Shinzo Abe já tem Governo para "salvar o Japão"

Parlamento japonês já elegeu o novo primeiro-ministro, que promete relançar a economia e tornar o Japão um país "onde as pessoas possam sentir-se felizes".

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Shinzo Abe com alguns dos seus ministros Yoshikazu Tsuno/AFP

O Parlamento japonês nomeou Shinzo Abe primeiro-ministro – uma formalidade, depois de o seu Partido Liberal Democrata ter ganho as eleições de 16 de Dezembro. Apresentou-se como “o salvador do Japão” e revelou a composição do Governo com que quer lançar a recuperação do país, que vai na quarta recessão desde 2000.

Durante a campanha eleitoral, Abe, de 58 anos, apostou em estimular o orgulho nacional. Filho de um ministro dos Negócios Estrangeiros e neto de um primeiro-ministro, já foi também primeiro-ministro, durante um curto mas agitado ano (2006-2007) – foi assolado por escândalos e indignação pública por ter de reconhecer que os registos das pensões de cerca de 50 milhões de pessoas se tinham perdido. Construiu a sua reputação à custa da firmeza face à Coreia do Norte e jura que não se dobrará perante a China, face à disputa territorial devido às ilhas Senkaku, mas reivindicadas por Pequim, que lhes chama Diaoyu.

No entanto, Abe garante que a travessia do deserto na oposição lhe permitiu aprender com os erros e agora tem um novo lema: “Construir um Japão forte, próspero, onde as pessoas poderão sentir-se felizes por serem japonesas.” A fórmula completa do seu programa é “reconstrução + relançamento económico + reforma da educação + ajustamento da diplomacia + regresso da segurança = novo Japão”, relata a AFP.

Mais do que ganhar a confiança dos japoneses com esta filosofia, Abe venceu umas eleições com 40% de abstenção – o valor mais alto desde o fim da Segunda Guerra. Os japoneses sancionaram, sobretudo, a governação de centro-esquerda cessante, que não produziu governos estáveis, nota a AFP.

Para tentar conquistar a confiança dos seus compatriotas e pôr de pé o seu programa, Abe rodeou-se de uma equipa de aliados e alguns rivais partidários, todos com uma visão bem à direita. O Governo “é todo bastante à direita e são pessoas muito próximas de Abe”, comentou à Reuters o professor da Universidade Sophia em Tóquio, Koichi Nakano. “Não tem frescura alguma.”

A economia deve ser a prioridade de Abe para tentar conquistar os eleitores, mais do que resolver as disputas territoriais – embora estas estejam a afectar, e muito, a balança comercial do Japão com o seu principal parceiro económico, a China, e azedem também as relações com outro importante parceiro regional, a Coreia do Sul.

Dívida pública de 240%

O Japão está esmagado por uma dívida pública de cerca de 240%. Isto é duas vezes a da Grécia, em percentagem. O país está em recessão pela quarta vez desde o ano 2000, vítima de uma conjuntura internacional desfavorável e também por ter uma moeda nacional demasiado forte, e Abe tem uma série de ideias radicais. Ameaçou o governador do Banco do Japão de ser ele a rever a lei que garante a independência da instituição se o banco mantiver a recusa em fixar um objectivo de 2% para a inflação, em vez do actual 1%.

O iene desceu cerca de 9,8% contra o dólar desde que Abe foi eleito líder do Partido Democrata Liberal, no fim de Setembro, e esta quarta-feira chegou ao nível mais baixo dos últimos 20 meses, porque os mercados esperam um forte alívio da política monetária.

Para o Ministério das Finanças, Abe escolheu um outro ex-primeiro-ministro: Taro Aso, de 72 anos, conhecido pelas derrapagens verbais, é fã de manga e neto de um primeiro-ministro dos tempos da II Grande Guerra. Conduziu o seu partido a uma grande derrota nas eleições de 2009, e é conhecido por ter lançado quatro planos de estímulo económico em dez meses – que representavam 5% do Produto Interno Bruto japonês –, durante o período da crise financeira gerada pela queda do mercado imobiliário nos EUA.  

Um apoiante leal de Abe, Toshimitsu Motegi, fica com a pasta do Comércio – que ganha particular importância, pois fica encarregado de formular a política energética do país após o desastre nuclear de Fukushima, em 2011, que se seguiu ao sismo e tsunami. Um rival do primeiro-ministro na disputa da liderança do partido, Nobuteru Ishihara, ficará à frente do Ministério do Ambiente e da Segurança Nuclear.

Sobre os seus ombros pesa a tarefa de convencer os japoneses a aceitar que voltem a funcionar os reactores nucleares para produzir energia – a maioria da população passou a ser contra esta forma de energia após o desastre de Fukushima, mas o país enfrenta grandes dificuldades para garantir o fornecimento de electricidade sem os reactores a funcionar. Abe seria favorável a reverter a promessa feita pelos governos do Partido Democrata do Japão de abandonar a energia nuclear.

Para as pastas dos Exteriores e Defesa, Abe não escolheu figuras de grande relevo, o que faz pensar que deseja ter ele próprio um papel preponderante. Para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Shinzo Abe escolheu Fumio Kishida, um especialista na presença do Exército norte-americano na ilha de Okinawa e nas ilhas Kurilhas, administradas pela Rússia mas reivindicadas pelo Japão.

Para a Defesa, Itsuri Onodera, um diplomata com experiência, mas uma figura de segunda linha. Esta pasta é um dos cavalos de batalha do primeiro-ministro, que quer rebaptizar as actuais Forças de Autodefesa do Japão, para lhes chamar Exército de Defesa Nacional, aproximando-as, pelo menos no nome, de um verdadeiro exército – algo vedado constitucionalmente ao Japão após a Segunda Guerra.
 
 
 

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