Onde vamos em 2013?

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Talvez 2013 seja o ano ideal para visitar o Rio de Janeiro: antes das grandes provas desportivas de 2014 (Campeonato do Mundo de futebol) e 2016 (Jogos Olímpicos) RUI GAUDÊNCIO

É verdade que a conjuntura não está muito propícia a grandes viagens. Mas quem sabe se não é 2013 o ano da viagem das nossas vidas? Agora que 2012 se prepara para a despedida, vêm aí 12 meses inteiros para preencher de projectos. Sugestões de viagens para o novo ano - a paragens longínquas ou pequenos saltos no continente. Para ir ou sonhar. Andreia Marques Pereira

Amesterdão, Holanda

É uma das cidades mais visitadas do mundo e todos sabemos porquê - a fama de Amesterdão é universal. São os canais e as coffee shops, é o Red Light District e as bicicletas, são os museus e as flores. Amesterdão é tudo isso, mais algumas coisas, e em 2013 estará particularmente em festa(s). É um vórtice de aniversários "redondos": cantam-se os parabéns ao anel de canais da cidade (que cumprem 400 anos), a Vincent van Gogh (160 anos) e ao seu museu (40 anos), à Orquestra Real Concertgebouw (125 anos). A juntar-se a estes, a reabertura do Rijksmuseum, depois de dez anos de remodelação, promete marcar a agenda com o "regresso" de Rembrandt, Vermeer e outros velhos mestres à sua casa, o maior museu holandês. Vai ser, portanto, um ano extraordinário na capital holandesa que, na verdade, nunca tem falta de eventos culturais e animação. Ou seja, teremos sempre o mercado de flores e o Vogelpark com os seus concertos e espectáculos de teatro, a feira da ladra e o Prinsengracht com as lojas e restaurantes mais trendy da cidade, a Casa de Anne Frank e a Sinagoga Portuguesa, Leidseplein e Rembrantsplein com a animação nocturna e a severa arquitectura seiscentista alinhada ao longo dos canais onde flutuam as casas-barco.

Cataratas Vitória, Zimbabwe/Zâmbia

A maior queda de água do mundo (1708 metros de extensão e 108 de altura) não é segredo para ninguém e desde que David Livingstone a avistou pela primeira vez, em 1855, o nome que lhe deu tem andado na boca de todos: Cataratas Vitória, a impor-se ao nome local Mosi-oa-Tunya ("fumo que troveja"). Na fronteira entre o Zimbabwe e a Zâmbia, protegidas por parques nacionais em ambos os países, as cataratas têm estado um pouco isoladas devido à instabilidade naquelas partes de África. Porém, 2013 pode marcar a reviravolta, uma vez que o turismo parece estar a regressar a estes países - a ajudar, com certeza, estará a realização da assembleia-geral da Organização Mundial do Turismo nas duas cidades que "dividem" a entrada para as cataratas: Victoria Falls (no Zimbabwe) e Livingstone (na Zâmbia). Para a receber, Victoria Falls está a ampliar o seu aeroporto e a assistir à construção de uma nova unidade hoteleira de luxo; em adição, Livingstone prepara-se para celebrar o bicentenário do nascimento do explorador escocês que lhe deu o nome. Será um ano agitado nestas paragens que vivem ao ritmo das águas e paisagens indomadas, territórios que são, naturalmente, palco de actividades de aventura. Rafting, canoagem, bungee jumping, zip line sobre as cataratas, safaris (incluindo no vizinho Botswana), entre outros, fazem desta zona um mundo de adrenalina.

Coreia do Sul

Tem um vizinho a norte mais mediático e é talvez por isso muitas vezes ignorada, mas a Coreia do Sul é mais do que a sua capital, Seul, e os seus dez milhões de habitantes; do que a tecnologia; e do que a zona desmilitarizada (DMZ) entre as duas Coreias que, apesar do nome, é provavelmente a zona mais militarizada do planeta. O ano passado, por exemplo, a sua maior ilha, Jeju, foi proclamada uma das Sete Novas Maravilhas da Natureza: um vulcão central que se ergue a 1950 metros, rodeado de 360 outros vulcões-satélites, compõem a face mais visível da ilha a sul da península, mas não a única. Além das suas grutas e formações rochosas de lava, há praias, cascatas, lagos, sítios históricos e aldeias típicas - tudo envolto por um passado místico que data da Pré-História e lhe vale o título de "ilha dos Deuses". E, voltando ao continente, a Coreia do Sul tem-se tornado uma meca para actividades ao ar livre, tudo enquadrado por uma cultura e história riquíssimas. Quem quiser recolhimento, os mosteiros budistas recebem visitantes; mas em 2013 a Coreia do Sul vai estar no radar dos amantes do desporto: recebe o Campeonato Mundial de Remo e os Jogos Asiáticos em Recinto Coberto e de Artes Marciais.

Córsega, França

Não é uma ilha qualquer, apesar de até ter sido vendida a França como se de mercadoria se tratasse. Daqui se fez história - e sem essa transacção tudo teria sido diferente: afinal, foi um ano depois do "negócio" que nasceu, na sua capital, Ajaccio, um cidadão francês, Napoleão Bonaparte, que revolucionou a Europa e o mundo. Parte de França, portanto, há quase 250 anos, com Itália no sangue, a Córsega tem pouco em comum com o continente, mas em 2013 vai aproximar-se um pouco mais. No ano em que o célebre Tour de France comemora cem anos, a partida será da Córsega, onde decorrerão as primeiras etapas, entre paisagens abismais de montanhas rugosas e praias com os pés no Mediterrâneo. São as praias a principal atracção da ilha, mais de 300 quilómetros delas, escondendo-se em baías ou exibindo-se em grandes areais dourados; mas as montanhas são também muito procuradas: nas primeiras, dominam as actividades aquáticas e os inevitáveis banhos (de sol e de mar); nas segundas, as caminhadas, das mais leves às mais desafiantes. Por todo o lado, aldeias pitorescas que parecem fazer parte da paisagem e cidades agradáveis, em suave bulício mediterrânico e orgulhosa identidade corsa.

Costa Rica

Já foi uma república das bananas - quando as bananas eram a principal fonte de rendimento do país -, porém, desde meados dos anos 1990, o turismo passou a ser a marca do país da América Central. Em 2009, a Costa Rica apareceu no primeiro lugar do Happy Planet Index (algo como Índice do Planeta Feliz), criado pela ONG ecológica britânica New Economics Foudation: este não determina as nações mais felizes do mundo, antes a capacidade de cada país proporcionar vidas longas, felizes e sustentáveis para os seus cidadãos. A subjectividade do nível de satisfação de cada um une-se a outras duas variáveis mais objectivas, a esperança média de vida e a pegada ecológica. Olhando para o país é irresistível fazer a ligação entre o nível de protecção ambiental e a "felicidade" do povo: um quarto do território é área natural protegida e o ecoturismo aqui é uma realidade. A capital, São José, situa-se no planalto central, o que faz dela um bom ponto de partida para explorar o país que brilha para além da sua cidade principal, sem grandes pontos relevantes. Entre praias que se estendem ao longo da costa do Pacífico e a costa das Caraíbas (a mais económica), com a combinação de areia, sol e mar, e parques naturais que pontuam todo o país com vegetação exuberante e fauna inesperada, e até vulcões activos visitáveis, os visitantes são brindados com actividades que vão desde as mais radicais, como o bungee jumping e rafting, ao puro relaxe do birdwatching ou snorkeling, por exemplo - o estatuto de meca do surf mantém-se intocável.

Derry/Londonderry, Reino Unido

É a primeira Cidade da Cultura britânica (um título criado para impulsionar a economia através do turismo e das indústrias criativas) e um exemplo do "reino unido": Derry/Londonderry, a segunda maior cidade da Irlanda do Norte, foi a escolhida para a inauguração do título. Para muitos é o melhor exemplo de uma cidade fortificada britânica, mas aqui o passado é um fardo que se tenta ultrapassar olhando o futuro: há 40 anos foi palco do tristemente célebre bloody sunday, que viu 13 participantes numa marcha pelos direitos civis serem mortos por militares britânicos; no ano que se avizinha, a arte, dança, teatro, cinema, música e o desporto são pretextos para a aproximação das duas culturas da cidade. Do programa anunciado destaca-se o Prémio Turner, o mais importante das artes visuais no Reino Unido, a acontecer pela primeira vez fora de Inglaterra; as estreias das novas produções da companhia teatral local Field Day, fundada pelo dramaturgo Brian Friel e pelo actor Stephen Rea, que vão voltar; e o All-Ireland Fleadh, o maior festival de música tradicional irlandesa que este ano vem aqui. Tudo pretextos adicionais para descobrir a cidade, entre as margens do rio Foyle e as muralhas do século XVII, testemunhas de uma história rica, por vezes sangrenta numa região de grande beleza natural.

Ilha Komodo, Indonésia

Tem o nome do seu habitante mais conhecido (e mais temido): komodo, o dragão cuja protecção levou à criação do Parque Nacional Komodo, na Indonésia - a ilha Komodo é uma das três que constituem o parque (as outras são Rinca e Padar) e foi considerada uma das sete novas maravilhas da natureza. De origem vulcânica, a ilha tem o rosto desolado e desértico da planície lunar, que se exalta em altos picos escarpados, e parece o habitat ideal para os répteis de aspecto quase pré-histórico que nela habitam. Convivem com uma comunidade de cerca de dois mil habitantes, que durante muitos anos os alimentava, como parte de uma tradição longínqua. Um movimento nos anos 1990 proibiu a sua alimentação, numa tentativa de estabelecer um ecossistema mais natural para os dragões. O avistamento destes animais é inevitável na ilha, que oferece mais fauna para observar, em terra e no mar (baleias e golfinhos são comuns). O mergulho e o snorkeling são actividades muito procuradas pelos turistas que vêm chegando cada vez em maior número à ilha e ao parque, porque as águas em redor, apesar de turbulentas, oferecem vista para um mundo subaquático feito de cores vibrantes, corais e espécies marinhas exóticas. As acomodações na ilha são sobretudo em acampamentos com cabanas - a condizer com a atmosfera de princípio do mundo.

Marselha/Košice, França/Eslováquia

É, na verdade, uma aliança um pouco improvável, esta de Marselha e Košice. Mas em 2013 há um elo forte a unir as duas cidades: são, a partir de 12 de Janeiro, as capitais europeias da cultura. Do sul de França ao leste da Eslováquia constroem-se, portanto, pontes culturais que prometem um ano preenchido de actividades por todas as disciplinas artísticas. Marselha será o farol cuja luz se vai estender pela Provença, de Arles a Aix-e-Provence e mais além, e o palco que receberá uma série de novos espaços culturais. A cidade mais antiga de França (2600 anos), aninhada entre o litoral e as montanhas, vai receber, entre outros, o novo Museu das Civilizações da Europa e do Mediterrâneo (junto do velho porto, cuja primeira fase de renovação ficará concluída em 2013), um novo Museu de História e do Velho Porto e o Centro Regional para o Mediterrâneo (CRM). Mais a norte, Košice vai gozar do estatuto de ser a primeira cidade eslovaca a conseguir o estatuto de capital Europeia da Cultura no ano em que o país cumpre 20 anos de independência. Na região dos Cárpatos, a cidade apresenta-se como testemunho do império austro-húngaro mesclado com a realidade pós-Guerra Fria e prepara-se também para aparecer de cara lavada. Por exemplo, a velha piscina interior municipal, herdada da Checoslováquia, vai ser transformada num moderno centro de artes e cultura multifuncional (Kunsthalle), mantendo a água como elemento estrutural; e as instalações de antigas casernas, bem perto do centro histórico da cidade, vão ser transformadas num quarteirão criativo. A cultura a liderar revoluções urbanas, em Marselha e Košice.

Nápoles, Itália

É um turbilhão italiano: história milenar, que vem dos gregos, passa pelos etruscos e brilha romana, monumentos abundantes, casa da pizza; trânsito de caos impossível para não iniciados, sujidade nas ruas, território mafioso por excelência. Nápoles não é cidade fácil, mas pode entranhar-se e este ano o mundo vai andar por lá: 101 dias, 101 cidades. O pretexto é o Fórum Universal das Culturas que, entre Abril e Julho, vai transformar a cidade na capital mundial das culturas sob o lema "A memória do futuro". Com centenas de milhões de euros investidos, a cidade vai ser palco de manifestações artísticas e culturais de todos os continentes, ao mesmo tempo que vai receber uma operação plástica, sobretudo na zona oeste, que receberá a Ágora do fórum. Sem perder o carácter e rugas que o tempo lhe deu e que se expressa entre ruelas estreitas ou grandes boulevards, oscilando entre quarteirões históricos e a moderna Praça do Plebiscito, os seus castelos e igrejas, a ópera, o funicular e o mercado que o é desde tempos romanos a abraçarem a baía de Nápoles. Fora da sua capital, a região da Campania oferece-se desde a Costa de Amalfi à ilha de Capri, do Monte Vesúvio às ruínas fantasmagóricas de Pompeia.

Palau

De 21 mil habitantes vive esta república-arquipélago que ocupa 494 quilómetros quadrados distribuídos por oito ilhas principais e mais de 250 ilhotas e atóis. País jovem - a independência foi declarada em 1994 -, num canto do Pacífico, a República do Palau é um segredo bem escondido. A sua remota localização, na Micronésia, a tal não será alheia - chegar lá é uma odisseia de continentes -, mas se calhar é ela que preserva paisagens intocadas, miragens entre a água e o céu do perfeito paraíso tropical, e um povo de simpatia transbordante, que se concentra sobretudo em Koror, a ilha mais populosa e antiga capital, entretanto transferida para Melekeok (em Babeldaob) e com pouco mais de 300 habitantes. Cada ilha é uma caixinha de surpresas: da mais cosmopolita Koror e da contrastante Babeldaob, que oscila entre montanhas vertiginosas e dunas de areia, abrindo-se em lagos de água doce, à ilha Peleliu, cemitério de relíquias de batalhas da II Guerra Mundial entre japoneses e norte-americanos, muitas maravilhas naturais se revelam. Florestas luxuriantes, quedas-de-água e grutas intocadas, areias brancas e uma das maiores concentrações mundiais de recifes de corais que são a coroa da glória de Palau. Esta natureza pristina é estimulada pelos habitantes, que apostam numa economia "verde" e na concretização de projectos de desenvolvimento sustentáveis.

Rio de Janeiro, Brasil

Nos próximos anos, se haverá cidade que andará na boca do mundo será o Rio de Janeiro. Afinal, a cidade maravilhosa, a cidade brasileira mais famosa no mundo, prepara-se para receber os maiores eventos desportivos do planeta: os jogos olímpicos de 2016 e antes, em 2014, o campeonato do mundo de futebol. Por isso, porque não ir antes e evitar as multidões e a previsível (maior) escalada de preços? A revolução urbana necessária para receber essas provas já começou e muitos projectos ficarão concluídos durante 2013. Assim, juntar-se-á o futuro e o passado da cidade que em 2012 a UNESCO distinguiu como Património Mundial, pelo cenário urbano que se esculpe entre as montanhas e o mar. O bordado indisciplinado que se tece em costa caprichosa é tutelado por uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo, o Cristo Redentor, no Corcovado, mas o Pão de Açúcar rivaliza nas vistas que oferece à entrada da baía de Guanabara. De chinelos no pé e areia perto, entre Ipanema, Copacabana, Leblon e Lagoa (Rodrigo de Freitas), do Parque Nacional da Tijuca ao Jardim Botânico, pelo centro da cidade entre testemunhos da colónia e do império e despiques modernistas, dos passos do samba e do desvario do funk, de coco na mão ou pé no "bondinho", da cultura formal à criatividade à solta - há mil rios de janeiros.

São Francisco, Estados Unidos

A sua aura criou-se nos anos 1960: São Francisco foi o berço do movimento hippie, onde todos usavam "flores no cabelo". Desde então, a cidade californiana tem gozado da fama, e do proveito, de ser uma das mais liberais dos Estados Unidos - não é à toa que entre os pontos incontornáveis estão o bairro Haight, onde sobrevivem reminisc? ?ncias da contra-cultura da década de 1960, e o bairro Castro, onde a cultura LGBT floresce. Cidade descontraída, conhecida pela sua vida cultural intensa (e, muitas vezes, informal), pelos seus restaurantes e pelos seus terramotos, estende-se em colinas, atravessadas por ruas inclinadas onde circulam eléctricos amarelos entre casario vitoriano de cores claras - é um dos seus postais, muitas vezes em contraste com o skyline. Outros postais inevitáveis são a ponte Golden Gate e a baía, onde, entre outras, se destacam a ilha-prisão Alcatraz. No próximo ano, mais do que habitualmente, São Francisco vai virar-se para o mar - e não só visto de Fisherman"s Wharf com os seus leões-marinhos; há novos projectos no waterfront. Afinal, não é sempre que se recebe a Taça América (America"s Cup), a mais importante regata internacional e o evento desportivo mais antigo do mundo (1852), que chega em Julho.

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