou 87 anos, Júlio Pomar recebeu finalmente a prenda que lhe estava prometida desde 2000 pela Câmara Municipal de Lisboa (CML), através do então presidente João Soares: um espaço para instalar um atelier-museu dedicado à sua obra. Depois de anos de complicações e burocracias, avanços e paragens, a obra de reconstrução do velho armazém na Rua do Vale, perto de São Bento, assinada pelo arquitecto Álvaro Siza, está concluída e abre portas já em Abril. Hoje foi por isso dia de se celebrar. “Finalmente está feito.”

Chama-se Rua do Vale mas podia bem ser a Rua Júlio Pomar. É uma rua estreita, com passeios apertados e de apenas um sentido. Típico bairro lisboeta, onde já é habitual ver o pintor. É aqui que vive e é aqui que trabalha, ou não fosse o atelier em sua casa. E agora é também aqui que a sua obra vai passar a estar exposta, no número 7 dessa rua, no Atelier-museu Júlio Pomar.

A longa fachada branca com várias janelas serve quase de caixa-forte do que o  interior guarda. Lá dentro, num espaço pensado e projectado por Álvaro Siza, estará todo o espólio do pintor pertencente à Fundação Júlio Pomar. Entre pinturas, desenhos, gravuras e esculturas, quase 400 obras. Já há exposições programadas e também colaborações institucionais, com museus e universidades, em curso. Em Abril vamos saber mais porque quinta-feira o dia foi de festa. Pomar faz anos e as obras acabaram.

“É um presente de amigos”, diz, não poupando elogios a Siza, arquitecto que escolheu para este projecto. “Este espaço parece-me magnífico, parece-me uma grande lição dada pelo Siza, que é o menos fantasista dos arquitectos que conheço, tudo o que ele faz é pensado e sentido”, acrescenta, lamentando no entanto as burocracias e problemas que a obra levantou ao longo do tempo e que levou a constantes adiamentos.

Desde que João Soares deliberou que o edifício seria para Júlio Pomar que mais três presidentes (Carmona Rodrigues, Santana Lopes e António Costa) passaram pela CML, tal foi a quantidade de avanços e recuos. O projecto inicial, que seria a criação de um atelier, foi abandonado à medida que os anos foram passando. Hoje, Pomar tem um museu. “Porque tem mais lógica”, diz. “O que não quer dizer que não faça os seus desenhitos, mas acredito que trabalhará muito melhor, no seu atelier mesmo aqui em frente e ao qual já está habituado”, conta Siza, explicando que o pintor em nada interferiu na projecção da obra. Se alguma influencia existiu na idealização do espaço foi a amizade entre os dois, que “deu um ar de felicidade ao interior”. “Isto assim como está é o que faz mais sentido”, garante o pintor, não escondendo a gratidão também perante António Costa, o actual presidente da Câmara.

“Porque é que uma ideia leva 12 anos a ser concretizada?”, questiona-se Costa, que entregou simbolicamente a chave do edifício a Pomar, que imediatamente fez questão de a passar a Sara Antónia Matos, a directora do Atelier-Museu. “Não é obvio que um barracão que estava abandonado devia ser transformado em algo como aquilo que temos aqui hoje? Não é óbvio que é um privilégio para Lisboa ter no seu território uma obra de Siza? Não é óbvio que Júlio Pomar é um artista extraordinário?”, continua o presidente, queixando-se da regulamentação “muito pesada e que complica muito”. Por tudo isto, a obra, paga na sua totalidade pela Câmara, ficou em cerca de 900 mil euros, valor que podia ter sido mais baixo se se tivesse levado menos tempo, explica Costa.

Nas paredes para já está apenas um quadro, Praça do Comércio, de 2007. A escolha é simbólica, explica a directora. Além de ter sido a última doação à Fundação, apenas há dias, foi a mulher do pintor que ofereceu. “Agora é preciso que chegue Abril para o espaço ganhar vida.”

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