Kickstarter: muitos apoiantes, mais atrasos nas recompensas

No site de "crowdfunding" Kickstarter, alguns autores de projectos não têm mãos a medir com as recompensas. Culpa do excesso de apoios. Plataformas portuguesas dizem não ter o mesmo problema

Uma investigação da CNN concluiu que entre os 50 projectos que mais dinheiro receberam no Kickstarter, e cujas datas de entrega não iam para além de Novembro, apenas oito cumpriram os prazos de entrega das recompensas. Vinte seis enviaram-nas com um atraso médio de dois meses, enquanto que os restantes 16 não tinham ainda enviado as recompensas. 

 

Sendo um site de "crowdfunding", ou seja, de financiamento colectivo, cada projecto inscrito no Kickstarter define, à partida, qual o montante necessário para a sua concretização, designando ainda um prazo para receber os apoios. Uma vez atingido o objectivo, os "mecenas" recebem recompensas. É neste capítulo que foram encontrados problemas.

 

As declarações dos vários autores de projectos auscultados pela CNN permitem detectar um padrão: o excedente no financiamento obriga a redimensionar a produção. Um dos exemplos citados é o projecto Oculus Rift, que propõe a criação de óculos de realidade virtual. O autor, Brendan Iribe, planeava fabricar algumas centenas. No final do período de angariação de fundos, tinha de entregar 7500 unidades.

 

“Nas primeiras 24 horas, toda a gente está contente. Nas 48 horas seguintes, apercebemo-nos da realidade e sentimos algum medo: vamos mesmo ter de fabricar todas aquelas unidades”, afirmou, à CNN.

 

A Capela Sistina também demorou

Yancey Strickler, um dos fundadores do Kickstarter, considera que a concretização dos projectos tem os seus obstáculos e, por isso, as pessoas devem encarar este site de “crowdfunding” como “algo novo”, totalmente diferente de uma loja ou de um supermercado.

 

O foco da atenção deve incidir, assim, na inovação, mais do que nos prazos. “Quando vamos ao cinema, não pensamos no tempo que terá demorado a pós-produção. Não olhamos para a Capela Sistina e pensamos no tempo que demorou a ser construída”, afirma.

 

Yancey Strickler acrescenta, no entanto, que a companhia está atenta ao não cumprimento dos prazos de entrega e que o assunto é algo que deve ser discutido.

 

"Crowdfunding” em Portugal

Gabriela Marques, do Massivemov, e Pedro Domingos, do PPL, analisam a questão de formas semelhantes, garantindo que a dimensão reduzida do mercado português e o acompanhamento que as suas equipas dão aos projectos são dois factores que garantem o cumprimento dos prazos. Até as percentagens máximas de financiamento, em ambas plataformas, revelam sintonia, situando-se na casa dos 200 por cento.

 

A co-fundadora do Massivemov considera que os financiadores “devem compreender que estão a ajudar a criar algo novo e que existem obstáculos associados a essa tarefa”, mas assinala a importância de uma comunicação eficiente e de um respeito dos prazos, por parte dos empreendedores, para que não se quebre a confiança.

 

Pedro Domingos, do PPL, concorda com esta ideia. “Se houver o cuidado de informar os financiadores, estes poderão compreender o motivos de eventuais atrasos e, inclusivamente, ajudar na resolução dos problemas”, afirma, ao P3. Ainda assim o empresário garante que existe a possibilidade de o PPL vir a ter um contador que limite o número de recompensas.

 

As duas plataformas estiveram, recentemente, na Assembleia da República, para discutirem a criação de legislação para esta área de negócio. “É importante garantir a confiança do público no ‘crowdfunding’”, garante Pedro Domingos.

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