Viver entroikado, avance a revolução, querem roubar a Praça ao Porto

Os partidos com assento parlamentar, a Igreja Católica e os autarcas do Norte do país estão finalmente unidos.

 

Não pelo lançamento de um programa que combata a falta de emprego numa região que tem uma das mais altas taxas de desemprego do país. Não por um programa que corte a despesa supérflua das autarquias e que pudesse provar ao Governo que o combate à despesa do Estado pode ser uma das soluções para não aumentar impostos e cortar nos salários. Não ainda por um programa de acção social que permita dotar as associações de solidariedade social de mais meios para o combate à fome.

Não. A razão desta unidade na revolta chama-se Praça da Alegria. Bastou a administração da RTP anunciar que o programa da manhã do canal 1 deixaria de ser produzido no Porto para ser produzido em Lisboa para a ira logo sair às ruas.

Foi como se o Governo tivesse decidido que as tripas à moda do Porto se passariam a chamar tripas à moda de Massamá. Como se a Casa da Música fosse tirada da Boavista e transportada para Alcântara.

Realizou-se uma vigília “com muitas caras conhecidas”, como se costuma dizer em televisão. Houve revolta, emoção e lágrimas ao canto do olho. PSD, CDS-PP, PS, PCP e BE uniram-se nas críticas e até a Igreja Católica veio a jogo. E ao fim da produção da Praça da Alegria no Porto juntaram-se temas de igualíssima importância como os cortes na Casa da Música e as políticas portuárias e aeroportuárias do Governo.

O eurodeputado social-democrata Paulo Rangel acha que já há motivos para colocar o povo do Norte na rua numa espécie de “15 de Setembro regional”. “Seria retirar-nos totalmente do mapa. Irei levantar a minha voz com violência caso algo de errado aconteça", afirmou Luís Filipe Meneses, presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia. Rui Rio, presidente da Câmara do Porto, falou em medida “irracional” e D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, afirmou sentir "uma raiva muito grande".

Mas afinal o que é a Praça da Alegria? Segundo o seu site na Internet, a Praça é o programa “de todos os encontros, onde se cruzam amizades e gerações”. É o local onde “portugueses de todo o mundo partilham dicas e sugestões, conselhos úteis para o dia-a-dia”. É ainda uma “aposta em manhãs divertidas e informativas, com rubricas de saúde e moda, culinária e estética, sem esquecer os cuidados de jardinagem e a decoração da casa”.

Bem vistas as coisas, se calhar nada disto pode ser feito a partir de Lisboa, com menos custos, como assegura a administração, e mantendo a Praça como o programa mais lucrativo da RTP, como garante a subcomissão de trabalhadores da RTP Porto.

Se calhar, o fim da Praça a partir da Invicta seria mesmo retirar o Norte “totalmente do mapa”, de acordo com as palavras de Luís Filipe Meneses.

Avance pois a revolução. Avance pois o 15 de Setembro regional contra os sulistas elitistas e liberais que querem roubar a Praça da Alegria ao Porto.

E assim vai este Portugal entroikado no ano da graça de 2013, em que assuntos de relevante importância para o Norte e para o país não merecem a discussão e a unanimidade que a passagem da Praça da Alegria do Porto para Lisboa merece.
 
 

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